Buracos geram queixas recorrentes, visitas a oficinas e riscos a usuários





Três a quatro proprietários de veículos por semana, em média, visitam oficina localizada no Valinho por conta de um problema específico. Eles buscam reparos na suspensão dos automóveis, danos que, segundo o mecânico Sinval Jesus Pinto, são decorrentes de circulação constante por terrenos irregulares.

Em Tatuí, essas áreas são bem conhecidas da maioria da população que usa veículo. As ruas da cidade estão marcadas por buracos, provocados por conta da oxidação da malha viária, do número da frota e pelas chuvas.

O problema, enfrentada pela Secretaria Municipal de Infraestrutura, Meio Ambiente e Agricultura, atinge bem mais que as equipes de reparo do município.

Ela se estende para os usuários, pedestres e motoristas, que precisam conviver com abalroamentos, afundamentos e rachaduras. O resultado são queixas recorrentes, buscas por reparos e riscos para quem usa as vias.

É o que aponta o vereador Márcio Antonio de Camargo (PSDB). Autor de uma centena de requerimentos encaminhados à Prefeitura a respeito do assunto, ele realiza fiscalizações por conta própria.

Amparado na função de parlamentar, Camargo percorre as ruas do município para apontar a existência de problemas (em geral, novos buracos e obras refeitas) e cobrar soluções.

O vereador argumentou que desenvolve o trabalho para dar uma resposta à população e que mira especialmente na secretaria, porque “quer evitar desperdícios”.

“Na verdade, sou questionado por vários munícipes, devido ao fato de o serviço executado ter pouca durabilidade”, iniciou. Camargo refere-se à operação “Chega de Buracos”.

Implantada na administração do prefeito José Manoel Correa Coelho, Manu, a ação promoveu a recuperação de 56 mil metros quadrados de asfalto até outubro do ano passado.

No entanto, conforme o diretor de vias públicas da secretaria, Wilson Siqueira, pelo menos 180 quilômetros de asfalto que recobre as vias da cidade apresentam problema.

A maior parte dos trechos em recuperação precisa ser revisitada pela secretaria por conta do tipo de material empregado na restauração (a chamada “massa fria”).

“A durabilidade é pouca, porque esse material depositado no buraco é de péssima qualidade”, criticou o vereador. Camargo tem aumentado a frequência com que comenta sobre o assunto na Câmara, com a justificativa de que não concorda com a utilização desse tipo de material.

Na opinião dele, a maneira mais eficiente de minimizar os transtornos com os buracos é usar o “cbup” (concreto betuminoso usinado quente). Trata-se de um tipo de massa asfáltica usada para executar serviços de recapeamento.

A visão do diretor de vias públicas é diferente. Siqueira disse que a massa fria e o cbuq têm a mesma qualidade. No entanto, a durabilidade vai depender das condições de aplicação, podendo sofrer interferências, por exemplo, por conta da circulação constante de veículos ou pela incidência de chuvas.

Outro aspecto levado em consideração pela secretaria é o custo. Sem caixa suficiente para adquirir um material mais “fino”, a pasta precisa adaptar os tipos de insumos usados na realização dos trabalhos ao volume de solicitações.

Dessa maneira, asfalto quente passa a ser mais utilizado em épocas de estiagem, por períodos menores, e quando há disponibilidade financeira.

Para a escolha do melhor método e do material a ser aplicado para a recuperação dos buracos, a secretaria promove estudos. Entretanto, em caso de emergência, a pasta opta por soluções mais rápidas e “com menor tempo de vida útil”.

É o caso da aplicação de asfalto frio em dias de chuva. Nessa situação, a medida visa, apenas, evitar acidentes, em razão da passagem de veículos e pedestres. Entretanto, costuma gerar reclamações da população, e, como consequência, dos vereadores, que repassam as queixas ao Executivo.

Para o diretor de vias públicas, é comum alguém apontar desperdício de dinheiro público quando não compreende os motivos da aplicação de um material de menor durabilidade.

O motivo é que o buraco tampado com asfalto frio e em dia de chuva volta a abrir. Dependendo do trecho em que ele está localizado, precisará ser novamente tampado pela secretaria em outra data.

Entretanto, o uso de asfalto frio tem sido menos recorrente, segundo o vereador. Camargo atribui a “mudança de estratégia” da secretaria à fiscalização feita por ele. “De uns dias para cá, eles (a infraestrutura) têm utilizado outro material e preparado uma base para colocar o asfalto quente”, disse.

A “nova postura” da pasta municipal também é atribuída à repercussão dada aos casos denunciados. Além de requerimentos e indicações protocoladas na Casa de Leis, o parlamentar faz uso de redes sociais para tornar as reclamações de conhecimento público. “Muitas vezes, faço fotos e vídeos”, completou.

