Teresa do altar





Madre Teresa ao chegar a Calcutá, na Índia, se deparou com uma violenta miséria. Pessoas morriam sem atendimento nas ruas e eram, no dia seguinte, recolhidas por caminhões, como se fossem lixo.

A religiosa não teorizou o problema, não se escondeu em desculpas e sequer esperou ter para fazer. Simplesmente arregaçou as mangas e começou a levar para o convento os abandonados que encontrava.

Muitas dessas pessoas estavam em estado terminal e não puderam ser salvas da morte, mas encontraram nos braços da freira um pouco de dignidade. Num olhar, num sorriso, num toque sem nojo, num aperto de mão.

Certa vez um empresário foi passar uns dias como voluntário na obra de madre Teresa. Foi encarregado por ela de atender um destes moribundos e ficou apavorado. Diante de tamanho sofrimento, achava que nada faria diferença. “O que faço”? Ouviu da irmã: “Olhe nos olhos dele, sorria e segure sua mão”.

Certamente a religiosa, que será proclamada santa em setembro deste ano, gostaria de disponibilizar uma unidade de terapia intensiva (UTI), atendimentos especializados, e remédios adequados. Mas enquanto isso não era possível, empregou suas forças em gestos simples como fazer um curativo, dar um alimento, um copo d’água ou um banho. Aliás, ao dar um banho num doente ouviu de alguém: “Nem por um milhão de dólares faria isso”. Madre Teresa teria respondido: “Nem eu! Só por amor…”.

Impressiona o fato de que, em meio a tanta pobreza, Madre Teresa enxergasse uma necessidade ainda maior: “No mundo existe mais fome de amor e de apreciação do que de pão.” Sua vida tocava na pobreza absoluta e, apesar disso, afirmou: “O dinheiro não é suficiente, o dinheiro pode ser obtido, mas eles precisam de seu coração para amá-los”.

Diante de tanto sofrimento, não media esforços e não queria perder tempo: “Nós mesmos sentimos que o que fazemos é uma gota no oceano. Mas o oceano seria menor se essa gota faltasse”.

Numa oportunidade, quiseram lhe oferecer um jantar em homenagem. Recusou, pedindo para suas obras o dinheiro que seria gasto com guloseimas. Em 1979, aceitou receber o Prêmio Nobel da Paz, por ser uma oportunidade de tornar conhecida a realidade de tantos que sofrem e também poder utilizar o prêmio nesses atendimentos.

Em 2007, dez anos após sua morte, foi revelado que Madre Teresa passou pelo menos 50 anos com dúvidas e dificuldades na oração. E isso – chamado por Bento 16 de “silêncio de Deus” – não impediu que a “santa das sarjetas” realizasse uma obra admirável. Continuou rezando, buscando um Deus que silenciava em seu coração, mas gritava em seus atos.

Que falta faz Madre Teresa nas ruas de Calcutá, na Europa dos refugiados. E aqui no Brasil, onde sobram discursos, mas escasseia caráter, coerência e atitude.

* Jornalista e autor do livro “Ternura de Deus”, da Editora Canção Nova.