Da reportagem
A Secretaria Municipal de Saúde, por meio da Vigilância Epidemiológica, informou em boletim extraordinário, às 19h30 de sexta-feira, 20, que foi detectado um caso positivo de Covid-19 em Tatuí. A doença atingiu uma mulher de 52 anos.
De acordo com a VE, a paciente será submetida a um novo teste, de contraprova. A mulher se encontra em tratamento domiciliar, com quadro estável. Os contatos da paciente (familiares, amigos e profissionais) nos últimos dias estão sendo mapeados para os devidos procedimentos sanitários e de quarentena.
Em boletim divulgado às 16h, a VE apontou duas novas suspeitas, envolvendo uma mulher de 89 anos e um adolescente de 13. Segundo o órgão, ambos apresentam quadros estáveis e seguem em tratamento domiciliar. Não há informações sobre como teriam ocorrido as possíveis transmissões.
Com as notificações que vêm sendo feitas desde segunda-feira, 16, o município chegou a somar 28 casos suspeitos. Eles atingem: 15 mulheres, entre 13 e 89 anos; 11 homens, entre 14 e 48 anos; e duas crianças, de 9 meses e 5 anos. Na sexta, houve uma confirmação e um caso foi descartado em exame laboratorial, feito no dia anterior em uma idosa de 86 anos.
Entre os 27 casos que seguiram suspeitos, um homem de 48 anos permanecia internado na Santa Casa de Misericórdia, com quadro estável, até o fechamento desta edição (18h). O restante recebia cuidados médicos e estava em isolamento social.
Todos os exames foram encaminhados para análise no Instituto “Adolfo Lutz”, em São Paulo, e aguardam resultado. A previsão é de que os laudos saiam em até 15 dias ou mais, após o encaminhamento da amostra ao IAL.
Também na tarde de sexta-feira, um evento – restrito e com cuidados de segurança – reuniu líderes de igrejas, órgãos municipais, Associação Comercial e Empresarial, entre outras autoridades para a apresentação das estatísticas e de dois novos decretos municipais que impuseram o fechamento do comércio e dos órgãos públicos a partir de segunda-feira, 23.
Durante o evento, foi anunciado que o número de pessoas infectadas pelo coronavírus em Tatuí pode chegar a 1.800 infectados durante o surto do Covid-19, na melhor das perspectivas, conforme levantamento da Secretaria Municipal de Saúde.
Já na pior das hipóteses, ainda segundo o levantamento, o número pode atingir 18 mil infectadas pelo vírus. O estudo do Comitê Municipal de Prevenção e Enfrentamento ao Covid-19 foi apresentado pela médica ginecologista e obstetra Maria Laura Lavorato Matias, diretora clínica da Santa Casa de Misericórdia, no paço municipal.
Maria Laura explicou que a estatística foi baseada em dados do governo estadual, que apontam que a doença pode acometer de 1% a 10% da população. Desses acometidos, é previsto que 20% vão precisar de internação hospitalar e cerca de 6%, de atendimento em UTIs.
“No melhor cenário – considerando uma população de 180 mil pacientes atendidos pelo município –, estamos esperando 1.800 infectados, 360 internações e 15 quadros de internação em UTI”, detalhou a médica.
Em um segundo cenário, com média de 5%, os casos podem chegar a 9.000 pessoas infectadas pela doença, 1.800 internações e 72 leitos de UTI ocupados. Já no pior cenário, de 10%, o número sobe para 18 mil infectados, 3.600 internações e 144 leitos de UTI ocupados.
Para não chegar neste cenário, o município alerta ser necessário haver conscientização da população e seguir à risca as orientações do Ministério da Saúde, ou seja, permanecer em casa e evitar o contato social.
A médica explicou que a progressão do vírus é muito rápida e dobra a cada três dias. Segundo ela, o melhor cenário de todos no mundo até hoje foi o da Ásia, que adotou o isolamento social chamado “lockdown”.
“Eles adotaram a medida no 20º dia da epidemia, com 260 casos. Mesmo assim, chegaram a 80 mil casos. Por isso, é importante que nós tomemos medidas para conter o vírus ainda no começo”, acentuou a médica.
Ela alertou que muitos casos de pacientes infectados pelo Covid-19 podem não ser nem contabilizados pelo sistema, por serem assintomáticos, e reforçou serem necessários cuidados para evitar a disseminação da doença.