Os materiais são publicados nos perfis pessoais do parlamentar, canais pelos quais ele também recebe reclamações. Eles retratam diversas localidades.

Entre elas, o Jardim Wanderley, Rosa Garcia 2, Jardim Thomaz Guedes, Jardim Alvorada e trechos das avenidas Vice-prefeito Pompeo Reali, na vila São Cristóvão, e Coronel Firmo Vieira de Camargo, no centro.

As regiões são apontadas pelo vereador como as de maior incidência de reclamações. “Numa análise mais profunda, vamos ver que, praticamente, 70% da cidade estão comprometidos”, declarou.

Para ele, há um “nó mais importante e que precisa ser desatado”: a efetividade das ações. O vereador enfatizou que o Executivo não conseguiu avançar na recuperação da malha viária, mesmo investindo nas obras de infraestrutura.

O parlamentar também destacou os acidentes, lembrando o mais grave, ocorrido em julho e que resultou na morte de um motociclista de 23 anos.

A vítima chocou-se contra um poste de iluminação, na rua Afonso Arruda Campos, na vila Santa Helena, na noite do dia 5 daquele mês. Conforme boletim de ocorrência, Alan Cristian Apolinário de Andrade teria perdido a direção do veículo depois de passar por um buraco.

Vicente Aparecido Menezes, Vicentão, ressaltou que todos os assuntos relacionados à manutenção das vias públicas são verificados pela pasta. Enfatizou que o Executivo prioriza a realização de ações emergenciais e de forma a garantir a segurança dos usuários.

Disse, também, que a administração não tem condições econômicas para apresentar uma solução definitiva. O recapeamento exigiria muito dinheiro.

Desde que começou a apurar os buracos, Camargo afirmou que fez uma série de constatações. Para ele, além de consumir recursos do município, os buracos pesam no bolso da população.

“Tenho recebido relatos e fotos de motos que tiveram o aro (da roda) entortado, pneus de carros que estouraram, amortecedores que quebraram. Enfim, são várias situações de dano e que implicam em riscos”, mencionou.

Para serem ressarcidos de prejuízos, Camargo disse que pede para que as pessoas busquem, primeiro, um entendimento com a administração. “Quando nada der resultado, aí, sim, a pessoa deve procurar a Justiça para ser indenizada. Antes, não, porque o Judiciário tem muitas questões para serem resolvidas”, destacou o vereador.

Com pressa de resolver os problemas, uma vez que precisam dos veículos para se locomover, muitos proprietários optam pelo conserto em primeiro lugar.

“Nunca parei para fazer um levantamento mais minucioso, mas a procura é constante. Sem irmos um pouco mais a fundo, é possível dizer que toda semana fazemos algum tipo de concerto em três ou quatro veículos”, disse Sinval Jesus.

Os reparos mais comuns dizem respeito à suspensão, amortecedores e nos kits de embuchamentos. “Ocorre muito de os amortecedores estourarem e das rodas entortarem”, explicou o mecânico. A consequência mais leve desse tipo de problema é um desalinhamento nos veículos. A mais grave, um acidente.

Conforme o mecânico, situações de risco são comuns por conta das condições de tráfego das vias públicas. Além dos buracos, a cidade registra grande circulação de veículos.

Em 2013, o Detran (Departamento Nacional de Trânsito) apontava 69.512 veículos, entre carros, motos, caminhões, tratores e outros modelos. Desses, mais de 35 mil eram automóveis e mais de 18 mil, motocicletas.

Como destacado pela Prefeitura, o inchaço da frota e os problemas de desgaste são fatores que contribuem para o aumento dos buracos. A quantidade deles é mapeada pela Secretaria de Infraestrutura e, também, pela população.

Somente o mecânico contabilizou 75 buracos entre o trajeto da oficina em que trabalha, no Valinho, até o bairro em que reside, na Nova Tatuí. “Para ir embora, não vou ‘por dentro’ (pelas vias da cidade). Eu passo ‘por fora’ (acessa a rodovia Antonio Romano Schincariol – SP-127)”, descreveu Sinval Jesus.

Para quem não tem opções, o indicado é não desviar dos buracos. A orientação do mecânico é que as pessoas reduzam a velocidade ao passar por valetas.

“É preferível que o motorista passe pelo buraco, ou mesmo que tenha que parar, mas que evite desviar, por causa do movimento do trânsito”, argumentou.

Outra dica é realizar manutenção preventiva, uma vez por mês. A parada nas oficinas é indicada para avaliação e um eventual conserto.

“Eu dou essa disponibilidade para minha clientela. Peço para que venham fazer uma checagem visual, até para evitar que a pessoa tenha um prejuízo maior”, encerrou.