* José Renato Nalini
Em 1992, a cúpula do mundo civilizado reuniu-se no Rio de Janeiro para a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. Eram tempos em que o Brasil representava promissora perspectiva de se converter na potência verde, exemplo de ecologia levada a sério por governo e sociedade.
Trinta anos depois, o retrocesso é evidente. Em termos planetários, a emissão dos gases venenosos causadores do efeito estufa aumentou mais de 50%. Aquilo que era vantagem competitiva, a nossa enorme floresta tropical, veio a ser rudemente devastada. A cada mês, deste emblemático mas fatídico 2022, o recorde no extermínio é superado.
O Brasil passou de “esperança verde” para a condição de “pária ambiental”. A pressão internacional contra o Estado brasileiro, grande exterminador do futuro, não surte efeito porque o governo está mais interessado nessa matriz de pestilência chamada reeleição.
O tempo confirmará o equívoco brasileiro em se especializar na produção de grãos que vão alimentar gado no estrangeiro e deixar com fome um número crescente de seres humanos. Eram 20 milhões os que passavam fome há dois anos. Hoje são 33 milhões. E o número continuará a crescer.
A redução de carbono seria meta alcançável se houvesse diminuição do desmatamento e se pensasse menos em gado e mais em gente. Não pode dar certo um país que tem mais cabeças bovinas do que cabeças humanas.
O pior de tudo é que essa política nefasta só enriquece grileiros e criminosos que exploram garimpo em terras indígenas. É o que adverte o jornalista Marcelo Leite ao analisar o fracasso do balanço da Rio-92:
“A carta branca a grileiros, garimpeiros, madeireiros e demais quadrilheiros da Amazônia brasileira, no atual governo, encheu de radicais armados as bordas do mais ameaçado estoque florestal de carbono. Ainda que não ocorra conflagração, o desmatamento demorará a recuar, mesmo não vindo a reeleição”.
A cegueira e a surdez quanto ao aquecimento global custam vidas e, sem dúvida, comprometem o futuro da humanidade, conduzindo-a a um final catastrófico.
* Reitor da Uniregistral, docente da pós-graduação da Uninove e presidente da Academia Paulista de Letras – 2021-2022.