Vereador diz que sairá da política e que parlamentares ganham muito

Da reportagem

O vereador Rodnei Rocha (PSL), conhecido como Nei Loko, afirma estar revoltado e descrente do cargo que ocupa na Câmara Municipal. Por consequência, garante que não tentará se reeleger para um segundo mandato no Poder Legislativo.

Em vídeo que circula em mídias sociais, Rocha faz um desabafo, no qual reforça a intenção de não mais se candidatar e declara que os parlamentares recebem demais pela função.

As declarações dele aconteceram durante sessão extraordinária, realizada por SDR (sistema de deliberação remota), dia 17 de julho, para votação da matéria que suspendeu o recesso parlamentar, previsto para ocorrer entre os dias 18 e 31 de julho.

Em meio a discussões sobre a eventual suspensão do recesso, Rocha afirmou estar “analisando as pessoas que se dizem representantes do povo na Casa de Leis”.

Na sequência, declarou: “Gostaria que essas pessoas acompanhassem um pouco do dia a dia dos trabalhadores que custeiam o nosso salário gordo na Casa de Leis, para fazermos uma sessão remota de duas horas”.

Para Rocha, os vereadores não são “representantes do povo”. Ele argumenta lembrando a soma de todos os votos dos parlamentares eleitos, cujo resultado é próximo de 20 mil.

“Tive 1.200 votos, equivalentes a um por cento da população. Como posso alegar, com tanto clamor, que represento a população? Eu represento as 1.200 pessoas que votaram em mim, e teve gente que recebeu menos votos ainda”, apontou.

Isentando os parlamentares tatuianos atualmente eleitos, Rocha questionou a utilidade da função de vereador. Ainda disse não entender a necessidade de haver tantos deputados, reforçando a necessidade de diminuição do número de parlamentares.

Rocha questionou quais as ações relevantes realizadas pela Câmara nos últimos 30 anos. “Temos feito muito pouco de relevante, para falarem que querem ficar de recesso no meio de uma pandemia, onde tem muitas pessoas trabalhando, saindo de casa e se colocando em risco, assim como o pessoal da Saúde”, disse.

“A gente vem para discutir uma matéria para ficarmos mais 15 dias, sendo que já permanecemos 60 dias na casa. Não venha com hipocrisia de falar que representam o trabalhador”, completou.

Reafirmando a intenção de não tentar se reeleger, Rocha afirmou que, a partir do próximo ano, ele será “mais um trabalhador custeando a Casa de Leis”. “Sou a favor de ganhar, pois, para fazer o trabalho, tem de receber, mas não um absurdo”, acrescentou.

Manifestação reiterada

Nesta semana, ele voltou a falar sobre o assunto, em sessão ordinária na noite de segunda-feira, 27 de julho. Posteriormente, à reportagem de O Progresso, Rocha reafirmou as declarações.

O vereador apontou não ser justa a remuneração paga aos políticos. Segundo ele, “é preciso arrumar a ‘casa’ para, depois, cobrar mudança dos outros”.

Por outro lado, Rocha também fez questão de destacar que, apesar de não ter interesse em se candidatar novamente ao cargo, “como cidadão contribuinte”, ele sabe da “importância do Legislativo, assim como do Executivo e do Judiciário”, não sendo contrário a nenhum desses Poderes.

Ele reforça, contudo, a necessidade de aprovação de dois projetos, em tramitação na Câmara, para redução salarial dos vereadores e a retirada de seis cadeiras do Legislativo, “para economizar recursos”.

“Infelizmente, muitas pessoas pensam que é ‘politicagem’, que estou blefando, para ficar na mídia e, depois, me lançar como candidato. Mas, é o inverso. Mesmo se eu fosse ficar, também seria a favor de reduções que gerem economias”, garantiu Rocha.

Segundo ele, “é difícil um representante, teoricamente do povo, ganhar muito acima do que o povo ganha”. Rocha trabalha no campo de provas da Ford e afirma que os funcionários recebem R$ 1.700 por mês, enquanto a remuneração dos vereadores é de R$ 7.500.

O parlamentar indica que, com duas assessoras, o gabinete dele custa R$ 18 mil por mês. Para justificar o valor que entende ser alto, Rocha garante que a equipe dele – que integra a comissão de Constituição, Justiça e Redação – trabalha “sobre cada projeto de lei para emitir os pareceres justos”.

Ele também aponta que, sendo relator da comissão, recebe inúmeros projetos. “Não sei como que alguns vereadores têm a cara de pau de apresentar projetos sem pesquisas, totalmente ‘copiado e colado’”, declarou.

O vereador alega que várias propostas dele foram apresentadas como anteprojetos de lei ao Executivo, pois seriam inconstitucionais se fossem protocoladas diretamente como projetos de lei no Legislativo.

Como exemplo, destaca uma viagem a Itaboraí (RJ) para estudar a forma adequada de apresentar o projeto de implantação da Ceat (Clínica Escola para Autistas de Tatuí), destinada a atender pessoas com TEA (transtorno do espectro autista) e outras síndromes.

O parlamentar entende que, durante os pouco mais de três anos e sete meses de mandato, conseguiu cumprir “muito mais do que imaginava da promessa de campanha dele para atuar em prol às pessoas com deficiências”.

Além da Ceat, Rocha destaca a implementação do Departamento Municipal da Pessoa com Deficiência e Mobilidade Reduzida, o CIR (Centro Integrado de Reabilitação), o banco de cadeiras de rodas e oficina de próteses e a compra de brinquedos adaptados – que, segundo ele, já está licitada.

“Não pretendo mais ser candidato. Estou com 48 anos e entrei com uma proposta na qual acredito que alcançamos ainda mais do que esperávamos. Creio nas possibilidades que Deus nos dá, mas, agora, sinto no meu coração que Ele falou para eu persistir mais. Não tem oferta que pague”, garantiu.

“Eu era muito mais feliz antes de ter sido eleito vereador por, simplesmente, ser eu mesmo. Hoje, se eu for em um bar para beber, vão tirar e postar fotos minhas, bêbado. Fui eleito vereador, não um santo”, complementou.

De acordo com Rocha, a “decepção com as pessoas” é mais um motivo que o desestimulou à política. Segundo ele, “os políticos distorcem a realidade para falar o que o povo quer ouvir. “Eles não falam a verdade – afinal, se fizessem isso, não receberiam votos. A única coisa que eles querem é a reeleição”, afirmou.

“Paralelamente, o povo cobra que político tenha caráter, mas não colabora. Não haveria políticos corruptos se toda a população realmente fosse honesta”, completou Rocha.

Por fim, o parlamentar declara ser cobrado por muitos motivos, mas “não é lembrado pelo que já conquistou”. “Isso é desanimador. Nunca quis fazer carreira política, mas entrei com um objetivo e creio que avancei nele. Se Jesus não conseguiu mudar o mundo, eu também não vou conseguir, apensa vou arrumar muitos inimigos”, concluiu Rocha.