Terra do ‘cala a boca’ tem soluções fáceis

Luís Fernando Lopes é doutor em Educação e professor do Curso de Filosofia do Centro Universitário Internacional UNINTER (foto: divulgação)
Luís Fernando Lopes *

Temos testemunhado repetidos acontecimentos motivados pela arrogância, prepotência e extrema falta de educação de pessoas que se consideram detentoras absolutas da verdade.

Elas se consideram defensoras dos bons princípios, guardiãs da moral e capazes de apresentar soluções fáceis para complexos problemas sociais que assolam a sociedade brasileira há séculos.

Entretanto, a defesa desse falso moralismo e tal apologia de fachada esconde motivações extremamente desumanas que, mais cedo ou mais tarde, se revelam.

Do transeunte no parque ao líder máximo da nação, passando por seus representantes e defensores radicais, o autoritarismo sem autoridade se manifesta.

Na linha de frente para coleta e divulgação de informações, jornalistas dos mais diversos veículos têm registrado episódios vergonhosos de falta de educação, preconceito, racismo e ódio de classe que, entre outros problemas, revelam uma história de negação da Educação, sobretudo aos mais pobres, em um país profundamente marcado pela desigualdade.

A defesa de um projeto autoritário que não mais esconde suas pretensões revela preconceitos que despertam indignação e revolta. Quanta falta de humanidade se revela, por exemplo, na ideia de alimentar os famintos com sobras e alimentos vencidos que, obviamente, são impróprios para consumo?

A lógica parece muito clara: para os descartáveis servir aquilo que já foi descartado. Afinal, quem realmente se importa com essas pessoas?

Defender direitos? Jamais. Isso é coisa de comunistas. Liberdade de expressão? Só se for a minha e dos meus! E o autoritarismo manda jornalistas, padres, políticos, professores, cientistas, filósofos, médicos, advogados a calarem a boca!

Afinal, em boca fechada não entra mosca. Mas até quando? Qual o limite para tantos desvarios? Por que muitos, mesmo sofrendo as consequências, preferem permanecer calados ou apoiar atitudes e projetos profundamente desumanos, maquiados (entre outros pretextos) pela defesa de princípios morais e religiosos?

Não é possível prever se essas palavras serão lidas, afinal nossa sociedade também tem seus critérios para escolher os discursos a serem propagados – ou silenciados.

Será que prudência, meritocracia, medo podem ser respostas? Talvez um pouco de tudo isso e muito mais. Todavia, o que realmente importa é manter a situação como está, possuir, dominar? Mostrar quem realmente manda? E mandar calar a boca, ou permanecer calado?

A resposta para cada questão dependerá de cada um de nós, e de nossas escolhas coletivas. Já a pergunta necessária talvez não tenha sido feita.

(*) Doutor em educação e professor da área de humanidades do Centro Universitário Internacional Uninter.