José Ricardo Bandeira *
A morte de pessoas inocentes vitimadas por balas perdidas nas comunidades das grandes cidades, expõe para o mundo uma triste realidade, de violência e dor.
Enquanto discutimos de onde saíram os tiros que mataram essas vítimas inocentes, matando com elas os sonhos e esperanças de suas famílias, esquecemos de discutir outro fato tão importante quanto: por que armas de guerra estão sendo utilizadas em áreas urbanas? Seja na mão de criminosos ou mesmo de policiais.
Alguns certamente dirão que essas armas estão ali pois estamos em estado de “guerra” ou que os traficantes estão mais bem armados que a polícia, entre tantos outros argumentos, mas será que tudo se resume a isso?
Devemos então nos conformar com tal situação e esperar que um dos lados desta guerra vença? Preferencialmente o lado do Estado organizado, é logico.
Agora falando em Estado como ente cuidador e garantidor da segurança pública, o que ele tem feito de efetivo para prover a paz nos principais centros do Brasil?
No que cabe ao governo federal nas últimas décadas, infelizmente o saldo é negativo, tornando-o o grande vilão da segurança pública em todo o Brasil, pois se mostrou incapaz de impedir que drogas, armas e munições atravessem as nossas fronteiras, nossas estradas, portos e aeroportos e cheguem às comunidades dominadas pelo tráfico de drogas, possibilitando a morte de crianças e vítimas inocentes.
Quanto aos governos estaduais, a falta de investimentos em tecnologia de inteligência e investigação, juntamente com a falta de combate às organizações criminosas compostas em sua maioria por políticos, empresários e policiais corruptos, faz com que o tráfico de drogas domine cada vez mais territórios, deixando refém milhares de brasileiros que hoje vivem à margem do Estado legalmente constituído.
Diante da omissão dos governos estaduais e federal, os nossos governantes ainda veem como saída a intensificação da política de enfrentamento armado nas comunidades, contrariando os dados históricos que comprovam que essa política de enfrentamento praticada há décadas em alguns estados, nunca reduziu os índices de criminalidade e violência.
E infelizmente, enquanto a segurança pública não for tratada como ciência e sem servir de palanque para alavancar eleições, continuaremos vivendo esta triste realidade de crianças e trabalhadores inocentes mortos por balas “perdidas” e pela confusão, omissão e descaso das autoridades; continuaremos vivenciando essa triste realidade de uma guerra que, de fato, só existe pois beneficia alguns em detrimento de milhões, e da dor sofrida por toda a sociedade que agoniza a cada nova ferida que surge sem sequer curar a anterior.
* Perito em criminalística e psicanálise forense, presidente do Instituto de Criminalística e Ciências Policiais da América Latina, presidente do Conselho Nacional de Peritos Judiciais da República Federativa do Brasil, membro ativo da International Police Association e presidente da Comissão de Segurança Pública da Associação Nacional de Imprensa.