A conquista de direitos pelas mulheres ao longo dos anos no mundo e o trabalho de Heloísa Saliba e Borges no município tiveram destaque em cerimônia de formatura do curso PLP (promotoras legais populares).
O evento, realizado no auditório da Fatec (Faculdade de Tecnologia) “Professor Wilson Roberto Ribeiro de Camargo”, reuniu formandas, familiares e autoridades.
Ele marcou a colação de grau de novas promotoras, que frequentaram a quarta turma, denominada de “Antonieta de Barros”. Trata-se de uma jornalista catarinense considerada pioneira no combate à discriminação dos negros e das mulheres.
Neste ano, a turma teve como paraninfa a advogada Ellen Caroline de Sá Camargo Almeida de Souza. Ela faz parte da lista de “palestrantes fixos” do curso voltado a mulheres. Além dela, contribuem com a iniciativa o advogado Márcio Adriano de Camargo e o juiz de direito Marcelo Nalesso Salmaso.
Eles compuseram mesa de autoridades com Neia Mira, do Instituto Plenu, de Sorocaba, o presidente da Câmara Municipal, Luís Donizetti Vaz Júnior, e o diretor do Departamento Municipal de Trabalho, Luiz Antônio Voss Campos.
Este último, representou a prefeita Maria José Vieira de Camargo, que não pôde comparecer por conta de uma reunião com membros do Exército.
Receberam diplomas pela conclusão do curso: Diva Soares, Fabiana Paes de Oliveira, Fernanda Jesus Ramos, Janaina Nunes Ribeiro da Ponta, Cátia Elisa Silveira, Márcia Patrícia da Silva, Maria Júlia de Fátima Cardoso Vieira e Renata da Conceição de Barros.
Em pronunciamento, a representante do Plenu ressaltou o papel do instituto na disseminação da iniciativa, que acontece em diversos municípios da região de Sorocaba.
Também destacou o trabalho de Heloísa, coordenadora do PLP na cidade. “Em cada cidade, sempre temos um anjo que abraça o projeto. Em Tatuí, nós temos a Heloísa Borges como grande apoiadora”, afirmou Neia.
Promotora legal popular desde 2008, Neia declarou ser preciso engajamento das novas promotoras para que as mulheres possam garantir espaços que “correm o risco de perder”.
Mencionando as conquistas, o juiz citou o empenho da coordenadora na realização do curso. Salmaso fez reflexões sobre a violência em um contexto geral.
Falou, principalmente, da violência nas relações entre as pessoas, o que fomenta a intolerância “por conta do próprio mecanismo que faz girar a sociedade”.
“As pessoas não buscam entender, mas atacar. E a violência é que dá o tom da sociedade. Mas, isso não acontece à toa. Nosso sistema está alicerçado em quatro valores e desvalores que fazem as pessoas se sobreporem umas às outras”, vaticinou.
Conforme ele, a sociedade está alicerçada em individualismo, utilitarismo, consumismo e exclusão, “fazendo brancos se sobreporem a negros, homens a mulheres e ricos a pobres”. Por sua vez, a compreensão daria equilíbrio a essa estrutura.
Salmaso comentou que a desigualdade gera descontentamentos. Este sentimento pode, quando a classe subjulgada alcança determinados objetivos, detonar uma onda de intolerância, que, por sua vez, incita a violência.
“Vivemos um momento ímpar da nossa história social. As pessoas que estiveram sempre embaixo estão buscando ter voz, se colocar em posição de igualdade. É exatamente o que acontece com as mulheres. Depois de séculos subjulgadas aos homens, elas conquistam cada vez mais seu espaço”, observou.
O magistrado citou avanços na área da família, no trabalho e no próprio convívio social. Disse que um dos “termômetros” da mudança que apontam redução da desigualdade são os registros de violência contra a mulher.
“No meu ponto de vista, isso não significa que a violência está aumentando, significa que as mulheres estão se ‘empoderando’ a ponto de terem coragem de colocar para fora suas vozes, suas angústias, a fim de que providências sejam tomadas”.
De acordo com o juiz, na mesma proporção, os avanços trazem descontentamentos para quem domina. “É comum que venham movimentos violentos para, cada vez mais, calar. Todo sentimento de ódio que vimos é um sintoma de que o sistema está se movimentando para sobreviver”, declarou.
Em função disso, Salmaso pediu que as mulheres – quando confrontadas por causa do avanço das conquistas – busquem responder à afronta com ações de paz. Mencionando o educador e filósofo brasileiro Paulo Freire, o juiz disse que a revolução não é oprimir, mas buscar caminhos para a igualdade.
Vaz Júnior também ressaltou o trabalho desenvolvido por Heloísa. Ele afirmou que a iniciativa tem reconhecimento da sociedade e lembrou-se de uma intervenção feita pelas alunas da terceira turma na Câmara Municipal.
Em dezembro de 2015, um grupo de 14 mulheres compareceu a uma sessão da Casa de Leis pedindo a criação de comissão para estudar os casos de agressões contra as mulheres na cidade. As manifestantes entraram com maquiagens que simulavam marcas e machucados de violência doméstica.
O intuito do projeto é formular políticas públicas para proteger os direitos das mulheres. A proposta foi apresentada à presidência e ainda está sob análise. “Sabíamos que era uma encenação, mas que também se trata de uma realidade no Brasil”, afirmou.
O vereador citou estatísticas de violência contra as mulheres registradas no mundo. Disse que elas continuam sendo vítimas de intolerância e preconceito, e comentou sobre um trecho bíblico que trata de tolerância.
Parabenizando as formandas, Voss Campos elogiou a ação realizada no município por Heloísa. Afirmou, ainda, que o trabalho terá colaboração da Prefeitura e pediu engajamento de todas as mulheres para a campanha “Abrace Tatuí”, lançada na terça, 24, pelo Fusstat (Fundo Social de Solidariedade de Tatuí).
Os advogados palestrantes também dirigiram palavras às promotoras. Camargo disse que o movimento na cidade está fortalecido por receber o apoio do poder público e da Justiça. Afirmou, ainda, que as promotoras têm um novo desafio, que é dar continuidade e propagar a iniciativa.
Já Ellen abordou a trajetória de vida de Antonieta de Barros, citada como exemplo, por superar os desafios de ser pobre e negra. A advogada mencionou que as formandas devem fazer como a patrona da turma e buscar cada vez mais o acesso a direitos básicos. Nesse sentido, declarou que o curso é extremamente importante.
A formatura contou com pronunciamentos de uma das promotoras e da coordenadora. Janaina falou sobre a criação do curso e a fundamentação dele. Discorreu, ainda, sobre as conquistas registradas pelas mulheres ao longo dos anos.
Heloísa pediu comprometimento às formandas e prestou homenagem aos convidados, colaboradores e às autoridades que compuseram a mesa.
Simbolizando a luta das mulheres, Heloísa pintou o rosto de todas as promotoras e, em seguida, foi abraçada pelo grupo, que lhe entregou uma “colcha de retalhos”. O evento terminou com apresentação do Coral Antonieta de Barros.







