
Talvez muitos ainda não tenham notado objetivamente, mas, inconscientemente, podem estar percebendo que, no momento, “tudo” está se tornando “experiência única” – o que, por consequência, dada a banalização do termo, torna-o cada vez mais inócuo e, portanto, irrelevante.
Reparem, leitores: a “experiência única” indica as mais variadas ações, produtos ou serviços. Pode ser um pastel de palmito, cujo sabor é uma “experiência única”; uma viagem a Aparecida do Norte, na qual a devoção é potencializada por alguma “experiência única” mística; ou a contratação de um seguro contra enchente no serrado, cuja “experiência é única” sabe-se lá o porquê…
Outro termo – neste caso, um verbo – miseravelmente banalizado, jogado ao senso comum utilizado para praticamente tudo, é o tal do “destacar”. Coitado, antes indicava algo que, justamente, “se destacava”… De quê? De tudo o mais – que seria, assim, “diferente”, destacado por valor além do banal…
Porém, se tudo é destacado, nada o é… Correto? Quando tudo é extraordinário, nada mais é “comum”, “corriqueiro”, “normal”… Mas, e aí quando algo for realmente de destaque? Seria denominado como? “Superdestaque”, “megadestaque” ou “destaque hiperplus”?
Entre tantos outros termos, palavras e expressões a espancarem os tímpanos – e os neurônios – no momento, os dois exemplos já servem ao interesse desta ocasião, que se importa em chamar a atenção para o crescente uso da inteligência artificial (em particular, do Chat GPT), para a escrita de textos.
Por certo, nem toda narrativa com “destaque” e “experiência única” é feita em IA, mas exatamente isso pode indicar o quanto a “contaminação” por essas ferramentas está impactando o cidadão em preguiça, falta de originalidade e consequente desapego ao pensamento crítico.
Já é um problema quando este fenômeno da atualidade atinge os adultos, contaminados por outras tantas enfermidades, sobretudo digitais. Não obstante, é muito maior quando compromete o próprio futuro da humanidade, ao corromper as capacidades intelectuais das crianças e jovens – as novas gerações.
Diante deste “desafio único” (em colocação irônica, obviamente, mas com “destaque” ao fato de que é único pelo ineditismo na história da Humanidade), seria muito oportuno observar artigo do diretor de marketing e fundador da VTaddone® (www.vtaddone.com.br) Vinícius Taddone. Argumenta ele:
“Diante dos vícios criados pelo uso indiscriminado da inteligência artificial, educadores propõem o retorno ao manuscrito como ferramenta de formação crítica e autenticidade intelectual.
Nos corredores das escolas e universidades, a pauta é clara — se por um lado a inteligência artificial democratiza o acesso à informação e amplia a capacidade de produção textual e criativa, por outro, abre espaço para o comodismo intelectual. Trabalhos acadêmicos cada vez mais produzidos por IA generativa levam a uma uniformização do pensamento e à perda da autoria genuína dos estudantes.
Curiosamente, estes dois primeiros parágrafos que você acabou de ler foram gerados por uma inteligência artificial. Ou seja, este próprio artigo já serve como exemplo do paradoxo que enfrentamos: uma produção fluida, rápida e informativa, mas que levanta questionamentos sobre autoria, profundidade e dependência das máquinas para construir argumentação.
Na minha opinião, ‘a IA é a maior revolução de mudança do comportamento humano após a internet.’
A frase, que poderia soar como pura constatação tecnológica, na verdade carrega uma preocupação crescente entre educadores e especialistas em comportamento: estamos acelerando tanto na direção da automação que corremos o risco de atrofiar habilidades fundamentais para o desenvolvimento humano.
Em resposta, algumas instituições de ensino cogitam — ou já implementam — uma medida tão simples quanto radical: aceitar apenas trabalhos manuscritos. A proposta não visa demonizar a tecnologia, mas resgatar o protagonismo do aluno na construção do próprio conhecimento.
Ainda que pareça um retrocesso à primeira vista, o retorno aos trabalhos manuscritos pode representar uma evolução no modo como enxergamos a educação em tempos de inteligência artificial.
O ideal, na minha visão, seria adotar mecanismos de dupla verificação, associando o manuscrito a etapas complementares de checagem, como debates orais ou revisões presenciais, garantindo que o conteúdo apresentado realmente reflita o entendimento do estudante e não apenas uma transcrição do que a IA poderia ter produzido.
Trata-se de um convite ao equilíbrio: reconhecer os benefícios da tecnologia, sem abrir mão das práticas que forjam, de fato, o pensamento crítico e a autenticidade intelectual.
Ou seja, olhando para o futuro, o desafio não está em escolher entre tecnologia e tradição, mas sim integrar de forma consciente ambos os caminhos. E talvez, ao equilibrarmos máquinas com humanidade, possamos preparar não apenas alunos melhores, mas cidadãos mais críticos para o mundo que se desenha.
No fim das contas, não se trata de rejeitar a tecnologia, mas de reconhecer seus limites e responsabilizar-se pelo seu uso consciente. A IA, como ferramenta, é poderosa e, ao retomarmos a prática do manuscrito, lembramos aos alunos que o aprendizado verdadeiro exige esforço, reflexão e autoria real.
Mais do que formar produtores de conteúdo, a missão das escolas é formar pensadores. Ao equilibrarmos máquinas com humanidade, preparamos uma geração capaz de pensar antes de simplesmente pedir que a IA pense por ela.”
E, afinal, muito se recai sobre as escolas, a Educação. Sem dúvida, não há experiência mais única que o conhecimento, especialmente quando, em seu processo de aprendizado, destaca-se a relevância do estímulo à personalidade e aos talentos próprios de cada um, ao esforço pessoal e à capacidade de pensar por si memo.