“Nós não temos como testar toda a população e o vírus leva nove dias para começar a mostrar os sintomas. Além disso, muitos são assintomáticos e podem estar passando o vírus para os outros sem saber que já estão contaminados”, acrescentou a médica.
De acordo Maria Laura, a meta do município é manter o melhor cenário ou abaixo dele. Contudo, ela destacou ser necessário que a população colabore com as medidas de prevenção tomadas pela prefeitura.
“A comissão (Comitê Municipal de Prevenção e Enfrentamento ao Covid-19) acha que, tomando essa atitude, consegue segurar o pico de casos no município. A nossa maior prioridade é ter condições de atender bem a todos que chegarem até nós”, completou.
A médica reiterou que a melhor ação para evitar a disseminação do vírus é o isolamento social e orientou: “Fiquem em casa, lavem as mãos, o rosto, as narinas, se preocupem consigo e com o próximo. Essas medidas não são exagero, são necessárias. É preciso ficar em casa, pelo nosso bem e pelo próximo”, asseverou a médica.
Decretos
Na sexta-feira, 20, a prefeita Maria José Vieira de Camargo assinou dois decretos sobre adoções de medidas temporárias e emergenciais para o enfrentamento da pandemia, um para as atividades públicas e outro para as atividades comerciais, industriais e de serviços.
Conforme os documentos, a medida foi tomada tendo em vista as orientações do decreto estadual 64.865, de 18 de março, bem como as recomendações do Ministério da Saúde, considerando a necessidade de evitar a propagação da doença e de tomar providências que visem ao combate efetivo da propagação do vírus.
O vice-prefeito Luiz Paulo Ribeiro da Silva ponderou que “as ações parecem extremas, mas são necessárias diante das estatísticas para evitar que as pessoas continuem saindo das casas, o que pode acarretar maior disseminação do vírus no município”.
“A partir de segunda-feira, a prefeitura vai adotar o ‘lockdown’. Ninguém deve sair da casa, somente os casos de extrema necessidade. Somente assim nós conseguiremos reduzir o número de pessoas contaminadas”, declarou.
O decreto municipal 20.568 prevê medidas no âmbito da administração pública direta e indireta, considerando, ainda, a situação de emergência oficializada no município pelo decreto municipal 20.565 de 17 de março.
Por meio do documento, fica suspenso o atendimento presencial ao público nas unidades administrativas de todos os órgãos municipais, por prazo indeterminado, com exceção dos serviços essenciais e de urgência e emergência.
Conforme o decreto, a prestação e acesso aos serviços públicos, considerados de natureza não essencial, no período de emergência, ficarão suspensos por 30 dias, salvo os casos de urgência e relevância com análise de justificativa e eventual liberação.
Conforme Luiz Paulo, os contatos serão mantidos por canais telefônicos e via e-mails, disponibilizados nas páginas oficiais de cada um dos órgãos e da página oficial da prefeitura.
Os servidores públicos municipais com idade igual ou superior a 60 anos e as gestantes estão dispensados do comparecimento ao serviço público, por prazo indeterminado, sendo as ausências consideradas faltas justificadas, salvo os guardas civis municipais e vigias patrimoniais.
“Em caso de necessidade do serviço público, os servidores idosos terão que retomar ao trabalho imediatamente. Até agora, não precisamos, mas pode ser que a gente precise convocá-los para trabalhar, principalmente nos casos de profissionais de saúde”, comentou o vice-prefeito.
Os servidores públicos acometidos por doenças crônicas (respiratórias, cardiopatias, diabetes, hipertensão ou outras afecções que deprimam o sistema imunológico) poderão ser dispensados do comparecimento ao serviço, desde que apresentem atestado médico e comprovem a impossibilidade de prestar o serviço no local de trabalho.
Ainda conforme o decreto, os servidores que tiverem direito a férias e ou licença-prêmio deverão encaminhar os respectivos pedidos para análise e eventual deliberação, assegurada a permanência de número mínimo de servidores necessários às atividades essenciais e de natureza continuada.
Por meio do documento, a Secretaria Municipal de Saúde também fica autorizada a requisitar servidores de outras secretarias para ações que visem à prevenção e combate ao coronavírus.
