Neologismo é o termo referente à origem de novas palavras, lembrando, como se diz, ser a língua algo “vivo”, em constante mudança – ora dando origem a novas palavras e expressões, ora as quase extinguindo.
Exemplos não faltam, como o verbo “trolar” substituindo o “caçoar”, “gozação” sobre algo ou alguém. Também podem ser lembrados os sepultos “reclame”, para publicidades de rádio e TV, ou o sirigaita, expressão machista substituída pela contemporânea não menos ofensiva “cachorra”.
Nesta seara das palavras, farfalhada pelo tufão do novo coronavírus, surgiu o neologismo inglês “covidiot”, utilizado para adjetivar aqueles que negam a gravidade da pandemia (senão ela própria) e, portanto, recusam-se a usar máscaras, ignoram a importância da higienização e, agora, indicam não ter interesse em se vacinar.
Como tantas outras expressões, não representa necessariamente a realidade – tal a sirigaita, também pejorativa, muitas vezes impondo má reputação a quem não merece.
Como o corpo e o destino das mulheres a elas pertencem, não havendo mínimo direito de os homens julgarem-nas maldosamente só por serem “namoradeiras” (em uso de outra expressão “démodé”), também não é correto classificar todo negacionista como obtuso.
No entanto, o neologismo a respeito tem ganhado corpo na língua inglesa – e agora portuguesa -, merecendo certa distinção e cuidado quanto ao contingente que lhe é atribuído.
Ou seja, muitas pessoas não respeitam as normas de distanciamento e as demais medidas de prevenção, simplesmente, porque falta-lhes informação – algumas até sustentam não ter tempo para se informar… Basta-lhes as postagens do grupo sectário a que, inadvertidamente, pertencem.
Por certo, em mais um aspecto delicado, as redes sociais são o maior instrumento de desinformação para este público. A idiotice, no entanto, não está em quem recebe as mensagens mentirosas, mas em quem as envia – ou as repassa de forma consciente.
A motivação para a idiotice, obviamente, está em defender a política negacionista – mesmo que dela não se tire proveito, lembrando que, para a população em geral, que não ocupa cargo público e não será candidata a nenhuma (re)eleição, quanto mais tempo durar a pandemia, pior.
Não há qualquer sentido ou ganho, por conseguinte, em posicionar-se contra a vacinação em massa, senão àqueles que seguem apostando no caos.
Nem estes, contudo, podem ser compreendidos como “idiotas”, até porque sabem o que estão fazendo, têm consciência de, em última instância, estarem antecipando a morte de milhares de brasileiros. Agem, portanto, manipulando propositadamente a desinformação, conforme interesses alheios à saúde pública.
Por este motivo, sim, merecem ser ofendidos, embora não com o neologismo “covidiota” – talvez algo como “coveiretes” caiba-lhes melhor…
O resultado de todas estas pragas em simultâneo, da pandemia, do oportunismo, da economia e da alienação, tem sido trágico, retroalimentando-se inclusive, com uma má influenciando a outra, e assim por diante.
Tatuí, claro, não escapa à regra, contendo em suas fronteiras tanto incautos quanto coveiretes. Alguns, claro, manifestam-se nas redes – no que estão em seu direito, naturalmente. Problema é o fato de poderem atrapalhar a imunização programada para os próximos meses.
Basta observar alguns dos argumentos negacionistas, como o de que a época eleitoral representou a “realidade” quanto à pandemia. “Acabou a eleição, voltaram as mortes”, apontam.
Na verdade, seria simples reconhecer que houve um isolamento crescente, tal como a curva de contaminações, desde março. Em setembro, manteve-se a maior média de casos (235 entre os dias 12 e 18, por exemplo), e, então, teve início certa queda, a qual chegou a 73 confirmações, entre os dias 24 e 30 de outubro.
As mudanças, conforme não apenas as contaminações, mas considerando-se o número de óbitos e leitos para atendimento em UTI, foram acompanhadas das fases menos restritivas de isolamento, por consequência.
As eleições apenas tiveram o calendário no meio dessa trajetória, em cujas curvas de fases coloridas e da própria estafa quanto ao isolamento já haviam acontecido várias escorregadas. Em seguida, todos passaram a testemunhar as farras dos pancadões e festas de fim de ano sem medo de ser feliz.
O resultado não poderia ser outro senão o aumento médio de confirmações e óbitos, como de fato tem acontecido. Esta semana, entre os dias 2 e 8, houve seis falecimentos confirmados por coronavírus – o segundo pior resultado da série, apenas inferior às 13 mortes ocorridas entre os dias 15 e 21 de agosto.
Diante de realidade tão grave a envolver a possibilidade de mais mortes precipitadas, seria extremamente oportuna a imunização contra os verdadeiros covidiotas – ou seja, que a curva de contaminados por mentiras, manipulações e insensibilidade diminuísse drasticamente.
Problema é isto só concretizar-se quando alguém próximo ao infectado pelo extremismo vem a enfrentar a dor da doença – dada a empatia já nem poder mais ser entendida como objeto de luxo, parecendo estar à beira da extinção, pior que as denominações “botica” para farmácia ou “víspora” para bingo.
No momento, é lamentável ter de reconhecer, mas muitos podem se desesperar ao darem com a porta das UTIs na cara se delas precisarem para internar seus pais, seus avós…
Mesmo para quem ainda insiste em não se informar corretamente, os números são evidentes, com a matemática inquestionável: nunca na história de Tatuí houve tantos leitos de UTI à disposição, embora todos com esse volume de ocupação, eventualmente chegando a 100%, como ocorreu na quarta-feira desta semana.
Se isto não é suficiente para demonstrar a gravidade da pandemia e sensibilizar “totalmente” a população, então, a despeito de eventual ofensa a quem não merece, é preciso mesmo chamar os dicionaristas e acrescentar, junto ao covidiota, também o neologismo coveirete – sinônimo de idólatra da morte.