Quem não conhece o “Decinho”? Certamente, apenas quem está há pouco tempo na cidade, ou mesmo quem, apesar de residir aqui há algum tempo, apenas “está” em Tatuí, sem qualquer interesse e empenho em “ser” tatuiano. Há uma diferença, grande!
É claramente perceptível a presença de figuras que vêm à cidade para trabalhar – ou por conta de outros afazeres menos admiráveis – mas que sequer disfarçam a postura de que “estou aqui, mas não sou daqui”.
Por consequência, para esses, desde que tenham seus rendimentos garantidos, a Capital da Música pode desafinar por completo, que não faz diferença. Daí porque se interessam, tão somente, por um pouco do presente local, notadamente a pequena parte que lhes rende algo.
Esse não estar aqui de fato – ou poder-se-ia dizer “não estar nem aí” – dá o valor de absoluto zero ao passado da cidade, à sua rica história. Contudo, ainda menos importância significa o futuro, até porque esperam não estar mais aqui quando esse tempo chegar.
No outro extremo, não obstante, há pessoas que não deixam de “olhar para frente”, sempre buscando formas de agir no presente para garantir um futuro melhor -, ou, no mínimo, menos ruim.
O ambientalista Décio Soares, o “Decinho Verde”, é um desses tatuianíssimos, que prezam por sua casa em todos os níveis de tempo e espaço: valorizam a história do município e cuidam dele da melhor forma que lhes é possível.
Claro, a “casa” do Decinho é a nossa casa: nossa cidade, nosso Estado, nosso país, nosso planeta… Para um ambientalista de verdade, não há fronteiras: há um mundo a se preservar, a se salvar.
Mas, retornando a nosso pequeno mundinho caipira, não há quem se sinta pertencente à cidade, que se sinta comprometido com Tatuí – tenha aqui nascido, ou não -, que não conheça o trabalho sempre empenhado, correto e abnegado do Decinho. Só quem não está nem aí mesmo…
Portanto, quando o ambientalista “Alerta” (nome da entidade que se confunde com o histórico realmente “ativista” de Decinho) que o futuro da cidade pode estar seriamente comprometido, é para se levar (muito) a sério – especialmente pelos que pretendem manter a casa em pé, onde querem que seus filhos possam continuar morando mais à frente, com um mínimo de conforto.
Na semana passada, reportagem em O Progresso abordou o perigo apontado por Decinho, referente ao “ar” da cidade, cuja manutenção da qualidade já é um grande desafio no momento.
Isto não porque está ruim, mas pela expectativa de que pode vir a ficar. De acordo com a estação de monitoramento da Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo), a qualidade do ar da cidade é considerada boa.
Os níveis de poluentes, como as partículas inaláveis (MP10), dióxido de nitrogênio (NO2) e gás ozônio (O3), estão dentro do aceitável.
Embora a qualidade esteja boa, o ambientalista afirma que a cidade precisa ficar atenta com a arborização e a criação de parques e praças, se quiser manter a atual condição, considerando-se a instalação de novas indústrias.
“A gente precisa de ações fazendo com que a cidade se torne mais verde, para melhorar o ar. Tatuí não tem uma arborização adequada. Essa falta de arborização prejudica”, sustentou.
Segundo ele, o maior risco que a cidade sofre é com a criação de “ilhas de calor”, um fenômeno climático que ocorre em áreas com intensa urbanização. A arborização e criação de praças e parques evitaria a ocorrência, principalmente na região central, a mais propícia.
“A cidade precisa ter um cinturão verde, porque, senão, cria ilhas de calor. Aqui, a gente nota que, nesse aquecimento, a cidade fica insuportável”.
O trabalho de arborização precisa ser constante. Árvores velhas e que apresentam risco aos moradores devem ser retiradas e ter novas mudas plantadas no lugar.
“Precisa ser um trabalho constante. Quando uma árvore é retirada por estar muito velha, no mínimo, precisam ser plantadas duas árvores para repor, dependendo da situação e do local”, orientou.
Também é preciso, sempre, estar atento se o tipo de árvore plantada é o ideal. Árvores de grande porte, por exemplo, devem ser evitadas em calçadas.
“As pessoas pensam que as árvores atrapalham. Então, precisa ter uma conscientização com os donos das casas e colocar a espécie adequada para aquele local”, lembrou Decinho.
Para o ambientalista, a cidade dispõe de uma legislação ambiental boa. “Entretanto, o poder público precisa colocar em prática algumas ações e fazer a fiscalização”, ressaltou.
A aplicação da lei, afirmou Decinho, deve ser vista pelos cidadãos como a garantia de que todos terão um futuro melhor, do ponto de vista ambiental.
Decinho também observou que, apesar de os empreendedores plantarem o número correto de árvores nos loteamentos e fazerem a arborização adequada, os compradores dos lotes acabam retirando as mudas no início da construção da residência. O plantio nem sempre é refeito ao final da obra, o que prejudica a aplicação da lei.
“Nos loteamentos novos, as pessoas não conseguem colocar uma árvore em frente de casa, por causa da garagem, que acaba ocupando o espaço. Então, precisa criar algum padrão para esses empreendimentos”.
Decinho defende a criação de novos parques. “A gente precisa, sempre, criar parques, como o “Maria Tuca” e o Vale dos Lagos, que não é formalmente um parque, mas é uma área verde. A cidade precisa de novos parques e criar, urgente, um cinturão verde”.
O ambientalista ainda reforça o foco no crescimento planejado. “Felizmente, temos o Plano Diretor, que norteia as atividades de todos os setores, o imobiliário e de indústrias”, argumentou.
Por sua vez, a consciência ambiental do tatuiano está crescendo, na opinião de Decinho. “Apesar de ter maior consciência da lei da ação e reação da natureza, a população precisa ser protagonista e não só esperar as soluções do poder público”.
“Todo mundo pode criar uma área verde no seu quintal e contribuir com o problema das enchentes, assim como pode plantar uma árvore e colaborar com a qualidade do ar”.
Decinho finalizou apontando que a defesa do meio ambiente é um trabalho constante, envolvendo sociedade, poder público e empresas. Só assim, na opinião dele, a cidade manterá o ar limpo e a temperatura agradável, mesmo com a instalação de novos empreendimentos.
Mais uma vez, a velha história: se cada um fizesse a sua parte, o mundo seria outro… Nossa casa seria outra, muito melhor. Contudo, há pessoas e pessoas, Decinhos e parasitas… Uns edificam, árvores e o mundo; outros, os derrubam.
Infelizmente, não é possível plantar edificadores, tal como é impossível sair por aí ceifando ervas sociais daninhas. Portanto, além de cultivarmos os verdadeiros ativistas e fazermos nossa parte como cidadãos – como tatuianos -, é esperar que a própria natureza faça florescer novos Decinhos para salvar o futuro de Tatuí e do mundo, da nossa casa.