Tratamento de alergia com imunoterapia

Dr. Jorge Sidnei R. da Costa - Cremesp 34708 *

A imunoterapia hipossensibilizante consiste na administração gradual de quantidades crescentes de alérgenos ao indivíduo alérgico com a finalidade de reduzir os sintomas associados à exposição deste alérgeno. Ela foi usada pela primeira vez para o tratamento de rinite alérgica por Noon e Freeman em 1911.

Em 1997, sob o patrocínio da Organização Mundial da Saúde (OMS), ocorreu em Genebra, na Suíça, uma reunião, com a presença de várias entidades consagradas do mundo inteiro, representativas da especialidade de alergologia e de imunologia para rever e padronizar o tratamento das doenças alérgicas pela imunoterapia específica.

As vacinas de alergia são um método de tratamento empregado nas doenças alérgicas há mais de cem anos.  Consiste na introdução, por via injetável (subcutânea) ou via sublingual, de quantidades crescentes de uma substância causadora de alergia (alérgeno), com o objetivo de se obter um estado de tolerância a esta substância.

Esta forma de vacinação é denominada imunoterapia específica com alérgeno, ou simplesmente imunoterapia em alergia. Hoje é reconhecido pela OMS como um tratamento capaz de mudar as características de uma paciente alérgico (predominância de Th2 – T helper 2) para um indivíduo normal, que tem predominância de linfócitos Th1 (T helper 1)

Ação

As vacinas de alergia regulam a produção de anticorpos, diminuindo os anticorpos da classe IgE (responsáveis pelas alergias) e aumentando os anticorpos IgG4. Além disso, diminuem as células inflamatórias que participam da reação alérgica.

Os efeitos ocorrem aos poucos, conforme as vacinas vão sendo aplicadas, observando-se uma redução gradual dos sintomas. O tratamento transforma os indivíduos com células Th2 (linfócitos T helper 2, formadores de IgE) em indivíduos com predominância de Th1 (linfócitos T helper 1), formadores de anticorpos IgG (anticorpos).

Indicações

As vacinas de alergia (imunoterapia específica contra alérgenos) estão indicadas para várias doenças em que o mecanismo alérgico é uma reação imediata, também chamada “mediada por IgE”.

Esse tipo de reação tem esse nome porque ocorre poucos minutos após o contato com a substância causadora da alergia (alérgeno). IgE é uma classe de anticorpos responsável pelas reações alérgicas; e o organismo pode produzir IgE específica para cada substância com a qual ele entre em contato.

Porém, existem reações alérgicas provocadas por outros mecanismos diferentes, não mediadas por IgE. Essas reações não respondem ao tratamento com vacinas.  No entanto, nem todas as reações mediadas por IgE podem ser tratadas com vacinas,

As principais doenças mediadas por IgE, para as quais as vacinas de alergia estão indicadas, são: alergia respiratória (asma e rinite alérgica): alergia ocular (conjuntivite alérgica); alergia a picadas de insetos, especialmente abelhas, marimbondos, vespas e formigas e alergia de pele, como a dermatite atópica.

O primeiro pré-requisito para se iniciar o tratamento é diagnóstico correto. Inicialmente, através da história clínica relacionando o aparecimento dos sintomas com a exposição a substância em questão. Em caso de dúvida, é possível indicar, em alguns casos, uma prova de provocação. Outro aspecto relevante é a avaliação da presença de resposta alérgica no sangue e na pele.

As condições clínicas do paciente devem estar estáveis especialmente nos asmáticos. Isto implica que o tratamento medicamentoso deve estar adequado. A idade do paciente, a presença de comorbidades devem ser discutidas caso a caso com o médico alergologista.

Após o esclarecimento da efetividade e duração do tratamento, possíveis efeitos adversos, aderência e custos, é necessário que o paciente assine um consentimento para submeter-se ao tratamento.

Este deve ser realizado em local apropriado, na presença de profissional treinado (próprio médico ou enfermeira padrão) para identificar e tratar eventuais reações adversas. Acrescido a isso a utilização do material para as vacinas, deve ser padronizado e com bom controle de qualidade.

Nós usamos em nossa clínica há mais de 20 anos vacinas produzidas no Rio de Janeiro pelo laboratório multinacional Immunotech, com uso exclusivo dentro da clínica.

A Imunoterapia tradicional é realizada em duas etapas. Primeiro: a fase de indução (de ataque), que consiste em injeções de doses diluídas e crescentes do extrato geralmente uma vez por semana, até se atingir determinada dose. Depois, bissemanal e, em seguida, trissemanal. A partir daí, tem início a fase de manutenção, onde a dose máxima atingida na primeira etapa é injetada mensalmente.

Embora esta resposta não esteja totalmente estabelecida, os consensos indicam o período de três a quatro anos para as substâncias inalatórias e cinco anos para veneno de insetos. Uma vez terminado o tratamento, seus efeitos permanecem por vários anos.

Sublinguais

Já as vacinas sublinguais, em gotas, são tão eficazes quanto as injetáveis e mais seguras, por causarem menos reações. Estão indicadas para tratamento de asma, rinite alérgica e dermatite atópica. A vantagem sobre as injetáveis está no conforto e por permitirem ser administradas em domicílio.

A imunoterapia específica é um procedimento bastante seguro. Contudo, existe o risco de ocorrência de reações locais e sistêmicas.  As sistêmicas graves são extremamente raras, estimadas em uma por um milhão de aplicações.

Os eventos adversos relacionados à imunoterapia sublingual incluem as reações locais na mucosa oral, reações moderadas (sintomas gastrintestinais, rinite e urticária) e sistêmicas (asma, anafilaxia).

As medidas recomendadas para a redução do risco de reações incluem a avaliação do paciente antes de cada aplicação da subcutânea, não aplicar a vacina durante crises alérgicas; e os pacientes com asma só devem iniciar a imunoterapia após a estabilização do quadro e sob a supervisão de profissional especializado e capacitado.

As principais contraindicações para a imunoterapia são: asma grave ou não controlada, uso de beta-bloqueador, neoplasia maligna (câncer) e doenças autoimunes.

Sublingual bacteriana

Este é um tratamento específico para crianças que apresentam infecções de vias aéreas superiores e inferiores com frequência. Ele aumenta a resistência contra oito bactérias específicas que atingem habitualmente as vias aéreas e causam doenças como faringites, amigdalites, otites, broncopneumonias, bronquites catarrais e outras menos comuns.

Temos usado, em nossa clínica, esse tratamento sublingual de extratos bacterianos, composto de oito bactérias diferentes, o qual tem duração de seis meses e vem apresentando bom resultado, aumentando muito a capacidade das crianças a reagirem a essas infecções. O tratamento inclui três frascos, usando-se duas gotas sublinguais ao dia, durando cada frasco cerca de dois meses. Portanto, um tratamento de seis meses.

* Título de especialista em pediatria pela AMB e SBP e diretor clínico da Clínica de Vacinação de Tatuí – Sou Doutor Cevac “Dr. Jorge Sidnei” desde 1982.