Além disso, o decreto prevê prioridade aos pedidos de compras de materiais e insumos utilizados na prevenção e combate à propagação do Covid-19.
Já o decreto 20.567 dispõe sobre novas medidas para o enfrentamento da pandemia em todo o município, considerando a necessidade do poder público em tomar providências que visem ao combate efetivo da propagação do vírus.
O documento prevê que, para o enfrentamento da situação de emergência, poderão ser requisitados bens e serviços de pessoas naturais e jurídicas, hipótese em que será garantido o pagamento posterior de indenização.
Por meio do decreto, também fica suspenso o atendimento presencial ao público em estabelecimentos comerciais, a partir de segunda-feira, 23, até o dia 29 de março, prorrogável, por igual período, a critério do poder público.
As atividades internas dos estabelecimentos comerciais, bem como a realização de transações comerciais por meio de aplicativos, internet, telefone ou outros instrumentos similares e os serviços de entrega de mercadorias (delivery) poderão ser mantidos.
Só poderão permanecer abertos ao público: supermercados e hortifrutigranjeiros; restaurantes e lanchonetes; padarias; açougues e peixarias; feiras livres; distribuidores de água mineral e gás; drogarias e farmácias; lojas que comercializem produtos de limpeza, equipamentos médicos, hospitalares e similares; agropecuárias; e postos de combustíveis.
Os estabelecimentos que permanecerem abertos deverão adotar as seguintes medidas de segurança: evitar aglomerações de pessoas; intensificar as ações de higiene e limpeza; disponibilizar álcool em gel aos clientes; divulgar informações acerca do Covid-19 e das medidas de prevenção.
Aos restaurantes e lanchonetes, é recomendado manter espaçamento mínimo de um metro entre as mesas.
Também de 23 a 29 de março, estará suspenso o funcionamento de bares, casas noturnas, academias, cinemas, clubes sociais e esportivos, sindicatos, estabelecimentos que realizem festas ou eventos e assembleias condominiais.
O documento ainda prevê a suspensão do atendimento ao público de prestadores de serviço em geral, podendo ser mantidas as atividades internas, por meio de aplicativos, internet, telefone ou outros instrumentos similares, ou preferencialmente, mediante teletrabalho, com a implantação do trabalho remoto, através de home office (serviço em casa).
Também ficará suspenso o atendimento ao público em salões de beleza, cabeleireiros, barbearias, clínicas de estética, consultórios médicos e odontológicos, ressalvados os casos de urgência e emergência, que necessariamente terão atendimento individualizado.
As agências bancárias, correios, casas lotéricas e atividades industriais deverão adotar providências de higienização como os outros. Ainda é recomendada a diminuição do efetivo, bem como o revezamento semanal de funcionários.
A medida estabelece horários e restrições para o funcionamento do velório municipal. Conforme o decreto, o local só poderá funcionar das 7h às 22h, recomendando-se a presença de até dez pessoas, em revezamento, em cada um dos recintos do velório.
O atendimento presencial ao público no Mercado Municipal também está suspendo, e as concessionárias do transporte público municipal deverão fazer a permanente higienização dos veículos.
Também é recomendado, aos templos religiosos, a suspensão de missas e cultos. A fiscalização das medidas ficará a cargo da Fiscalização de Posturas, Guarda Civil Municipal e Vigilância Sanitária e Epidemiológica.
O governador João Doria também anunciou, nesta sexta-feira, o estado de calamidade pública em todas as regiões do estado de São Paulo. A medida assegura que o governo pode elevar gastos acima dos limites legais para o enfrentamento da emergência global em saúde pública.
A medida estadual reforça decisão do governo federal desta semana e já aprovada pela Câmara dos Deputados e pelo Senado.
Na prática, o decreto assinado por Doria simplifica compras e contratações de serviços essenciais no combate ao coronavírus. Para dar ainda mais agilidade às ações do estado, foi criado, nesta semana, o Comitê Administrativo Extraordinário, coordenado pelo vice-governador Rodrigo Garcia – ele também é secretário de governo.
Uma das possibilidades permitidas pelo estado de calamidade pública é colocar em funcionamento hospitais que já estão prontos, mas ainda não abertos por falta de equipamentos e recursos humanos. A compra de aparelhos seria imediata, com licitações emergenciais e contratação de profissionais sem concurso.
