Da reportagem
Na Capital da Música, a tradicional seresta não poderia ficar de fora. Tatuí tem um representante do autêntico gênero boêmio que embala gerações, o grupo Seresteiros com Ternura, formado exclusivamente por integrantes da terceira idade – ou, da longevidade!
Formam o grupo, ele já tradicional no município: Maria Inês de Camargo, 77 anos (voz e afoxé); Pedro Adilson Pavanelli, 74 anos (violão); Paulo Rita de Aguiar Filho, 68 anos (cavaquinho e viola); Leonel Antunes da Rosa, 76 anos (sanfona); e Carlos Orlando Mendes, 73 anos (timba).
Eles se apresentam nos principais eventos culturais da cidade e da região, e garantem que a idade não atrapalha em nada. “Pelo contrário, a música rejuvenesce”, garante Pavanelli.
Formado em 2002, a pedido do então diretor de municipal de cultura, o produtor e eventos e colunista de O Progresso de Tatuí Jorge Rizek, o “Seresteiros com Ternura” já teve várias formações – da original, só restam Maria Inês e Pavanelli. “Muitos já se foram”, lamenta a cantora e instrumentista.
“Rizek sabia que eu fazia serestas e perguntou se seria possível montar um grupo. Eu disse que sim, era só sair à caça dos seresteiros que estavam ‘escondidos’ por aí”, brinca Maria Inês.
E a corrida resultou em um conjunto musical – batizado por ela – com 22 integrantes. A primeira apresentação foi debaixo de uma árvore “chorão”, no jardim do Conservatório Dramático e Musical “Dr. Carlos de Campos”, em novembro.
“Em dezembro, já estávamos subindo no palco do Natal Musical, da prefeitura, na Praça da Matriz”, lembra Maria Inês. E o Seresteiros com Ternura está lá sempre, encerrando o evento natalino tatuiano, assim como na Feira do Doce.
Maria Inês olha para as estátuas dos seresteiros na praça Paulo Setúbal (o Museu Histórico é a “casa” do grupo), solta um suspiro e vai cantando os nomes. “Fiz serestas com todos eles”, diz.
No entanto, é do esposo João Aparecido Machado, que também foi “seresteiro com ternura”, já falecido, que ela sente mais falta. “A timba que o Carlos toca foi um presente dele”.
Representação
O grupo representa Tatuí anualmente no Revelando São Paulo, no Parque da Água Branca, na capital. O festival é dedicado à cultura, gastronomia, artesanato e soma shows de várias regiões do estado.
“É uma festa linda, muito rica. Temos um prazer enorme em participar”, diz Maria Inês, que também coordena o “Seresteiros”.
Paralisado por dois anos, por conta da pandemia, o grupo também participa do evento Tatuianos Ilustres, projeto de 2013 do Museu “Paulo Setúbal” que homenageia nomes consagrados da história da cidade. “Em vida, o que é mais importante”, frisa Maria Inês.
No currículo do grupo, estão apresentações em cidades como São Paulo, Cesário Lange, Cerquilho, Porangaba, Guareí, Piracicaba, Laranjal Paulista, Sorocaba, São Miguel Arcanjo e Capão Bonito, entre outras.
Já passaram pelas festas de todas as igrejas da cidade. “Não faltou nenhuma; tem festa, estamos lá”, brinca a cantora. Já as serenatas, as seculares cantorias sob as janelas, pararam em 1999. O motivo: a violência. “Hoje, se você sai na rua à noite para fazer uma serenata, fica sem nada”, lamenta o sanfoneiro Leonel Antunes da Rosa.
Frequentemente, os veteranos seresteiros convidam músicos mais jovens, que estão começando e não têm oportunidades de se apresentarem, a juntarem-se em participação especial em shows do grupo. “Tem espaço para todo mundo. É um aprendizado para todos”, argumenta Maria Inês.
O grupo tem muitos carnavais também na carreira. Um memorável para eles foi quando puxou um samba enredo na carroceria de um caminhão.
“Na última noite, caiu uma tremenda chuva. A cada quadra, estourava uma corda do cavaquinho. Terminamos com uma, mas terminamos”, conta, às gargalhadas, Maria Inês.
Desde o ano passado, o Seresteiros com Ternura tem participado da abertura das exposições do artista plástico de Tatuí Mingo Jacob. “É um grande prazer fazer este trabalho ao lado de alguém tão talentoso quanto o Mingo”, elogia Maria Inês.
O artista plástico é só elogios ao grupo. “Fizemos um projeto que foi aprovado pelo Proac (Programa de Ação Cultural São Paulo), em que faríamos algumas exposições nas pequenas cidades da nossa região”, conta.
Como o tema principal do trabalho são as paisagens e costumes rurais da região, “nada melhor do que convidar os Seresteiros com Ternura para abrilhantar a abertura dessas exposições”.
Segundo Jacob, o repertório que eles apresentam afina-se perfeitamente com o trabalho dele. “O nosso público-alvo é praticamente o mesmo. O grupo representa uma das tradições culturais musical mais importante de Tatuí, que é a seresta, incluindo também a tradicional música caipira. Gosto muito desse grupo e de todos os seus integrantes, que são meus queridos amigos”, finaliza.