“Um Século de Progresso”! Assim é denominado o suplemento (mais que) especial a chegar aos leitores junto à edição deste final de semana. O tabloide, resultado de aproximadamente um ano de trabalho, apresenta todo o histórico do jornal O Progresso de Tatuí, fundado em 30 de julho de 1922.
Contudo, a publicação não se resume, naturalmente, a assuntos inerentes a uma empresa em particular, extrapolando em muito qualquer aspecto de interesse privado. Na verdade, resgata e traz à tona os primórdios da própria comunicação profissional em Tatuí.
Parte, portanto, da história de um jornal chamado “Progresso de Tatuhy” – que não era este “O Progresso” -, ressaltando a incomum e “multiprodutiva” vida de Antônio Moreira da Silva, fundador de jornais no plural, advogado, político e empreendedor por excelência.
Segue o especial com as disputas políticas, no início do século passado, as quais redundaram em várias publicações – entre as quais, a criação deste periódico, com nome em homenagem ao precursor.
Já nesse renascer, não obstante, a despeito de quaisquer corriqueiros interesses de poder, já se marcava em editorial algo que, de maneira sempre devotada, segue em respeito até hoje: o compromisso de o jornal realmente trabalhar pelo progresso de Tatuí.
Nessa apresentação, escreveu o então editor, Candido de Souza Freire:“Trabalhar com ardor, pelo progresso de Tatuhy é, pois, o nosso programma, tanto quanto possa desejar todo o tatuhyano que se interesse pela paz, pela ordem, pela prosperidade deste municipio digno de um povo que conheça as suas riquezas naturaes e se consagre a aperfeiçoa-las, para o conforto proprio e para a grandeza de S. Paulo – Brasil”.
Em seguida, a sempre delicada missão de informar com seriedade e “verdade” – que já não era fácil bem antes do advento das redes sociais, considerando-se as fake news como eternas -, acabou assumida pelo popular Zé Marinheiro, uma figura também tão produtiva quanto peculiar, a qual só engrandece e torna ainda mais saborosa a história de O Progresso.
A partir dele, seu filho, Vicentinho e, depois, o sobrinho José Nascimento vêm a ocupar a direção do periódico, que seguiu na família Ortiz de Camargo até 1980.
As transformações ao longo deste último século, envolvendo tanto a publicação quanto o próprio município, tal como as maiores contribuições do jornal a Tatuí, ainda são destacadas no suplemento, cujo conteúdo, pelo volume e melhor visualização aos leitores, é dividido por blocos.
Assim, em seis capítulos, o especial, inicialmente, apresenta a origem da imprensa tatuiana e a fundação do jornal mais longevo da Cidade Ternura – e um dos mais antigos do país -, sob a identificação de “Origens de Progresso”.
Na sequência, há a série de reportagens com o indicativo “Agentes de Progresso”, nas quais são resgatadas as trajetórias daqueles que, entre proprietários e colaboradores, foram fundamentais para a publicação em suas primeiras décadas.
No terceiro capítulo, encontram-se algumas das contribuições do jornal à comunidade, em “Legado de Progresso”, como, entre outras, o título “Cidade Ternura”, a Semana Paulo Setúbal, o Concurso Artístico e Literário de Natal e o primeiro guia turístico do município.
Em “Décadas de Progresso”, centenas de notícias são republicadas – tal como veiculadas na época -, selecionadas entre as mais significativas dos primeiros 80 anos da publicação.
Quando necessário, algumas trazem notas de rodapé, contextualizando-as. Outras notícias – as mais relevantes – são reportadas em textos maiores, com a inserção de trechos publicados à época.
Por sua vez, “Progresso em Curso” marca a passagem do periódico para a administração atual, depois de 59 anos sob a responsabilidade da família Ortiz de Camargo.
Nesse segmento, compõem as reportagens as mudanças mais relevantes implantadas no jornal durante as últimas décadas – como a passagem da tipografia, em processo praticamente artesanal, à impressão em offset, as atualizações visuais constantes e o avanço para o digital.A colaboração imprescindível de diversos colunistas compõe o último capítulo, chamado “Família de Progresso”.
O termo “família”, recorrente na publicação, não é por acaso. Isso porque, a partir do patriarca, o velho Marinheiro, o jornal deixou a infância para trás, amadureceu e gerou seus próprios filhos – entre os quais, Maurício Loureiro Gama, o mais destacado, de importância facilmente notada ao longo da publicação.
O Progresso cresceu, tornou-se maduro, porém, nem por isto deixou de impor desafios para aqueles que o fazem renascer a cada nova edição como um filho, carente de cuidados e atenção.
Mas, claro, os filhos não rendem apenas desafios. Muito mais, nascem com o poder de inspirar o amor. E é por isto, por amor, que este filho chamado O Progresso acabou por tornar-se não só parte de mais de uma família, mas algo vivo dentro delas, feito um ser de fato, embora concebido e reconcebido, periodicamente, em tinta e papel.
E quantas mais foram as dificuldades, mais o sentimento de carinho se faz crescer, como acontece com aquele de nosso próprio sangue que não “para de dar trabalho”, mas o amamos mesmo assim – ou, talvez, até mais por isso…
Que esta edição centenária, portanto, concebida para ser verdadeiramente especial, sirva de homenagem – a partir e em particular da família Ortiz de Camargo – a todos que contribuíram, de qualquer forma, hoje ou no passado, com a saúde e vida desta velha criança.
Afinal, O Progresso de Tatuí pode não ser uma empresa sustentada pela mesma dinastia ao longo deste século, mas, certamente, é patrimônio de uma só família: a família tatuiana.