Dupla Companhia celebra dez anos com o espetáculo “Por Trás do Céu”

Direção da peça de 1ª trilogia é Inês Peixoto, a partir da obra de Caio Sóh 

Obra marca o início de uma nova etapa da Dupla Companhia (Foto: Diego Cerqueira)
Da redação

A Dupla Companhia, de Tatuí (SP), comemora a primeira década de existência com a estreia de “Por Trás do Céu”, espetáculo que inaugura a “Trilogia do Trabalho”.

Conforme divulgado pelo grupo, trata-se de “um novo ciclo de criação dedicado às histórias, símbolos e afetos daqueles que sustentam o Brasil invisível — trabalhadores rurais, cortadores de cana, populações interioranas, figuras que atravessam a história, mas raramente são nomeadas por ela”.

O projeto tem fomento do Ministério da Cultura, do governo federal, e Secretaria de Estado da Cultura, Economia e Indústria Criativas, do governo de São Paulo, por meio da Política Nacional Aldir Blanc.

O espetáculo, a partir da obra original de Caio Sóh, tem direção e adaptação de Inês Peixoto (integrante do Grupo Galpão) e traz no elenco Rafaele Breves, Lucas Gonzaga, Victor Mota, Gabriela Carriel, Ismênia Leão e Miranda Gonçalves.

Sobre o convite para dirigir a montagem, Inês Peixoto diz: “Encontrar a Dupla Cia. de Tatuí está sendo uma oportunidade de experimentar um processo criativo com um coletivo de teatro radicado numa cidade que possui um conservatório, que fomenta um movimento artístico potente no interior de São Paulo, formando músicos e atores”.

A encenação de Inês Peixoto “costura” elementos do circo-teatro e do realismo fantástico, “criando uma atmosfera que evoca o tecido cultural do interior paulista e as mitologias afetivas de quem vive do trabalho da terra”, aponta a divulgação da peça.

Já a direção de arte de Márcio Medina “transforma a cena em um espaço de imaginação compartilhada, na qual materiais simples, canas e texturas evocam tanto o campo quanto o sonho”, ainda segundo o grupo.

“A direção de arte de Márcio Medina cria como chão um pequeno relógio-mundo, onde os dias e as horas são bem marcados pelo sol intenso e a lua cheia. Um mundo de escassez, onde somente nos é dado a ver o essencial. Um espaço mítico onde nossos personagens entram e saem da fábula, um espaço cercado por estruturas que remetem à imponência dos canaviais. Nossa estética dialoga com as sobreposições, em que as combinações acontecem por aquilo que é possível ter e não pelo que se quer ter”, acrescenta Peixoto.

A obra também marca o início de uma nova etapa da Dupla Companhia. “Se a Trilogia da Memória revisitava o passado como modo de reconhecer as vozes que nos antecedem (‘As Três Marias’, ‘Nise em Nós – Uma Ode ao Delírio’ e ‘Laudelina’), a Trilogia do Trabalho desloca o olhar para aqueles que, no presente, ainda permanecem invisíveis — um gesto de escuta, reparação e invenção simbólica”, descreve a divulgação.

A música original e a direção musical de Ernani Maletta “criam uma paisagem sonora que transita entre o ritual, o canto popular e a pulsação do trabalho”, segue a descrição.

“O espetáculo se ancora na relação profunda da Dupla Companhia com Tatuí e com o interior do estado de São Paulo. É dessa terra, de suas memórias e dos corpos que a habitam, que nasce uma dramaturgia que questiona o país que somos e o país que ainda desejamos ser”, sustenta o grupo.

“Como diretora, meu grande interesse está em saber escutar os atores e a equipe, apurando a orquestração de todas as fagulhas criativas que possam aparecer, inclusive as minhas. Criar uma cena em que todos os envolvidos no processo se reconheçam. E se entreguem para o movimento de constante elaboração, porque o teatro é isso, um lugar onde os atores têm a possibilidade de estar em estado de permanente descoberta e reinvenção”, declara a encenadora.

