Como em tantas outras atividades às quais são impostas revisões, reformas, renovações, reinvenções e, eventualmente, até o reconhecimento de suas eventuais extinções, o jornalismo não escapa à regra.
Naturalmente, assim também enfrenta desafios ainda sem claras soluções, sem manuais definitivos ou infalíveis receitas prontas a apurar o paladar dos consumidores de notícias, de tal sorte a levá-los a somente consumirem informações de credibilidade – com gostinho de verdade – e não engolirem tanta porcaria – servida de graça e em fartura pelas redes sociais.
Sim, a internet é o epicentro das revoluções na comunicação, embora, longe do que muitos imaginam, não como problema absoluto aos veículos chamados “tradicionais”. Em verdade, abriu novo espaço e possibilidades de divulgação nunca antes possíveis, sequer imaginados.
Parte daí, sobretudo, a realidade de que o número de consumidores de notícias aumentou exponencialmente, atraídos pelas redes sociais e, por elas, direcionados aos portais de notícias. O resultado é que nunca tanta gente chegou a ler, ouvir e assistir reportagens como na atualidade.
Isso é ótimo, tanto para o cidadão – aquele que busca informações de confiança – quanto para os veículos, que têm aumentado o público leitor, telespectador radiouvinte.
Não obstante, como em quase tudo na vida – inclusive, entre os seres humanos, que não são pura e totalmente “do bem” ou “do mal” (coisa na qual somente creem pessoas impressionantemente incautas) -, a internet pode ser excelente e terrível ao mesmo tempo.
Basicamente, é extraordinária como veículo de “comunicação” e deplorável como instrumento de “informação”. São qualidades distintas, embora confundidas pelo senso comum.
Na rede, tanto pode-se ser levado a sites de informações sérias, reais, quanto às onipresentes “fake news” – estas, sim, o grande problema e desafio a ser enfrentado pela imprensa tradicional.
Mas, não apenas pela imprensa. É capital a urgência de o cidadão saber diferenciar e consumir a informação correta, preparada com todos os ingredientes necessários ao cozimento do bom jornalismo.
Caso contrário, a ingestão de fake news seguirá contaminando o planeta e, assim, engordando essa ininterrupta pandemia de ignorância, que tem causado tanta regurgitação de ódio, paranoias, hostilidades e desagregação – tudo muito bem temperado com o fermento da desinformação.
Frente a tantos desafios, sobra à imprensa escrever sua própria receita de um novo cardápio, que tanto atraia e sustente seu público, quanto não lhe inviabilize a sobrevivência, vez que, diante da confusão em meio à rede, ainda se crê que informação não tem valor, devendo ser acessada “de graça”.
Na verdade, a velha máxima de que conhecimento (informação) é poder não deixou de ser verdade e, portanto, vale o preço a ser pago. O problema é que a mentira também se tornou moeda cara, uma vez nas mãos das massas de manobra a cutucarem seus celulares…
Por derradeiro, já há veículos no país, aproveitando-se de um público mais crítico e consciente, trabalhando em número crescente com as assinaturas digitais – feito “streaming”, comercializando notícias como a Netflix vende a exibição de séries e filmes.
Contudo, nós aqui, do “interior” – a grande maioria dos jornais e outros tantos veículos de comunicação -, ainda não vivenciamos essa realidade e, por conseguinte, temos optado pela receita de compartilhar quase todo o conteúdo do veículo tradicional nos portais da internet.
Mas, tudo isto são desafios da imprensa, que pouco ou nada podem interessar ao leitor. Estão aqui lembradas, porém, dada a relevância de a “verdade” ter de ser valorizada frente à “mentira” – algo que a todos deve interessar, indistintamente.
Um último aspecto, contudo, ainda vale ser observado, mormente pelo caráter curioso, senão risível e revelador da real personalidade das pessoas, oculta “cara a cara”, mas solta e sem freios na suposta impunidade das redes sociais.
Ela pode ser notada quando, por exemplo, O Progresso publica notícias, aparentemente, muito positivas. A mesma reportagem, no impresso, tem uma repercussão e, na internet, outra – pelo menos quanto a algumas manifestações em redes sociais.
Um fato (sempre considerando a “maioria” dos leitores em cada veículo, jamais a “totalidade”): o Caged aponta que os empregos na cidade aumentaram e, então, os leitores do impresso, naturalmente, manifestam satisfação; já alguns da internet, xingam e acusam o órgão governamental e o próprio jornal de estarem mentindo…
Em que pese o fato de as teorias das conspirações estarem em êxtase na moda, é curioso verificar quanta gente, na internet, torce contra a cidade (e o mundo!)… Parece até que não moram aqui (em Tatuí e no planeta Terra)…
Outro exemplo: na semana anterior, Jarbas Favoretto, presidente da Amitur (Associação Brasileira dos Municípios de Interesse Cultural e Turístico), afirmou que Tatuí tem grandes chances de se tornar estância turística. Ótimo, não? Não! Pelo menos para um pessoal da internet, raivoso e pouco afeito à educação, que insiste em não valorizar a cidade…
Claro, se os intoxicados “haters” saboreassem os textos sem deixar restos, iriam ler este editorial até o fim (como o leitor do impresso deve estar fazendo neste momento) e, certamente, ficariam aborrecidos e já iriam tecer seus comentários enriquecidos em erudição linguística e argumentos intrinsecamente apurados. Por sorte, só leem os títulos, então, tudo bem (deixem entre a gente, ok?).
Ou seja, não deixa de ser pouco compreensível a inobservância à conclusão de que, se a cidade ganha, todos ganham – agora e “depois”!
Vá lá que alguns vislumbrem colher frutos no futuro caso a cidade, realmente, perca mais empregos que ganhe, que seja rebaixada de município de interesse turístico para nada… Isso também faz parte da política (o que, em si, ressalte-se, não é problema algum, sendo algo sadio e até necessário à democracia).
Mas, e o povão? Que ganha com isso? Independentemente de que quem seja ou venha a ser nossos governantes, é hora de muita gente (na internet, em especial) acordar para a realidade, deixando de depreciar seus próprios patrimônios e de compartilhar bobagens.
Em associação a outra máxima, afinal: apesar de a caravana continuar passando enquanto os cães ladram, mesmo os caninos carecem de emprego e comida… E nenhum político, tampouco qualquer boquirroto desocupado da internet, costuma levar ração de graça para alimentar a matilha…