Coordenador do Centro de Contingência do Coronavírus, o médico infectologista David Uip listou os hospitais em Caraguatatuba (litoral), Bauru (interior) e São Bernardo do Campo (Grande SP), que se enquadram no cenário permitido pela calamidade pública e que poderão ser ativados, caso seja necessário.
Outra medida em estudo prevê que, diante do fechamento temporário de toda a rede estadual de ensino, o governo de São Paulo use recursos extras para investir em um sistema de ensino a distância, que atenda todos os alunos.
“O objetivo não é gerar pânico, e sim facilidades para o governo e seus 645 municípios. É para permitir uma atuação mais precisa e rápida pelas características que o estado de calamidade pública permite ao poder público. O decreto simplifica o processo de compras e contratações de serviços essenciais, tira a burocracia e protege os gestores públicos”, concluiu Doria.
As secretarias estaduais de saúde divulgaram, às 19h40 de sexta-feira, 20, 969 casos confirmados de coronavírus no Brasil, em 24 estados e no Distrito Federal. O país já somava 11 mortes pela doença, sendo nove no São Paulo e duas no Rio de Janeiro.
Conforme a Secretária Estadual de Saúde, somente na sexta-feira, foram registradas quatro novas mortes no estado paulista. Todos os pacientes confirmados, sendo três homens e uma mulher, tinham mais de 70 anos, problemas de saúde anteriores e foram atendidos em hospitais privados.
A Secretária Estadual de Saúde afirma que 396 casos da doença em São Paulo já foram confirmados até esta sexta-feira, além de 9.023 casos suspeitos.
O último balanço do Ministério da Saúde, divulgado no período da tarde, contabilizava 904 infectados. Este balanço foi feito com os dados informados pelas secretarias estaduais de saúde até às 16h. Somente o Maranhão e Roraima ainda não haviam confirmado casos.
Em relação ao balançado divulgado na quinta-feira, 19, o Ministério da Saúde apontava 621 confirmações de pacientes infectados e seis mortes, indicando crescimento de 45% de casos confirmados no país em 24 horas.
Ainda comparando os dois últimos balanços, houve aumento de confirmações em todas as regiões brasileiras: no Sudeste, de 391 casos para 553; no Nordeste, de 110 para 134; no Norte, 8 para 15; no Centro-Oeste, de 61 para 112; e no Sul, de 71 para 90 casos.
O Ministério da Saúde não divulgou, pelo segundo dia consecutivo, o total de casos suspeitos e o número de pessoas hospitalizadas.
De acordo com o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, as infecções por coronavírus deverão “disparar” no Brasil entre os meses de abril e junho. Segundo ele, é esperado que os casos de transmissão do Covid-19 comecem a cair a partir de agosto.
“A gente deve entrar em abril e iniciar a subida rápida de infecções. Essa subida rápida vai durar o mês de abril, o mês de maio e o mês de junho, quando ela vai começar a ter uma tendência de desaceleração de subida”, afirmou Mandetta.
“No mês de julho, a doença deve começar um platô. Em agosto, esse platô vai começar a mostrar tendência de queda. Em setembro, é uma queda profunda, tal qual foi uma queda de março na China. Esse é o cenário que o mundo ocidental está trabalhando”, complementou.
Ainda conforme Mandetta, em São Paulo, estado mais afetado pelo Covid-19, o surto começará mais cedo. “A gente imagina que a infecção por coronavírus vai pegar velocidade e subir na próxima semana”, apontou o ministro.
Na região próxima ao município, havia 119 casos suspeitos em 24 cidades até sexta-feira, sendo em Tatuí, até o momento, o único caso confirmado. Itapetininga possuía 30 casos suspeitos, enquanto Itapeva apresentava nove, Laranjal Paulista, seis, e Boituva, cinco. Capão Bonito e Itararé tinham quatro registros.
Ainda havia casos suspeitos de Covid-19 em: Cerquilho, Cesário Lange, Itaberá, São Miguel Arcanjo e Tietê, cada um com três; Angatuba, Buri, Campina do Monte Alegre, Cerqueira César, Itaí, Nova Campina e Pilar do Sul, dois; e Avaré, Iaras, Itaporanga, Piraju e Ribeirão Grande, um.