Esporte tradicional e antigo, o “tiro ao alvo no pé” tem “regra clara”: ao invés de atacar os adversários, o objetivo maior é combater a si mesmo, não importando as lesões e desfalques que isto possa causar. Assim, quanto mais elástico o placar de pontos perdidos, mais a torcida (do contra) comemora.
Claro que, aqui, cabe uma observação nem tanto palatável a todos, mas perfeitamente perceptível a qualquer observador atento, sem nenhuma necessidade de uso de equipamento sofisticado para revisão de jogadas: torcida é uma coisa; jogador, é outra.
Ou seja, no campo social e político, atuam os protagonistas do jogo – políticos, autoridades em cargos de relevância, grandes empresários e outros (poucos) – e, na arquibancada, na torcida, fica a população, apenas observando e, eventualmente, gritando por meio de redes sociais.
Infelizmente, a grande massa não costuma ser escalada para jogar, senão somente a cada dois anos, quando arrebanhada feito torcida encabrestada a caminho das urnas.
Por isto é que não deveria valer a pena se digladiar na torcida por qualquer agremiação política – tampouco por qualquer suposto craque, ou melhor, salvador da pátria de chuteiras…
A despeito disto, continua a avolumar-se a “tomada de partido” por parte da população, mesmo que isto signifique perder o jogo – ou, em outras palavras, aquilo que ainda resta de positivo nas comunidades, como os patrimônios locais. Isto é o tal tiro no pé!
Passando aos exemplos práticos: como em qualquer outra localidade do país – e do mundo -, Tatuí apresenta segmentos partidários distintos, com suas especificidades, interesses diversos, propostas diferentes. E, até então, nada de negativo em se optar por algum deles, justamente por ser direito e, de certa forma, obrigação de todo cidadão.
O problema começa quando estas opções se sobrepõem ao interesse comum da coletividade, da cidade como um todo. Neste certame camicase, ao passo que uns comemoram boas notícias (e, naturalmente, ignoram as ruins), outros buscam desqualificar fatos positivos e apostam tudo no compartilhamento de inverdades.
Alguns eventos recentemente noticiados mostram bem este comportamento nada desportivo, típico mesmo dos torcedores acéfalos, que vão para os estádios em busca não de lazer, mas de confusão, prontos a acender os rojões da discórdia com a alta inquietude térmica de suas partes baixas (entenda-se falta de educação formal e intelectual).
Uma das notícias reportava o aumento do número de empregos formais na cidade, que apresentou reversão de queda em 2018. Foram poucas as novas vagas geradas (256), mas, ainda assim, o simples fato de o desemprego ter se revertido, dando lugar a um mínimo de crescimento, já é motivo de boa expectativa.
Não obstante, muita gente mostrou toda a elegância e notório saber, em redes sociais, para questionar os números do Caged (sim, vive-se a era da crença em conspirações, e o órgão federal, claro, não ficaria isento de ser posto como um covil de vilões maléficos, prontos a dominar o mundo com suas manipulações de resultados…).
Alheios a delírios, para quem ainda acredita que o mundo é redondo e a viagem à lua não foi uma obra de ficção produzida por comunistas da Nasa e tendo como estrela o “trompetista Louis Armstrong”, é verdadeiro alento observar os números do Caged, dado serem reais e indicarem que a crise econômica nacional parece estar diminuindo.
Outra notícia rebatida de primeira pela turba do avesso foi a de que o índice de roubos na cidade diminuiu em 26% – conforme estatística da Secretaria de Segurança Pública do estado de São Paulo.
Neste caso, novamente pesa a má vontade de boa parte da torcida desorganizada do contra: é preciso acompanhar toda a informação, não somente título. Vamos lá! Suando a camisa para interpretar palavrinhas enfileiradas feito um grande plantel da língua portuguesa!
Na própria reportagem, as autoridades locais da área de segurança reconhecem que as estatísticas da SSP podem não corresponder à realidade, embora sirvam como parâmetro para se dimensionar a real situação, tal como instrumento para organização de ações preventivas, particularmente por parte da PM.
A explicação é que os números são considerados a partir do registro de boletins de ocorrência, os quais ainda não são efetivados por boa parte das vítimas. Daí porque, inclusive, o aumento na estatística dos crimes em geral – como, por exemplo, o de estupro de vulnerável (assunto publicado na edição desta quarta-feira, 6) – não necessariamente representa piora na segurança pública. Simplesmente, pode significar mais boletins sendo registrados.
Agora, o tiro no pé mais masoquista do ano, sem dúvida, é a impulsão da antiga “fake news” – agora toda faceira e tonificada pelas redes sociais – de que “o Conservatório de Tatuí vai fechar…”.
E, aí, fica a dúvida: quem ganha com isso? O tatuiano legítimo, aquele que deveria guardar respeito e carinho por sua terra, que não é…
Se os excelentes educadores musicais e dramáticos não pudessem mais atuar em Tatuí, pelo inconcebível ato de o governo estadual vir a “acabar com o CDMCC”, quem ganharia com isso seria algum outro município, privilegiado em poder escalar todo esse time de craques.
Nessa hipótese insana, pelo menos um aspecto uniria situação e oposição, no campo político, e a população em geral, na arquibancada: todos ficariam chorando pela perda, derramando muito mais lágrimas que em uma desclassificação do Brasil na Copa do Mundo por 7 a 0…
Na verdade, conforme informado por autoridades do estado, os funcionários da instituição receberam os salários atrasados porque houve mudança no governo e, assim, atraso em repasses a inúmeros órgãos ligados à administração paulista.
De qualquer maneira, é impressionante notar como muitos tatuianos ainda parecem torcer pelo fim da instituição e, por consequência, do maior título que Tatuí já ganhou no ranking dos municípios da primeira divisão das artes: o de Capital da Música!