
José Norbal de Moraes Marques *
Não sei o que é mais preocupante: o fechamento do Conservatório, que avança a cada ano, ou a apatia de todos nós, que dizemos com orgulho sermos tatuianos.
Um sentimento que querem nos roubar. É triste perceber quantas coisas se perderam em um passado recente. Ficou no passado a pujança do grande centro têxtil que fomos. Deixamos de ser.
Não reagimos — apenas nos resignamos. “Vida que segue”, é assim que dizemos. Mas perdemos muito mais desde então. E seguimos repetindo: “Bola pra frente, é pra frente que se olha.” É assim que, resignadamente, falamos. Não cobramos responsabilidades — afinal, “é assim mesmo”.
Fazer o quê? Aconteceu! É assim que pensamos. É assim que comodamente agimos — ou melhor, deixamos de agir. Naturalizamos todas as desgraças: a perda do protagonismo regional, a desvalorização de nossas instituições, o empobrecimento cultural e econômico do nosso povo.
Nada, no entanto, tem sido razão suficiente para nossa mobilização, para uma revolta efetiva, ostensiva. Somos poucos. Há uma passividade que não sei explicar — um medo individual de perder o pouco que resta, o que torna real a ameaça de perder tudo.
Assim, não percebemos o desprezo que demonstramos pelos nossos personagens históricos, cantados em versos no nosso hino. Parecemos indiferentes às suas lutas e conquistas — o legado que deixaram para nós.
Para que cultuar Nacif e Bimbo? Que significado isso pode ter nestes novos tempos? Qual o sentido de enaltecer a caridade cristã de Chico Pereira?
Assistimos à pobreza material — e, principalmente, à pobreza intelectual — da nossa gente. Somos vítimas de uma alienação perturbadora. Hoje, cada um se ocupa apenas dos próprios problemas.
É assim que, comodamente e de forma egoísta, pensamos. Esse parece ser o ânimo do tatuiano: alguém que se acostumou com as perdas, sofre com elas, mas não se indigna.
Perdemos a capacidade de indignação diante das coisas mais absurdas que acontecem. Agora, estamos a um passo de perder nossa identidade.
Estão matando o nosso Conservatório. Os algozes do nosso Conservatório estão, definitivamente, matando a identidade do tatuiano — tirando, a cada ano, mais oxigênio da instituição.
A “Capital da Música” deixará de existir. O legado do Professor Coelho e do Maestro Neves será apenas lembrança para as futuras gerações de tatuianos. Estamos assistindo a essa morte — lenta, para ser menos perceptível, menos dolorida. Estamos nos acostumando a ela.
Restarão apenas o luto e a lembrança. Há esperança? Sim: sair da letargia coletiva, decretar uma trégua nas diferenças ideológicas, partidárias, religiosas — ou quaisquer outras que nos impeçam de nos unir na defesa do nosso maior orgulho, da nossa identidade, do nosso sobrenome. Sermos todos Conservatório.
Se somos também a “Cidade Ternura”, é hora de transformar nossa ternura em indignação — e a indignação, em combustível que nos mova nessa causa justa, até a vitória.
Vida longa ao Conservatório — depende de todos nós. Temos que ir à luta. Ou, quando acordarmos, talvez nem sejamos convidados para o velório do Conservatório — porque ele já estará sepultado.
* Professor de História de formação, 71 anos.









