Hospital celebra primeira ‘adoção’ de contrato a partir de colaboração





Deste mês até agosto do ano que vem, a Santa Casa de Misericórdia terá um gasto a menos no orçamento mensal. O hospital celebrou, neste mês, a primeira “adoção de contrato”, realizada em parceria com a iniciativa privada.

O projeto colocado em prática é uma sugestão apresentada por funcionários a membros da comissão provisória que atua na provedoria do hospital. Ele prevê que tanto pessoas físicas quanto jurídicas podem contribuir com a Santa Casa.

Anunciada por Fernanda Rodrigues Laranjeira a O Progresso no mês passado, a ajuda consiste na adoção de contratos de equipamentos. Em síntese, o projeto prevê que empresas ou pessoas físicas arquem com os custos de contratos de locação ou manutenção de aparelhos necessários para atendimentos.

O hospital fica responsável por fazer “o meio de campo” entre a empresa que presta o atendimento e a que vai garantir o pagamento. A medida foi adotada como forma de garantir transparência ao dinheiro empenhado ao hospital.

Desta forma, o empresário – ou pessoa que queira colaborar – assina o contrato de prestação de serviço, que será oferecido ao hospital, diretamente com a empresa que loca ou dá manutenção em equipamentos e em aparelhos.

Não há circulação de dinheiro para a direção da Santa Casa, o que evitaria eventual aplicação do recurso para outra finalidade que não a doada.

“O nosso primeiro contrato foi adotado pela Caetano, loja de materiais para construção. Ele é de um cardioversor, equipamento que serve para reanimar os pacientes que têm parada cardíaca”, informou Fernanda. O aparelho, até então, era locado pela Santa Casa e utilizado na UTI (unidade de terapia intensiva).

No período de um ano, a adoção vai gerar, para o hospital, economia de R$ 16,2 mil (o custo mensal do contrato é de R$ 1.350). Para Fernanda, a assinatura representa uma conquista e serve de modelo e estímulo para que outras empresas, ou pessoas, possam adotar novos equipamentos por meio de contratos.

“É essa a nossa ideia. Queremos que esse modelo seja o primeiro de muitos. Nós temos vários equipamentos alugados. E locamos porque eles são muito caros para serem adquiridos e por exigirem manutenção”, argumentou.

O cardioversor, por exemplo, tem custo estimado em R$ 60 mil. Sem recurso próprio, a Santa Casa não tem como comprar o aparelho. Também não possui – pelo menos no momento – dinheiro em caixa para realizar manutenção.

No entendimento da comissão da provedoria, a solução momentânea é a locação. Com a adoção, a Santa Casa deixou de locar um dos quatro cardioversores utilizados pelas equipes médicas.

Os outros três equipamentos continuam a ser pagos pela provedoria e atendem ao centro cirúrgico, à clínica médica e à Maternidade “Maria Odete de Campos Azevedo”.

A exemplo do modelo implantado com apoio da loja de materiais de construção, Fernanda explicou que os demais contratos serão realizados com “total transparência”. “Toda negociação de valor, de data de pagamento, é feita entre quem vai contribuir com a Santa Casa e a prestadora”, disse.

Conforme a representante da comissão, essa prática tem contribuído para que o hospital passe a receber novos apoios. Um dos mais recentes é a recuperação de um dos quartos usados para atendimento particular.

A medida integra o projeto “Adote um Quarto”, iniciativa pela qual a Santa Casa pretende aumentar a chamada receita própria – que não é oriunda de convênios.

“Nós já conseguimos recuperar um quarto. Ele já está pronto e já permitiu, à nossa equipe, fazer alguns atendimentos particulares”, revelou Fernanda. Conforme ela, os planos da comissão provisória da provedoria são de recuperar quatro cômodos.

São dois apartamentos individuais (um masculino e um feminino) e dois compartilhados. Nesse projeto, a Santa Casa propõe, às empresas que queiram colaborar, a customização dos ambientes, com divulgação de produtos e serviços.

Fernanda disse que os parceiros não têm custos com equipamento hospitalar. “A ideia é que eles possam pintar, instalar um televisor, um armário, uma cama de acompanhante, uma poltrona e uma bandeja para alimentação”, contou.

Com isso, a instituição espera atrair de volta um “público mais seleto” e que gasta com cirurgias. Segundo a provedoria, muitas pessoas acabam desistindo de fazer o procedimento na Santa Casa por não terem espaço para acompanhante.

