Tiroteio mata adolescente e gera incêndios





Evandro Ananias

Ônibus incendiado ficou completamente destruído; caso registrado na quarta teve repercussão nacional e envolveu três coletivos

 

 

A morte de um garoto de 15 anos em tiroteio e o incêndio em três ônibus marcaram a noite de quarta-feira, 19, e a madrugada de quinta-feira, 20.

De acordo com o comandante da 4ª Companhia da PM, Lincoln Estanagel de Barros, a troca de tiros ocorreu após denúncia anônima de um vendedor, que afirmou ter recebido uma ligação para que fizesse uma venda na vila Angélica.

Na semana anterior, o comerciante disse que teria recebido contato telefônico semelhante, a partir do mesmo bairro, quando teria sido vítima de roubo. Por essa razão, acionou a PM, pelo telefone 190, e explicou a situação.

De acordo com o capitão, ficou “combinado” entre os policiais e a suposta vítima, que ele iria até o local indicado pelo telefonema e se, ao chegar, percebesse qualquer “atitude suspeita”, retornaria para a central da PM.

O vendedor chegou perto do endereço acordado e viu três adolescentes em um lugar escuro, indicando, segundo Barros, que “estaria sendo preparado um roubo”. Diante disso, o comerciante acionou a PM.

Duas viaturas foram averiguar os indivíduos. No momento em que os policiais iniciaram a abordagem, dois rapazes levantaram as mãos e permitiram a busca pessoal.

O capitão afirmou que o terceiro adolescente teria corrido com uma arma na mão, por cerca de 300 a 500 metros, quando entrou em um matagal, no final do bairro Jardins de Tatuí, próximo à vila Angélica.

Depois de entrar no mato, o rapaz teria efetuado tiros e os policias, respondido com mais disparos. O menor foi atingido por quatro projéteis e morreu no local.

De acordo com Barros, ao verificar o corpo, os policiais teriam visto que o dedo dele estava “em posição de efetuar disparo” e que, à frente, no tronco de uma árvore, havia um disparo “bem na altura dele, demonstrando a conduta que ele cometeu”, acrescentou o comandante.

O garoto já teria sido internado na Fundação Casa, por envolvimento com tráfico de entorpecentes. O capitão afirmou, também, que ele era suspeito de “alguns roubos” que ocorreram na cidade.

O tiroteio pode ter sido o motivo da ocorrência de incêndios provocados em três ônibus entre a noite de quarta-feira, 19, e a madrugada de quinta-feira, 20. Dois veículos queimaram totalmente e um, parcialmente. Não houve feridos.

O primeiro ataque ocorreu no Jardim Gonzaga, em um ônibus “de linha”. Barros afirmou que era a última viagem da noite e, dentro do transporte, só havia o condutor.

O motorista teria parado em um ponto de ônibus, pois avistou dois indivíduos acenando, e achou que eram passageiros.

De acordo com o capitão, os homens teriam entrado armados, retirado, sob ameaça, o condutor e ateado fogo no veículo, que ficou totalmente destruído. Os bombeiros foram chamados e conseguiram controlar o fogo.

O outro ônibus também queimado totalmente, pertencente à Empresa Rosa, estava vazio e estacionado na vila Angélica.

Em nota de esclarecimento, a empresa informou que os ônibus do transporte urbano terão atividades suspensas no período noturno, até que a situação de segurança fique regularizada. Agradeceu o apoio da Polícia Militar e da Guarda Civil Municipal e ressaltou que aguarda providências de autoridades.

A empresa ainda afirmou que está preocupada com a situação, “vez que a repetição de tal ocorrência colocará em risco a integridades de nossos funcionários e usuários” e que o ocorrido não tem relação com a companhia.

Na noite de quarta-feira, 19, dois adolescentes foram detidos por policiais militares e conduzidos à Delegacia. De acordo com o capitão, eles foram flagrados tentando iniciar mais um incêndio.

