Da reportagem
Vizinhos e amigos de Anselma Estanislau, 41, vítima de atropelamento na noite de segunda-feira, 23, estão se mobilizando em campanha solidária para ajudar a mulher a conseguir manter os cuidados necessários para a recuperação dela.
De acordo com um conhecido da vítima, Paulo de Campos, Anselma sofre de transtornos mentais e vive em situação de vulnerabilidade social, com o filho dela, de 11 anos, em uma casa de condições precárias no bairro CDHU “Conjunto Habitacional Orlando Lisboa de Almeida”.
Anselma foi atropelada e arrastada por um veículo que estaria sendo conduzido por motorista embriagado, na noite de segunda-feira, na avenida Cientista José de Barros Magaldi, no Jardim Wanderley.
De acordo com o boletim de ocorrência, uma equipe da Polícia Militar esteve no local do acidente e identificou o motorista com sinais de embriaguez, como olhos vermelhos, fala pastosa e odor etílico. No local, o condutor teria se negado a realizar o exame do bafômetro.
Aos policiais militares, uma mulher, que estava na rua no momento do acidente, disse ter ouvido o barulho da batida e, em seguida, avistado o motorista deixando o local com a vítima presa embaixo do carro.
Conforme a testemunha, Anselma foi arrastada por quase 200 metros, e o motorista só teria parado o carro diante da mobilização de populares que invadiram a rua e o forçaram a parar.
Informalmente ouvido pelos policiais, o acusado teria confessado a ingestão de três doses de cachaça. Sobre o acidente, teria alegado que a vítima “pulou na frente do carro”. Ainda disse não ter percebido o atropelamento, nem que havia uma mulher presa sob o assoalho do carro.
Conduzido à Central de Flagrantes da Delegacia Central, o acusado teria concordado em realizar exame do bafômetro, sendo que o resultado foi positivo para embriaguez e constatado o valor de 0,55 miligrama de álcool por litro de ar alveolar.
Com o resultado, o homem foi preso, mas acabou liberado na presença de um advogado. Ele deve responder por lesão corporal culposa na direção de veículo e embriaguez ao volante. O carro foi apreendido e deve passar por exames periciais.
A vítima foi socorrida e levada à UPA (Unidade de Pronto-Atendimento) “Dr. Augusto Moisés de Menezes Lanza” com escoriações profundas no abdômen, costas e em diversas áreas dos membros superiores e inferiores (braços e pernas), além de cortes na cabeça.
Segundo Campos, como não houve fraturas, a mulher ficou internada na unidade apenas algumas horas depois do acidente e deixou o hospital na tarde de terça-feira, 24, com curativos nas feridas, para continuar a recuperação em casa.
Desde então, conforme os vizinhos, o motorista responsável pelo acidente não ofereceu nenhum tipo de ajuda à vítima, e ela tem passado por dificuldades para manter os cuidados recomendados para se recuperar dos ferimentos.
Campos e a noiva Ana Paula Arruda (vizinha de Anselma) acompanham a situação de perto. Eles foram os primeiros a visitar a vítima na noite do acidente. Ela já estava na UPA quando o casal soube do ocorrido e esteve no hospital para tentar ajudar a conhecida.
“Minha noiva ficou desesperada ao saber do acidente, e nós corremos ao hospital. Quando chegamos lá, soubemos que deram entrada na ficha de atendimento dela, como se ela fosse uma indigente. Não tinha ninguém ali por ela até nós chegarmos”, continuou.
Ele contou que, na terça-feira, após a alta médica, ofereceu carona para levar Anselma do hospital para a casa dela, e foi aí que “soube da real condição da mulher”. Entrando no imóvel, ele teria encontrado uma condição “desumana”.
“Nós sempre víamos a Anselma e o filho dela na rua. Minha noiva e a família dela sempre ajudaram o dois com doações, e sabíamos que ela passava por dificuldades, mas foi depois do acidente e, entrando na casa, que eu vi a situação verdadeira dela”, enfatizou Campos.
Segundo ele, além da infraestrutura precária da moradia, da sujeira e dos poucos móveis existentes, a mulher estava sem energia elétrica e sem água, até mesmo para fazer a higiene pessoal, devido à falta de pagamento das contas.
Comovido com a situação e percebendo que a mulher não teria condições de manter o tratamento em casa, devido à condição precária, o casal começou fazendo uma vaquinha entre amigos para ajudá-la.
“Conseguimos levantar um dinheiro e pagar a conta para religar a energia elétrica e, agora, estamos fazendo vaquinha para a conta de água, pois uma das coisas essenciais para ela, agora, é manter a higiene pessoal para ficar com os curativos limpos e evitar infecções”, acentuou Campos.
Depois disso, outros moradores do bairro também souberam da situação e começaram a ajudar. Com isso, eles conseguiram arrecadar alimentos, roupas, móveis e até dinheiro para a ajudar a mulher a custear algumas despesas da casa.
Ainda para ajudar a vítima, Campos a leva, todos os dias, ao posto de saúde do bairro para a troca do curativo e acompanhamento da cicatrização dos ferimentos. A unidade também disponibilizou medicamentos e pomadas para o tratamento.
“Eu e meus amigos também fizemos uma vaquinha para comprar alguns medicamentos que o posto não tinha e outros itens mais urgentes que ela estava precisando. É uma judiação ver o que ela está passando. Ser humano nenhum merece passar por isso”, argumentou Campos.
“Nossa luta, agora, é conseguir mais ajuda; qualquer ação é bem-vinda. Os ferimentos foram graves, ela vai ter que continuar em tratamento e deve ter gastos que não vai ter condição de arcar”, apontou Campos.
O grupo de voluntários também conseguiu arrecadar roupas para o menino de 11 anos, um sofá e um fogão para a casa. Contudo, Campos salienta que ainda falta muita coisa e pede para quem puder e quiser ajudar que entre em contato pelo (15) 99734-7427.
“Queremos ajudar a Anselma e dar uma moradia digna a ela e ao filho, que passam por grandes dificuldades. Então, se alguém quiser ajudar, pode falar comigo que eu dou todos os detalhes sobre o que ela precisa”, pontuou.
Campos também contou que outros vizinhos, amigos e voluntários devem se reunir neste sábado, 28, na casa da Anselma, para um mutirão de limpeza na moradia.
“Vou com minha mãe, meus familiares e amigos para fazer uma limpeza geral, tentar pôr os móveis que conseguimos de doação na casa e dar uma condição mais digna para ela e para o filho”, concluiu Campos.