Da reportagem
O vereador tatuiano Cláudio dos Santos (Cláudio Oklahoma – PSL) está sendo acusado de ameaça, racismo e misoginia contra uma mulher de 33 anos, funcionária do setor financeiro em Tatuí.
Conforme a denúncia, o parlamentar teria proferiu ofensas racistas e misóginas contra a mulher, por meio de mensagens de voz e texto em um grupo do aplicativo de mensagens WhatsApp.
A troca de mensagens teria ocorrido na sexta-feira da semana retrasada, 12 de março, e veio a público na madrugada de segunda-feira, 28, quando coletivos feministas e antirracistas publicaram notas de repúdio contra o parlamentar.
Segundo informações de membros dos coletivos, as ameaças podem ter sido motivadas por causa de um atrito político entre o vereador e o esposo da vítima, “que faz parte da oposição”.
Conforme cópias da conversa, em circulação pelas redes sociais, algumas das ofensas postadas pelo vereador no grupo foram: “carvão queimado”, “chita”, “diabo de feia”, “dragão desgraçada de feia”, entre outras.
Além das ofensas que seriam direcionadas à vítima, o vereador teria desferido xingamentos contra o filho da mulher, dizendo: “É tão feio que acho que criaram a placenta e jogaram o feto fora”.
A O Progresso de Tatuí, a vítima (que não quis se identificar) afirmou ter sido informada sobre o teor das mensagens por amigo, no dia 18. Na mesma data, ela registrou um boletim de ocorrência pela delegacia eletrônica.
A vítima também declara ter sido procurada e ameaçada pelo vereador, durante a semana passada, no local de trabalho dela.
“Eu me senti vazia, solitária, constrangida e indignada, sem saber por qual motivo isso tudo está acontecendo, pois nem conheço o vereador direito. Mas, os coletivos começaram a entrar em contato comigo, acabei descobrindo outras histórias envolvendo o parlamentar e decidi denunciar para que isso não aconteça com mais ninguém”, declarou a denunciante.
Com a repercussão, os movimentos lançaram um abaixo-assinado, exigindo a cassação do vereador. A petição virtual havia reunido mais de 2.000 assinaturas até a tarde desta terça-feira, 23 (antes do fechamento desta edição, às 17h).
Entre os movimentos envolvidos na ação, estão: Núcleo Feminista Rosas da Revolução, Movimento Alvorada Antirracista, Coletivo Evangélico Progressista A Verdade Liberta, Coletivo Juntas, Cia. de Opinião, PLP (Promotoras Legais Populares) de Tatuí, Secretaria de Mulheres do PT Tatuí, Companhia de Maria e NAF (Núcleo Afro Feminino), além de sindicatos como a subsede de Tatuí da Apeoesp e o SindServ (Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Tatuí e Região).
De acordo com Karolayne Delgado, do Núcleo Feminista Rosas da Revolução, o documento deve ser apresentado na próxima sessão ordinária da Câmara Municipal, na segunda-feira, 4 de abril.
Os movimentos também devem enviar requerimento formal para pedir a cassação por queda de decoro parlamentar, conforme divulgado pela representante do coletivo feminista.
Na noite de segunda-feira, 28, os movimentos Alvorada Antirracista, Núcleo Feminista Rosas da Revolução e o coletivo Evangélico Progressista A Verdade Liberta publicaram uma nota de repúdio e indignação perante o que denominaram como “conduta gravíssima” do vereador tatuiano.
No texto, os movimentos afirmam que o vereador “ameaçou uma mulher negra de nossa cidade em seu local de trabalho e proferiu ofensas racistas e misóginas contra ela em um grupo de WhatsApp, desrespeitando-a como mulher, como ser humano e até mesmo ao seu filho, ainda criança”.
“Tal conduta é totalmente incompatível com o que se espera de qualquer ser humano e, principalmente, de um suposto representante do povo de Tatuí”, aponta a nota, acrescentando que “as falas racistas e misóginas do vereador não ferem a dignidade somente de uma cidadã, mas de todas as mulheres e de toda a população negra, comprovando o quanto o racismo e o machismo ainda se encontram presentes em nossa sociedade”.
