Atualmente, em Tatuí, qualquer opinião crítica (positiva ou negativa, tanto faz) é entendida como posicionamento político contra ou a favor, passível, até, de injustiças e agressividades gratuitas. Não obstante, o tempo passa e, logo, todos podem estar “de bem”, ficando “no mal” os que se expõem demais, cujas cabeças acabam por serem ofertadas em sinal de oferenda pela paz…
Posto isto, acentuamos que as observações a seguir, realmente, não têm a ver, provincianamente, com a Cidade Ternura, sendo pertinentes à realidade nacional, que interfere, mais ou menos, na vida cotidiana do interior, na qual Tatuí se insere. Elas abordam o trânsito caótico “brasileiro”.
Para o crescente e sufocante séquito do politicamente correto, que ganha o mundo ocidental – portanto, algo global e não necessariamente local -, alguns hábitos e “coisas” estão sendo acelerada e inapelavelmente demonizadas.
O carro, no momento, arranca em meio aos demais “vilões” da justiça social, da saúde e do meio ambiente e, logo, promete disparar em primeiro lugar, deixando os concorrentes na poeira. A corrida superficial “do mal”, no entanto, ainda mantém na “pole position” o nefasto cigarro.
Pela tal “sã consciência”, ninguém afirma que fumar faz bem, que comer gordura é bom para o coração, que os saquinhos de supermercado derretem nos rios feito dinheiro no bolso de gente honesta, ou mesmo que o Ministério da Saúde adverte serem bem-vindas três ou quatro talagadas de pinga por dia.
Não, é óbvio. Contudo, a maioria incauta que segue e repercute essa cantilena dos sectários sinceros – que, realmente, buscam a salvação do planeta, mais saúde e justiça social – e dos oportunistas – que só querem a simpatia dos eleitores -, parecem não diferenciar o grau de vileza dos atuais “inimigos” da sociedade, tampouco demonstram pensar a respeito.
O cigarro mata, todos sabem. Por isso, “também”, os fumantes tornaram-se párias da sociedade, tendo seu vício exposto em público, de maneira constrangedora, toda vez que têm de sair à rua para cometer o pecado.
A princípio, o cidadão deve ter seus direitos respeitados, até mesmo o de se matar. O complicador, neste caso – e o que justifica o ostracismo do fumante -, é que a droga não afeta apenas ao viciado, mas aqueles que estão ao lado, os quais, naturalmente, não têm a obrigação de compartilhar do lento suicídio esvoaçante.
Os carros, por sua vez, como todos os veículos – inclusive, os de transporte coletivo – poluem o planeta, daí estarem sendo considerados, cada vez mais, objetos “do mal”. Precisam ser combatidos, exterminados. Eles travam o trânsito e simbolizam o egoísmo do ser humano, por evidenciarem o individualismo.
Tudo bem, sem questionamentos mais complicados. Especificamente, o fato é que o país abriu mão do transporte coletivo em favor da indústria automobilística há cerca de 60 anos, particularmente sucateando as ferrovias, as quais, hoje, poderiam muito bem minimizar sobremaneira o problema do tráfego e do transporte de cargas.
Desde então, o país é dependente dessa indústria, e não apenas para transportar pessoas e produtos, mas para levar na traseira o equilíbrio da própria economia nacional. Ou seja, se essa indústria for fragilizada, o Brasil “quebra” – e sem direito a guincho.
Em simultâneo, há o discurso de que é preciso o incentivo ao uso do transporte público, com ênfase nas grandes cidades, naturalmente. Ótimo. E como é, por exemplo, esse transporte na maior cidade do pais? É preciso resposta?
Nestes dias em que a temperatura chega a perto de 40 graus, as pessoas são obrigadas a se espremerem em coletivos sem ar-condicionado e mínimo conforto. Quem pode forçar os donos de carros a se submeterem a isso?
E, também importante: a culpa pela falta de estrutura não é exclusivamente dessas empresas, como muitos querem fazer crer, como se elas fossem parte da “corrente do mal”, que só explora o povo coitadinho e, sendo assim, merecendo ter seus carros queimados em praça pública, feito bruxas medievais.
Pelo país afora, deve haver máfias, sim. Mas, no geral, são empresas que prestam serviços e, como tal, têm de buscar lucro, inclusive para pagar seus funcionários e investir continuamente nos serviços. Cabe ao governo contratar as melhores e, posteriormente, verificar se os investimentos comprometidos são efetivados.
Até o momento, entretanto, o que se vê são discursos orquestrados em gabinetes fresquinhos e por gente que não se locomove em ônibus, mas quer que neles o povão se sociabilize por meio da troca direta de suor melado.
Fala-se tanto em justiça social, mas não seria socialmente justo o “trabalhador” conseguir comprar carro novo, também? Melhor não seria investimento verdadeiro na infraestrutura do país, aliada a incentivos – e cobranças – profundas no transporte público?
Ou, ainda, lembrando que os veículos podem também matar, igual ao cigarro – e matam alucinadamente no Brasil -, por se transformarem em verdadeiras armas nas mãos de irresponsáveis, melhor medida e exemplo não seria a real aplicação de leis de trânsito intransigentemente severas?
Porém, isto não se faz. Enquanto o povão é forçado a crer que o transporte público é a única solução e que andar de carro é atentado contra a natureza, os “bens nascidos filhinhos de papai” – políticos ou simplesmente abastados acima da média – podem sair por aí, bêbados em seus carros, matando os outros.
No final, acabam não sendo punidos de fato. Deveriam, esses sim, trocar suores calientes nas prisões, até o fim da vida. Ah, isso poderia até ser correto em termos sociais, mas não politicamente… Portanto, a punição e as acusações que fiquem com os motoristas comuns.
Mas, perguntemos, não sobra nada de bom para o população? Sobra, sim: agora, ela tem os corredores “exclusivos” de ônibus. Exclusivos! Coisa de gente “vip”!