Temporal em Tatuí

Como todos puderam lamentavelmente acompanhar ao longo da semana, a cidade sofreu muito com as fortes chuvas de sábado passado, 28 de janeiro, as quais chegaram a um volume de precipitação pouco atingido nos últimos anos.

Entre tantas tragédias vivenciadas pelo país nos últimos meses – senão anos -, das quais Tatuí também não escapa, a cidade ainda está tendo de enfrentar, portanto, mais este desafio, com dezenas de famílias desabrigadas.

Claro, só há o que lamentar, além de a municipalidade atuar para reconstruir tantos espaços comprometidos e buscar minimizar as perdas e o drama das famílias prejudicadas.

Não obstante o impacto trágico, ao menos há um ponto a se observar com real positividade: a comoção causada pela dor alheia. Em outras palavras, ressurgiu na cidade uma virtude há tempo intimidada, quando não extinta: a tal “empatia”.

De imediato, foi possível notar uma profunda mudança de discurso e, particularmente, de postura em significativa parte da população – inclusive a da que costuma manifestar-se de forma raivosa em redes sociais contra tudo e contra todos.

De repente, a população em geral externou sentimento de solidariedade e, mais importante ainda, tem buscado fazer o possível, dentro de suas possibilidades, para socorrer os conterrâneos impactados.

Consequentemente, pelas diversas iniciativas na área social, fazem emergir do lodo de ódio e insensibilidades o tão vital sentimento de solidariedade – ou de “humanidade”, melhor apontando.

Importante, portanto, o registro de ao menos algumas das mais significativas ações em favor dos tatuianos atingidos pelo temporal, lembrando que outras tantas ainda seguem acontecendo ou mesmo sendo iniciadas.

Os vereadores, por exemplo, na segunda-feira, 30 de janeiro, aprovaram o aumento da “bolsa aluguel social”, de R$ 400 para R$ 600, com o objetivo de auxiliar as famílias desalojadas pelas chuvas.

O programa consiste na concessão de benefício financeiro destinado ao pagamento de aluguel de imóvel de terceiros às famílias em situação habitacional de emergência e vulnerabilidade social, na iminência ou que acabaram de ficar sem qualquer tipo de abrigo.

Já na terça-feira, 31 de janeiro, o decreto estadual 67.463 formalizou o estado de emergência em Tatuí por 180 dias. O documento é assinado pelo governador Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos), pelo secretário-chefe da Casa Civil, Arthur Luís Pinho de Lima, e pelo secretário de governo e relações institucionais, Gilberto Kassab.

Ainda no domingo, 29 de janeiro, Freitas falou com o prefeito Miguel Lopes Cardoso Júnior ao telefone, para saber das condições humanitárias e de infraestrutura do município.

Na madrugada do dia seguinte, enviou ajuda da Defesa Civil estadual, e, pela manhã, Tatuí recebeu a visita do coronel Henguel Ricardo Pereira, secretário-chefe da Casa Militar e coordenador estadual da Proteção e Defesa Civil.

Com o decreto estadual, agora, devem ser formulados convênios com o governo do estado para o envio de recursos destinados à recuperação da infraestrutura e vias públicas.

Segundo o prefeito Cardoso Júnior, a prioridade do Executivo, neste primeiro momento, é ajudar as vítimas da chuva. Segundo a Defesa Civil, não houve vítima fatal, mas foram identificados graves danos materiais de muitas famílias.

Conforme o prefeito, “nenhuma ponte caiu, mas algumas foram prejudicadas pela força da água e passam por vistoria técnica. A ponte do Jardim Lírio, que já estava interditada para o tráfego de veículos devido ao seu comprometimento com o peso de caminhões e treminhões que circulam pela região, continua fechada, até a sua recomposição”.

Em outra frente, a prefeitura, por meio da Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social, está acompanhando, com visitas e cadastros, as vítimas das chuvas.

De acordo com levantamento divulgado pelo órgão ao longo da semana, já haviam sido cadastradas 35 famílias desalojadas e 75 pessoas estavam realocadas em residências de familiares.

Após o cadastro da secretaria, essas famílias estavam recebendo doações de alimentos, água mineral, produtos de higiene pessoal, roupas, móveis, colchões, roupas de cama, produtos de limpeza, fraldas geriátricas e eletrodomésticos, os quais chegaram até o centro de arrecadações da campanha “S.O.S. Famílias de Tatuí”, organizada pelo Fundo Social de Solidariedade.

A pasta informa que, se alguma família ainda não foi atendida pelos assistentes sociais e precisa de ajuda, deve procurar uma das quatro unidades do Cras (Centro de Referência de Assistência Social).

As unidades ficam na rua Prefeito Alberto dos Santos, 285, vila Dr. Laurindo, 3305-1841; rua João Saulo dos Reis, 90, Jardim Gonzaga, 3259-2731; rua Arthur Eugênio dos Santos, 115, Tanquinho, 3251-2442; e rua Ana Rosa Monteiro, 47, vila Santa Helena, 3251-4773.

A prefeitura informa também ser possível acionar ajuda pelos telefones 199, da Defesa Civil; 153, da Guarda Civil Municipal; e WhatsApp 3259-8407, da Secretaria de Direitos Humanos, Família e Cidadania.

Na prática, a campanha “S.O.S. Famílias de Tatuí”, do Fusstat, arrecadou quase três toneladas de alimentos, colchões, peças de roupas e móveis, em menos de 24 horas.

De acordo com a primeira-dama e presidente da entidade, Regiane de Oliveira Rosa Cardoso, a intenção é amenizar o sofrimento das famílias. Ela enalteceu o grande apoio da população, mas reforçou a importância de as contribuições seguirem em frente.

“Precisamos muito da ajuda da população, principalmente com doações de papel higiênico, fralda geriátrica, água mineral e eletrodomésticos”, indicou Regiane.

A Defesa Civil Estadual, por sua vez, enviou a Tatuí 175 itens de ajuda humanitária, contendo cestas básicas, colchões, cobertores, kits de limpeza e kits de higiene pessoal.

O município também recebeu a doação de 52 cestas básicas da prefeitura de Sorocaba, que, inclusive, está mobilizando os sorocabanos para que continuem doando kits de higiene e cestas básicas, entregues no Fundo Social de Solidariedade da cidade vizinha.

Como se observa, por um horizonte, vão-se as nuvens que, tragicamente, deixaram tantos estragos estruturais, financeiros e, claro, emocionais; por outro, pelo menos, ventos de esperança soprados pela bondade ainda existente no ser humano começam a desanuviar o tempo ruim, nebuloso, sombrio.

Logo, esta pequena era das trevas, sustentada por mentiras, preconceitos e ignorância, há de desaparecer sob o sol da verdade e de um renovado iluminismo, em uma espécie de renascimento do verdadeiro “homem de bem”, empático, solidário e, sobretudo, humano! Isto, por certo, se tivermos sorte e o “clima” não mudar novamente…