Caio Sóh

Iniciou a carreira no teatro em São Paulo (1999), formado como diretor teatral, em 2001 passou a integrar, como diretor e autor, a premiada Companhia Sinceramente Cínicos, da qual foi um dos fundadores.

Teve textos teatrais traduzidos e adaptados para o alemão, espanhol e francês, com montagens em Berlim, Havana e Cidade do México, entre outras cidades.

Em 2009, convidado por Jayme Monjardim para codirigir minissérie sobre a cantora Maysa, exibida pela Rede Globo, também atuou em todos os episódios, interpretando o personagem Guto. Outra série de TV da qual participou foi “Meus Dias de Rock” (2014), cujo roteiro assina.

Diretor e roteirista do filme “Teus Olhos Meus, vencedor pelo júri popular da 35ª Mostra de Cinema Internacional de São Paulo, vencedor de cinco prêmios no Los Angeles Brazilian Film Festival 2011, incluindo os de melhor filme e melhor roteiro.

Dirigiu também o longa “Por Trás do Céu”, estrelado por Nathalia Dill, Emílio Orciollo Netto, entre outros atores, vencedor do Cine PE 2016, incluindo prêmios de melhor filme do júri popular e melhor roteiro.

Em 2018, percorreu festivais internacionais com o polêmico longa-metragem “Canastra Suja”, com Adriana Esteves e Marco Ricca no elenco.

Como diretor de teatro e dramaturgo, destacam-se: “O Contador de Estrelas” (1999), “A Flor e o Poeta” (2000), “O Diabo Decide se Casar” (2001), “Rose Obesa” e “Oferecida” (2002), “Minutos” (2003), “O Homem de Dentro” (2004), “A Mágica do Exílio” (2005), “PTDC” (2006), “O Vão Entre o Vazio e Eu” (2007).

Dupla Companhia

A Dupla Companhia é um grupo de teatro que completa dez anos de atuação dedicados à criação, difusão e formação em artes da cena. Seu trabalho se estrutura nos eixos “memória, território e identidade”, trazendo para a cena “histórias que atravessam o imaginário brasileiro, especialmente a partir das perspectivas e experiências do interior paulista”.

Em 2025, a companhia recebeu o prêmio de Melhor Companhia de Teatro no 24º Anual Prêmio Cenym de Teatro Nacional, “consolidando seu papel no panorama teatral contemporâneo brasileiro”, conforme divulgado pelo grupo à imprensa.

Sinopse

Em um sertão imaginário onde a terra guarda cicatrizes de trabalho, fé e sobrevivência, vive Aparecida — uma mulher que se recusa a aceitar a dureza do destino como sentença.

Forjando, com pedaços de sucata, um foguete que só ela consegue enxergar inteiro, Aparecida alimenta o sonho de alcançar o que chama de “o mundo por trás do céu”.

A partir da adaptação e direção de Inês Peixoto para a obra de Caio Sóh, o espetáculo costura realismo fantástico, cultura popular e o imaginário dos trabalhadores do interior do Brasil.

A encenação cria uma paisagem cênica onde poesia e brutalidade convivem lado a lado. Em cena, os encontros de Aparecida com figuras que compõem o universo simbólico dos cortadores de cana — Micuim, Edvaldo, Valquíria e Xurunca — revelam afetos, exaustões e lampejos de esperança que atravessam gerações.

Primeiro capítulo da recém-inaugurada Trilogia do Trabalho, que sucede a Trilogia da Memória da Dupla Companhia, “Por Trás do Céu” ilumina os esquecidos que movem o mundo.

Um convite para que o público revisite seus próprios sonhos impossíveis — e reconheça, na obstinação de Aparecida, a força que sustenta a vida mesmo quando tudo parece faltar.

Serviço

Por Trás do Céu, da Dupla Companhia

Pré-Estreia: 8 e 9 de dezembro de 2025

Temporada de Estreia: 15 a 20 de dezembro de 2025

Horário: às 19h30

Colégio Objetivo – Rua Prof. Oracy Gomes, 665 – Centro

Ingressos: Gratuitos (retirada pelo Sympla)

Capacidade: 40 lugares

Duração: 80 minutos

Classificação: 14 anos