“Não podemos permitir que esse fato permaneça impune. As autoridades já estão sendo acionadas para que tomem as medidas jurídicas e administrativas cabíveis”, diz a nota dos coletivos.
A reportagem entrou em contato com o vereador na manhã desta terça-feira, 29, o qual afirmou que o conteúdo é “fake” e baseado em uma “montagem”. Já no período da tarde, o parlamentar enviou uma nota à redação, reforçando que “as narrativas são mentirosas”.
“Na data de ontem (segunda-feira, 28) tomei conhecimento sobre as narrativas vinculadas em grupos de WhatsApp e nas redes sociais que, em breve resumo, apresentava uma montagem de capturas de mensagens contendo imagens que, supostamente, se referiam a comentários ofensivos vinculados a minha pessoa”, inicia a nota.
“Ao receber o conteúdo e ao ser procurado, verifiquei que se tratava de montagens para me prejudicar, sem qualquer nexo e/ou verdade, produzidos por um desafeto que há tempos vem atacando eu e minha família, por razões políticas, principalmente por não ter cedido a pressões políticas para beneficiar – ilicitamente – tal pessoa”.
“Nestes ataques, foram veiculadas imagens, inclusive de meus filhos menores e de minha esposa, além de frases ofensivas contra terceiros, satirizando iniciativas de leis de minha autoria, e principalmente, me atacando como pessoa, produzindo ‘memes’ e ‘figurinhas’, inclusive ironizando meus problemas de saúde em relação à obesidade. Em certa feita, chegou a confessar que faria montagens de cunho ‘racista’ buscando me incriminar”, continua a nota do vereador.
Santos frisa que “a pessoa por trás desta manobra, utilizou a própria esposa para deflagrar as campanhas sociais, e inclusive, produziu conteúdo contra a ex-prefeita deste município, ironizando seu falecimento, atacando diretamente a filha e o marido, e mais, conhecido no meio político por criar ‘fake news’, e mais, respondendo à processos/procedimentos por criar tais conteúdos, inclusive, se intitula ‘destruidor de reputações’”.
“Além de que, é possível verificar que em todo o conteúdo publicado, há divergência de identidades relacionada aos números supostamente conexos a mim, demonstrando claramente que o material teria sido fabricado com o único intuito político de desmoralizar minha imagem, pois, até o momento, não recebi nenhuma comunicação oficial de nenhuma autoridade, que exija minha manifestação oficial, seja por mim, por minha assessoria ou por meu jurídico”.
“Consigno que sou totalmente contra qualquer discriminação, e aqueles que acompanham meu trabalho são conhecedores desta afirmação, e mais, repúdio qualquer situação neste sentido, que venha a ofender qualquer classe, etnia, raça, gênero, enfim”, diz o vereador.
O parlamentar finaliza a nota sustentando estar “a disposição, da imprensa, das autoridades para quaisquer esclarecimentos, e que, em eventual abertura de procedimento, processo ou similar, estarei exercendo minha manifestação, relatando os fatos, inclusive, com todo material que embasa esta nota, que demonstram toda a perseguição política que venho sofrendo por não atender pedidos ilícitos e imorais”.
Repercussão na Câmara
No começo da tarde desta terça-feira, 29, o presidente da Câmara Municipal de Tatuí, vereador Antonio Marcos Abreu (PSBD), publicou nas redes sociais uma nota informando ter tomado conhecimento sobre o caso na noite de segunda-feira, 28.
“Tomamos conhecimento de um fato que, se confirmado ou não, nos entristece, é lastimável e intolerável. Toda denúncia será apurada e, como presidente da Câmara de Tatuí, informo que não serei omisso diante dos fatos. Reitero que lamento e repudio qualquer ato ou declaração ofensiva e discriminatória”, escreveu o presidente.
Já no final da tarde de terça-feira, o Legislativo municipal emitiu nota oficial sobre o assunto: “Considerando os fatos que chegaram ao conhecimento público na noite de segunda-feira, 28, a Câmara Municipal de Tatuí esclarece que não compactua com os atos supostamente cometidos por um membro do Poder Legislativo”.
“A Casa de Leis informa ainda que preza pela pluralidade humana, repudiando todo tipo de discriminação que, infelizmente, venha a assolar a comunidade. Por fim, informamos que toda denúncia será apurada”, finaliza a nota.