‘Vakinha’ virtual arrecada R$ 100 mil para ajudar jovem com câncer raro

Valor da ação é destinado a cirurgia para retirada de tumor no cérebro

Lucas Pestana, em recuperação após a segunda cirurgia (Foto: arquivo postal)
Da reportagem

Uma “vakinha” virtual mobilizou moradores de Tatuí e de diversas regiões do país, alcançando R$ 100 mil em apenas uma semana, para ajudar o nutricionista Lucas Pestana, um jovem local de 28 anos.

A ação solidária ajudou a custear parte de uma cirurgia para a retirada de um câncer cerebral considerado raro – principalmente, na faixa etária abaixo dos 50 anos -, e pode ter salvado a vida do jovem.

Pestana foi diagnosticado, em outubro de 2022, com glioblastoma multiforme, de grau quatro. Um tumor maligno, altamente invasivo, formado no sistema nervoso central, a partir de células chamadas astrócitos, responsáveis por sustentar e nutrir os neurônios, conforme explica uma clínica especializada em oncologia.

A O Progresso de Tatuí, a esposa, Dayane Pestana, contou que os sintomas da doença começaram a aparecer no início do ano passado. O jovem sentia formigamento nos membros inferior e superior do lado esquerdo do corpo, além de uma sensação de vômito.

Como os sintomas persistiram, Pestana agendou consulta com um médico da cidade e fez uma bateria de exames para tentar descobrir a causa dos desconfortos. No entanto, os resultados foram “bons”.

“Na época, o médico disse que poderia ser estresse e receitou um calmante para o Lucas. De fato, estávamos nos preparando para o nosso casamento, agendado para o mês de setembro. O Lucas estava fazendo estágio e tinha outras coisas que poderiam acarretar o estresse”, contou a esposa.

O casamento ocorreu no dia 3 de setembro, e eles realizaram a viagem de lua de mel sem intercorrências graves. Contudo, segundo Dayane, o tempo todo, Pestana fazia queixas sobre os formigamentos no corpo e mal-estar.

Em outubro, ainda recém-casado, passou a ter fortes dores de cabeça, as quais, frequentemente, levaram-no a buscar atendimento na UPA (unidade de pronto-atendimento) de Tatuí.

“Ele recebia medicamentos algumas vezes na veia, para fazer efeito mais rápido, e assim foi até o meio do mês, quando um dos médicos da UPA pediu uma ressonância magnética, na qual descobrimos a presença de uma massa no cérebro do Lucas”, relembrou.

Conforme Dayane, como a massa estava alojada no cérebro, foi necessária uma cirurgia para o exame do material. Pestana permaneceu internado na UPA até o dia 27 de outubro e, posteriormente, foi transferido para o Hospital Regional de Sorocaba “Adib Domingos Jatene”, onde realizou a primeira cirurgia.

O procedimento ocorreu no dia 9 de novembro, removendo uma parte do tumor. Com o resultado, o médico deu o diagnóstico do tumor e alertou a família sobre a necessidade de uma segunda cirurgia para a retirada completa da massa.

O profissional de saúde também informou aos familiares sobre a possibilidade de o paciente ter apenas alguns meses de vida, devido à baixa taxa de cura da doença, ainda considerada rara e agressiva.

Dados do Instituto Nacional do Câncer dos Estados Unidos estimam que a frequência desse tipo de tumor, no estágio primário, é de 2 a 3 para cada 100 mil adultos por ano, em pacientes entre 45 e 70 anos de idade.

Já os casos que se transformam em grau quatro por mutações de astrocitomas, como o de Pestana, geralmente ocorrem em pacientes menores de 45 anos e correspondem a 10% dos diagnósticos de glioblastomas.

Conforme a esposa, o diagnóstico veio como “uma bomba prestes a explodir”, mas a fé “inabalável” de Pestana e dos familiares não deixou que eles perdessem a esperança de cura.

A partir de então, iniciaram-se as buscas por um cirurgião especializado para a realização da segunda cirurgia, e os familiares criaram um grupo de oração com mais de cem pessoas, de diferentes denominações religiosas, unidas para interceder e pedir pela cura de Pestana.

Na busca pelo melhor tratamento, o primeiro médico consultado passou um orçamento de mais de R$ 90 mil para a realização da cirurgia e, como o valor era muito alto, a família lançou a campanha pelo site ‘Vakinha Virtual’.

“Ali, as pessoas começaram a se mobilizar, e nós começamos a receber doações de diversos lugares. Com a intervenção e a ajuda de Deus, também surgiram pessoas que realizaram bingos, venda de pães, shows beneficentes e outras ações solidárias que conseguiram levantar o dinheiro para a cirurgia”, contou Dayane.

“Enquanto a campanha acontecia, nós também nos uníamos em oração. Todas as noites, às 20h, fazíamos orações pela cura do Lucas. Deus moveu a cidade inteira; Ele paralisou todo mundo. Em uma semana, nós conseguimos arrecadar o valor da cirurgia”, celebra a esposa, atribuindo a Deus a ajuda que receberam.

Durante o período de arrecadação, um morador de Itapetininga, que também tratou um tumor semelhante, com sucesso de cura, encontrou a história de Pestana, por meio da vaquinha virtual, e decidiu visitá-lo para recomendar o médico que o ajudara.

“Ele disse que tinha passado pela mesma situação que o Lucas, com um tumor muito parecido do lado direito do cérebro, e nos indicou o neurocirurgião Feres Chaddad, o qual tinha realizado a cirurgia dele com sucesso. Ele nos falou muito bem do médico, e sentimos confiança em procurar o profissional”, argumentou a esposa.

Pestana conseguiu agendar uma consulta com o neurocirurgião, realizou uma nova ressonância magnética e passou pela cirurgia de remoção do tumor no dia 11 de janeiro, no Hospital Beneficência Portuguesa, em São Paulo.

“Deus colocou o Fabrício no nosso caminho (o morador de Itapetininga), e ele nos apresentou um médico maravilhoso para ser um instrumento de Deus na vida do Lucas. Depois da cirurgia, o médico disse que tinha conseguido retirar toda a massa”, comemorou a esposa.

“A cirurgia foi um sucesso. Ficaram apenas algumas células na parte motora que estavam mais infiltradas, e o Lucas precisará de um tratamento com radioterapia ou quimioterapia para a cura completa”, acrescentou.

Pestana ainda deve consultar um especialista em oncologia e realizar novos exames para saber qual o melhor tratamento indicado para a doença, mas está tendo uma boa recuperação, conforme informou a esposa.

“Ele está um pouco debilitado ainda, devido à complexidade da cirurgia, mas andando e fazendo fisioterapia todos os dias. Ele tem se recuperado e melhorado a cada dia. Além disso, não teve mais a dor de cabeça que tinha. Acreditamos que, com a graça de Deus, ele vai se recuperar completamente”, concluiu Dayane.