Thyago Vieira deixa o Chicago White Sox e vai a ‘outro lado do mundo’

Tatuiano contratado pela equipe do Yomiuri Giants, do Japão (foto: divulgação)
Da reportagem

O tatuiano Thyago Vieira, jogador profissional de beisebol, atuará no Japão em 2020. Após dois anos no Chicago White Sox, da MLB (Major League Baseball) – a liga norte-americana da modalidade -, o atleta acertou a transferência ao Yomiuri Giants.

A nova equipe de Vieira é de Tóquio e foi fundada em 1934. Também chamado de Tokyo Giants e Yomiyuri, a agremiação compete na Liga Central da NPB (Nippon Professional Baseball) e “manda” as partidas no estádio Tokyo Dome, inaugurado em 1988.

Vieira foi o quarto atleta nascido no Brasil a atuar na MLB. Antes do tatuiano, Yan Gomes, André Rienzo e Paulo Orlando e, posteriormente, Luiz Gohara e Bô Takahashi, são os únicos brasileiros a jogarem na principal liga de beisebol do mundo.

Diante disso, Vieira sabe a responsabilidade de ter contribuído para que a MLB continue “abrindo as portas” aos jogadores brasileiros.

“Antes, eu me espelhava no Rienzo e o tenho como ídolo. Hoje, sei que sou ídolo de muitos atletas, e há muitos meninos que se espelham em mim”, reconheceu.

O primeiro contato com o beisebol ocorreu em 2002, quando Vieira tinha nove anos de idade. Ele treinou por três anos no antigo campo da Cooperativa Agrícola da Região de Tatuí, até a equipe acabar.

Nesse período, Vieira representou Tatuí em competições de beisebol em Marília, Presidente Prudente e Ibiúna. “Fui da última safra”, conta.

Vieira jogou futebol por dois anos até retornar aos treinos de beisebol, dessa vez, em São Paulo. Ele integrou elenco do Gecebs (Grêmio Assistencial e Cultural), que tem base no Arujá.

Entretanto, os treinos aconteciam somente aos finais de semana. Na época, Vieira permanecia em Tatuí de segunda-feira a quinta-feira. Às sextas, ele viajava para a capital. “Comecei a jogar futebol, mas o beisebol me tocou mais. É o esporte pelo qual me apaixonei”, garante.

Em 2010, ele foi para o centro de treinamento) da Yakult, localizado em Ibiúna. Nesse período, afirma que passou a dedicar mais tempo ao aprimoramento das técnicas e à melhoria do condicionamento físico.

Os “coaches” enviaram vídeos do jogador a olheiros e representantes de outros clubes. Nos materiais, Vieira aparecia fazendo arremessos (ele é arremessador).

Os vídeos chamaram a atenção de quatro times – o mais importante deles, o Seattle Mariners, dos Estados Unidos. Dessa forma, aos 17 anos, Vieira assinou o primeiro contrato profissional.

Conforme o tatuiano, normalmente, os atletas que vão ao CT Yakult permanecem de dois a três anos por lá. No entanto, em seis meses treinando no local, ele foi contratado pela equipe norte-americana. “Se não fosse jogador de beisebol, estaria empacotando sacolinhas de supermercado”, comenta.

Naquela época, o tatuiano estudava na Escola Estadual “Deócles Vieira de Camargo”. Segundo Vieira, ele pensava em trabalhar para poder ajudar a família financeiramente e desistiria do esporte se conseguisse emprego.

“Tomei a decisão de ir procurar emprego junto com a minha tia. Entregamos o currículo em um supermercado, porém, não deu certo”, conta.

“Há males que vêm para o bem. Às vezes, acontecem algumas coisas que nos deixam bravos com aquela situação, mas, futuramente, poderemos entender que esses detalhes mudam a nossa vida”, complementou.

Com a contratação, Vieira precisou passar por uma fase de adaptação, realizada na Venezuela. Por ter ingressado na categoria de base, foi enviado ao país vizinho para “pegar mais experiência”. Permaneceu lá por dois anos.

Ele conta ter enfrentado diversas dificuldades nesse período, enquanto morou em um centro de treinamentos. Conforme o jogador, no início, ele não sabia o que estava comendo, a luz acabava constantemente e tinha de dormir com mais três pessoas em um quarto apertado, sem ventilador e com pernilongos.

Em breve, Vieira chegará ao Japão e, pelo menos no início, terá de conviver com um intérprete. No entanto, já está acostumado a ter de estudar outros idiomas, assim como aprendeu o espanhol e o inglês.

“Quando faço parte de um grupo, procuro prestar atenção nas conversas, observando as pessoas fazendo perguntas e o que está sendo respondido. Foi assim que acabei dominando o espanhol”, conta.

“Nos Estados Unidos, no início, me traduziam ao espanhol, mas não queria ficar dependente e sem saber se estavam traduzindo corretamente ou não. Depois, passei a morar com americanos e aprendi inglês ‘na marra’”, lembra Vieira.

Enquanto esteve nos Estados Unidos, ele teve destaque, em 2016, ao participar do “Arizona for League”, uma liga aos melhores atletas de base do ano.

Nesse campeonato, Vieira realizou o arremesso mais potente. A bola lançada por ele atingiu a velocidade de 104 milhas (aproximadamente, 167 quilômetros por hora).

Vieira completou 27 anos na terça-feira, 7. Ele garante estar treinando forte, preparando-se para “colher frutos” em 2020 e continuar perseguindo os sonhos dele.

“Meu foco principal, agora, está no Japão e, depois, está nas mãos de Deus. Coloco tudo em oração e, ao mesmo tempo, corro atrás para ter um ano iluminado”, declara.

“Futuramente, os planos são os melhores possíveis. Quero fazer história. Elevar o nome do beisebol brasileiro, levando a seleção brasileira às Olimpíadas e competições mundiais”, conclui o atleta.