Cidade tem expansão na aviação agrícola

Pista do terminal de Tatuí é utilizada por pilotos de planadores, alunos de escola e por produtores rurais (foto: Cristiano Mota)

Alunos da escola de ultraleves avançados e sócios do Aeroclube de Tatuí não são os únicos a fazer uso da pista da entidade para pousos e decolagens. Os agricultores também têm feito viagens aéreas a partir do terminal local. É o que informou o presidente do aeroclube, Alexandre Simões de Almeida.

Segundo ele, o movimento do aeroclube é intenso e diversificado. Durante a semana, os alunos utilizam-no para pousos e decolagens no aprendizado da pilotagem de planadores. “A unidade é separada do aeroclube, mas que funciona aqui, oferecendo aulas para piloto esportivo”, ressaltou.

Os planadores e os aviões rebocadores permanecem no hangar de número dez. Eles são responsáveis por boa parte do movimento visto durante a semana e, também, aos sábados e domingos. As aeronaves se juntam às de pilotos de outros aeroclubes que vão até o terminal tatuiano para cumprir etapas de navegação.

“Eles buscam Tatuí porque temos uma pista asfaltada, boa para treinamento”, explicou Simões.

Segundo ele, apesar do uso ser mais constante por parte de alunos e sócios, a pista de Tatuí é pública. “É de todo mundo sempre, mas, no fim de semana, temos um aviso a todos os aeronavegantes que a operação é predominantemente de planadores. É apenas um aviso, mas para operarmos juntos”, contou.

Esse aviso é feito por meio de informativo interno, distribuído para os frequentadores. Também é possível conferir a programação nos espaços do aeroclube.

Entre um voo de instrução e outro, há decolagens destinadas a atender necessidades de produtores rurais. Simões divulgou que o aeroclube tem sido bastante procurado por agricultores para aplicação de defensivos na produção.

“Mesmo na crise, esse movimento tem aumentado, muito provavelmente, por conta do estímulo que o agronegócio recebeu nos últimos anos”, especulou. A busca tem sido tão grande que os pousos e decolagens acontecem semana sim, semana não.

Grande parte das viagens é feita para atender às necessidades de fazendas da região. “Temos recebidos muitos operadores agrícolas, que já vêm com a base móvel, com um caminhão e os equipamentos”.

No aeroclube, os aviões são preparados e abastecidos para o carregamento de defensivos. “As aeronaves ficam dias operando”, disse Simões.

O tipo de uso das instalações e o tempo de duração variam conforme o acordo operacional firmado com o aeroclube. Para o uso na agricultura, os produtores providenciam a aeronave, os defensivos e o profissional que fará as aplicações.

Esse acordo é firmado para que o aeroclube tenha ciência e possa oferecer os acessos aos operadores. “Temos responsabilidades, e uma delas, como administradores do aeródromo de Tatuí, é o controle de acesso. Não podemos permitir que alguma atividade que ponha em risco a operação”, acrescentou.

Pelo acordo, a equipe do aeroclube também fica responsável por controlar o acesso à pista. O trabalho consiste em evitar, por exemplo, a entrada de animais, como cavalos, próximo ao local e às cabeceiras usadas para pousos e decolagens.

Já os produtores emitem aviso, solicitando acesso e pedindo monitoramento. Todos os trâmites são definidos entre o aeroclube e as empresas contratadas pelos fazendeiros. “Elas são de diferentes lugares”, contou Simões.

O presidente informa que o período do contrato também varia. De acordo com ele, em média, as aeronaves realizam os trabalhos entre quatro e cinco dias. As aplicações de defensivos partindo de Tatuí são feitas em propriedades de diversas cidades. A maioria delas em Sorocaba e Araçoiaba da Serra.

“Nessas duas, há bastante aplicação. Em Tatuí, já tivemos uma aplicação, uma vez, mas grande parte do uso para atividade agrícola abrange a região”, comentou.

Em Tatuí, o movimento do aeroclube inclui os voos executivos. A maioria deles oferecida por empresas de táxi aéreo. “Elas fornecem serviços para empresários que precisam vir a Tatuí ou para uma cidade próxima daqui”, informou.

Simões conta que esse tipo de serviço tem diminuído, mas sido compensado com os voos originados a partir da chamada aviação corporativa. Trata-se do fretamento para políticos e chefes de Estado que vêm à região.

“O governador do Estado de São Paulo, Geraldo Alckmin, é quem mais usa esse serviço”, contou o presidente do aeroclube. Os voos feitos por ele – e os demais políticos – com destino a Tatuí têm como origem a cidade de Brasília.

A pista tatuiana também é utilizada como base para entidades como a FAB (Força Aérea Brasileira). Recentemente, uma comitiva da instituição precisou utilizar o aeroclube para abrigar a equipe que disputaria campeonato de paraquedismo em Boituva. “Os aviões não conseguiam pousar na cidade vizinha e a tripulação ficou em Tatuí, aos nossos cuidados”.

Por razões semelhantes, grande parte dos artistas que realizam shows na região prefere pousar e decolar em Tatuí. As empresas de táxi aéreo buscam a pista tatuiana por ela oferecer o melhor custo benefício.

Em Sorocaba, há a cobrança de taxa aeroportuária; em Botucatu, também. Já em Tietê e Boituva, as pistas são de terra e Piracicaba é considerada muito distante.

“Não compensa pousar em Campinas. Então, esse é o nosso diferencial”, alegou Simões. Conforme o presidente, além da pista, Tatuí conta com espaço aéreo “muito privilegiado”.

A cidade é considerada ideal para abrigar escola de voo, e está situada em região onde não há disputa por zona aérea, diferentemente de São Paulo. Simões disse que o terminal da capital se expandiu.

Ao chegar ao interior, o terminal acabou “matando” alguns aeroclubes. Como exemplo, Simões apontou o aeroclube de Jundiaí, considerado um dos pioneiros no voo a vela no Brasil. “O de Bauru também tem sérias dificuldades”, observou.

Na região de Tatuí, o espaço aéreo está condicionado à operação de planadores e ao paraquedismo. A dinâmica deve persistir por vários anos, mas pode mudar caso haja expansão do terminal de Sorocaba, que atende voo comercial.

“Nós não sabemos até quando o terminal de Sorocaba vai ter força para vencer esse espaço aéreo dedicado ao aerodesporto, em Tatuí e em Boituva. Só sei que, quando vencer, não sobrará lugares no Estado para se aprender a voar”.

Para ele, estrategicamente, o uso mais viável do espaço aéreo de Tatuí é para a escola de aviação. Primeiro, por conta da raridade da atividade e, segundo, em função da infraestrutura oferecida pelo aeroclube e o potencial desportivo.