O primeiro dos quatro apartamentos não foi adotado por uma única empresa, mas um grupo de pessoas. O mesmo aconteceu com a brinquedoteca da pediatria, reformada pelo Lions e LEO Clube (formado por jovens). A entrega do espaço reformulado pelas entidades aconteceu no sábado, 13.

A segunda etapa do processo de reestruturação do espaço contempla a área externa da pediatria. Fernanda disse que a ala deve ganhar espaço de lazer para crianças. “Está tudo muito bonito, e o pessoal da Santa Casa, muito contente com essa reforma. É uma parceria bem interessante”, declarou.

Também conforme ela, outras revitalizações devem ser viabilizadas por meio de parcerias no conjunto de prédios que compõem o hospital. No momento, a comissão provisória ainda não dispõe de levantamento sobre todos os pontos que precisam de reparos.

“Nós sabemos que existe bastante coisa que precisa ser feita. Apesar de o prédio da maternidade ser novo, o complexo hospitalar é feito de imóveis bem antigos. Então, tudo que vier para ajudar será muito bem-vindo”, antecipou.

50 contratos

Ao todo, a Santa Casa dispõe de 50 contratos que podem ser disponibilizados para serem adotados. Em média, eles têm valores entre R$ 1.000 e R$ 1.500.

Se pelo menos metade deles deixar de ser paga pelo caixa do hospital, a provedoria prevê que haja recuperação das finanças da instituição e redução significativa do montante devido. A Santa Casa possui débitos que ultrapassam R$ 20 milhões. Boa parte desse valor, por conta da queda de arrecadação.

Com o encerramento de convênio junto à Unimed, o hospital deixou de arrecadar R$ 300 mil mensais. Também perdeu receita durante o prazo de requisição pela Prefeitura, uma vez que o Executivo ficaria impedido de celebrar convênios.

A Santa Casa começou a incrementar o caixa em maio deste ano, quando o Executivo devolveu a administração do hospital à provedoria. Desde então, a comissão provisória – que assumiu a gestão do nosocômio – deu início a vários projetos. Eles permitem, à comissão provisória, economia e, por sua vez, aplicação dos parcos recursos em atividades essenciais.

“Todas essas iniciativas nos ajudam em muito, porque nos desafogam. Todo esse valor de contrato, por exemplo, nós tínhamos de tirar da nossa receita. Como nós não podemos usar verba pública para isso, tínhamos dificuldades”, disse Fernanda.

Para viabilizar a adoção, a integrante da comissão explicou que, ela própria, precisou “arregaçar as mangas”. Fernanda entrou em contato com o representante da loja de materiais de construção e explicou o funcionamento do projeto.

A resposta veio “prontamente” e durou cinco dias até a data da assinatura do contrato. Para Fernanda, o prazo denota uma “retomada da confiança da população para com o hospital”. “Foi surpreendente como a proposta foi aceita”, disse.

Na avaliação da integrante da comissão, esse resultado também estimula os funcionários a contribuírem mais com a entidade. Tanto que, no mesmo dia em que a provedoria anunciou a adoção do primeiro contrato, novas ideias foram apresentadas pelos trabalhadores.

“Eles conhecem bem as questões específicas da Santa Casa. Sabem como funciona porque estão lá, no dia a dia. É uma visão diferente de quem está de fora”, avaliou.

Uma das novidades a serem implantadas pela provedoria é estimular a volta de sócios. Até 2013, a Santa Casa possuía um quadro significativo de associados.

A ideia apresentada pelos funcionários é de que o hospital volte a permitir a entrada de munícipes no quadro de sócios. Cada pessoa receberá um carnê para pagamento de R$ 10 por mês.

“Isso (a associação) permite, inclusive, que as pessoas votem em assembleias e tenham direito a votar na eleição de provedoria”, comentou Fernanda. A próxima eleição da diretoria está programada para janeiro de 2018.

A ideia apresentada para a comissão é de fomentar novamente a associação, especificando que o valor da colaboração dos sócios será aplicado exclusivamente na alimentação dos pacientes. “Então, fica bem vinculado o que é doado ao que vai ser gasto, porque temos um custo, mais ou menos, de R$ 2.000 por semana, somente com itens de hortifrutigranjeiros”, relatou Fernanda.

Caso a proposta tenha sucesso, a Santa Casa teria uma nova economia e mais dinheiro para aplicar em questões emergenciais. “Seria uma grande ajuda”.

Uma última proposta em estudo é de promover uma “casa aberta”. Ele consistirá em evento no qual o hospital abrirá as portas para visitação da população.