UTI neonatal





Semana passada, o médico obstetra e vereador Carlos Rubens Avallone Júnior (PMDB) divulgou, na Câmara, que a Maternidade “Maria Odete Campos Azevedo”, da Santa Casa, registrou três óbitos de recém-nascidos no mês passado.

O parlamentar disse que haveria chances de os falecimentos não terem ocorrido caso existissem vagas suficientes em UTI (unidade de terapia intensiva) neonatal.

Na sessão ordinária, na noite do dia 28, Avallone divulgou que pediu providências ao secretário estadual da Saúde, o médico David Everson Uip.

O vereador enviou requerimento ao secretário solicitando informações sobre providências tomadas pelo Estado no “sentido de disponibilizar número de leitos de UTI neonatal que possam atender adequada e prontamente a demanda do município e de outros 47 que dependem de referenciamento”.

Conforme Avallone, os leitos são gerenciados pelo DRS (Departamento Regional de Saúde), de Sorocaba. O vereador afirmou que a demanda dos 48 municípios é muito grande e que precisa ser “melhor dimensionada”.

Para ele, o Estado tem a “obrigação de elevar o número de leitos oferecidos” para atender a casos mais complexos. Também afirmou ser necessária a abertura de mais vagas, mas que elas precisam estar referenciadas pelo Cross (Central de Regulação de Oferta de Serviços de Saúde).

“O custo é extremamente elevado, e é preciso gerenciar, porque os leitos não podem ficar ociosos. A Regional tem a obrigação de se adequar para atender à demanda dos seus 48 municípios. Nada mais justo”, afirmou.

Segundo ele, a SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria) orienta que, para cada 250 nascidos vivos, é preciso haver um leito de UTI neonatal. Em Tatuí, seriam necessários oito leitos, com base nos 2.000 partos registrados no ano passado.

Contudo, o médico ressaltou que a UTI neonatal – se criada em Tatuí – teria de, obrigatoriamente, atender totalmente a área de abrangência do DRS.

A razão é o custo para manutenção de uma unidade especializada. Avallone citou que a Santa Casa não teria condições de dispor de leitos de UTI neonatal apenas para atender aos nascimentos na maternidade.

“Não se pode montar em Tatuí para que ele fique ocioso. Então, é melhor ter esse serviço de ponta num lugar que atenda à demanda não só daqui, mas de toda a região”, disse o médico. No entendimento dele, porém, Tatuí poderia ser o município indicado para abrigar o atendimento.

A única ressalva é que a UTI seja respaldada pelo Estado e que atenda à região. Nesse caso, a maternidade teria de entrar no sistema do Cross como referência. “É o que aconteceu com Itu, que antigamente não fazia parte da central”.

Entretanto, o hospital também esbarra em outro fator: o recurso. Avallone destacou que a Santa Casa não tem dinheiro para implantar uma UTI e mantê-la.

“É um investimento extremamente caro e que tem que ser feito pelo Estado, não pelo hospital e nem pela Prefeitura”, enfatizou.

O médico frisou que a manutenção do serviço sem qualquer ajuda é elevada. De acordo com ele, o custo de um intensivista de UTI gira em torno de R$ 3.000 por plantão.

Somado aos vencimentos dos enfermeiros, que precisam ter treinamento mais apurado, equipamentos e medicamentos, o gasto que o hospital teria seria inviável tanto para a Santa Casa quanto para a Prefeitura.

Avallone também afirmou que, “se o Estado resolver premiar Tatuí”, deve dar condições para o funcionamento da UTI neonatal. Citou, como exemplo, o hospital da Unimed, o qual, na cidade, oferece UTI semi-intensiva. “Se ele não tomar cuidado, mesmo sendo hospital privado, pode quebrar”, declarou.

Por esse motivo, Avallone citou a necessidade de avaliação “mais detalhada” por parte da Secretaria de Estado da Saúde. Dessa maneira, ele entende que o Estado poderá, ou não, viabilizar novas UTIs neonatais, ou melhorar a distribuição de vagas para atendimento dos 48 municípios.

“A demanda da região existe. São 2,3 milhões de habitantes, que resultam, em média, em 30 mil partos por ano. Se dividirmos isso pelo número de leitos, vamos ter o mínimo que precisamos para atender a essa população”.

Também conforme ele, o cálculo deve levar em consideração margens estatísticas. Avallone afirmou que, dos nascidos prematuros, uma parte não vai conseguir sobreviver, mesmo que tenha acesso a tratamento adequado.

“Ocorre que grande parte vai ter chance. Vide os quíntuplos (nascidos de cesariana no dia 13 de abril) que estão fazendo sucesso no Brasil todo”, comentou.

De acordo com o médico, uma UTI neonatal não evitaria 100% dos óbitos, mas daria mais chances de sobrevida às crianças. “Em primeiro lugar, é preciso deixar claro que milagres quem faz é Deus, mas, se há condições técnicas de dar suporte mais adequado à vida, vai ter mais chances de sucesso”.

A UTI neonatal atende, basicamente, casos de prematuridade. Também recebe crianças que apresentem complicações neonatais (má formação do coração, por exemplo, ou que enfrentem um processo infeccioso).

Os três casos de óbitos registrados em Tatuí em abril foram de bebês “prematuros extremos”.

Esta notícia foi publicada por O Progresso já na semana passada, porém, tem seu teor repercutido novamente agora, de forma que se evidencie ainda mais a seriedade da questão.

Como disse com exatidão o médico e vereador, embora não se possa esperar milagres – que cabem a Deus -, ao menos o que corresponde aos homens (públicos), se deve cobrar. Neste caso, a chance da sobrevivência de bebês. Evidente que há custos, mas quem pode ser contra?