Os jovens colocaram fogo em uma mata, o que atingiu parcialmente um ônibus. Os policiais presentes conseguiram conter as chamas.

Os rapazes não ficaram detidos por não se tratar de um crime de violência e ter sido a primeira vez que foram pegos.

Barros afirmou que, por determinação legal, os adolescentes devem responder em liberdade. Porém, se houver reincidência, poderão ser presos.

Ônibus escolares do município estão andando com escoltas da PM e da GCM (Guarda Civil Municipal). O acompanhamento não tem data para terminar. E, de acordo com Barros, o policiamento da cidade foi reforçado.

Segundo a GCM, até o fechamento desta edição (sexta, 17h), uma pessoa maior de idade foi detida e um menor apreendido, por terem participado dos incêndios.

A apreensão de um adolescente ocorreu na tarde de quinta-feira, 20, depois que uma denúncia anônima informou que um indivíduo, conduzindo uma bicicleta amarela, estaria em posse de arma de fogo e com “intenção de atear fogo” na Emef “Professora Ligia Vieira de Camargo Del Fiol”.

De acordo com a GCM, o menor disse que não pretendia colocar fogo em nenhum bem público, mas que teve participação no incêndio ao ônibus “de linha”, ocorrido na noite anterior.

O adolescente contou que, antes de iniciar o incêndio, o companheiro dele teria roubado dinheiro do motorista. Informou, ainda, que não sabe identificar quem foi o parceiro dele, somente que reside no Jardim Gonzaga.

Segundo o menor acusado, outro indivíduo participante do incêndio estaria, naquele momento, envolvido em um tumulto nas imediações do Cemitério Municipal Cristo Rei.

Os guardas foram até o local e abordaram Elvis Aparecido Diniz de Oliveira, irmão do menino morto em suposta troca de tiros com a PM.

Oliveira foi identificado como um dos envolvidos e teria confessado a participação nos incêndios. O delegado deu voz de prisão a ele, deixando-o à disposição da Justiça.

Barros disse que o perfil dos incendiários é de “jovens, desempregados e que estão envolvidos com a criminalidade”.

Este não foi o primeiro protesto com fogo ocorrido em Tatuí. Em novembro de 2013, 50 moradores do Jardim Gonzaga interditaram um trecho da rodovia Mário Batista Mori (SP-141) e atearam fogo em pedaços de madeira e pneus.

A manifestação, na época, ocorreu porque os moradores não aceitavam a prisão de um habitante do bairro.

Vandalismo

O capitão Barros disse que não entende os atos como manifestação de protesto, porque “não refletem o pensamento da população”. De acordo com ele, do momento em que o indivíduo foi baleado até ser retirado, não houve nenhuma revolta por parte da população presente no local do tiroteio.

Segundo Barros, os incêndios foram atitudes de vandalismo, o que “reforça a convicção” dele de que “são algumas pessoas que estão voltadas ao crime e querem liberdade para continuar”.

Barros afirmou que os ataques já se tornaram “moda, porque em São Paulo, nas periferias, estão acontecendo, com rotina, incêndios em alguns ônibus. Desconheço o porquê alguns vândalos elegeram essa forma para protestar”.

Quanto à prevenção de atos como esse, serão feitas abordagens nos bairros, com fiscalizações e bloqueios para monitorar indivíduos que possam vir a cometer atitudes de vandalismo.

“As forças de segurança do município estão equipadas para promover a tranquilidade para toda a população, tanto que, após os atos, não houve mais registro de nenhum incidente. Estamos acompanhando diariamente, e nada tem acontecido”, ressaltou Barros.

“Naturalmente, é claro que, quando a população vê algo que não é comum acontecer no município, se sente assustada, mas a gente quer reforçar que a população pode ficar tranquila”, acrescentou.

Barros garantiu que não é necessário pânico. “As pessoas podem continuar com a vida normal e as crianças devem frequentar as escolas”, ressaltou. É importante que qualquer suspeita seja denunciada pelo telefone 190.