Tatuí estância turística do estado de S. Paulo

A elevação de Tatuí à categoria de estância turística do estado de São Paulo, aprovada pela Alesp na quarta-feira da semana passada, 3, é mais que um marco administrativo: é o ponto culminante de um processo histórico, longo e coletivo, que mobilizou agentes públicos, instituições, lideranças comunitárias, profissionais do setor e, sobretudo, uma comunidade que, ao menos, já parece estar aprendendo a valorizar seus próprios patrimônios.

Tatuí chega a esse novo patamar porque se preparou e acreditou, ainda quando o caminho parecia distante, que possui vocação real para o turismo cultural, histórico e de eventos.

O percurso não começou agora, contudo.

Pelo contrário: a conquista de 2025 é resultado direto de um esforço que se intensificou há cerca de uma década, quando a cidade se mobilizou para alcançar o título de município de interesse turístico (MIT).

Para isso, foi preciso mapear atrativos, estruturar governança, atualizar legislação, criar mecanismos de gestão e organizar informações que demonstrassem ao governo estadual o potencial turístico da cidade.

Nesse movimento, diversos setores desempenharam papéis essenciais — entre eles, o jornal O Progresso de Tatuí, bom lembrar, cuja atuação acompanhou, incentivou e atuou concretamente em meio aos esforços pela valorização do turismo em Tatuí.

Foi O Progresso que, quando o assunto turismo ainda não ocupava a centralidade de hoje, tomou para si a responsabilidade de formular, imprimir e divulgar o primeiro guia turístico e gastronômico estruturado da cidade – posteriormente também efetivado em versão digital (www.tatuicidadeternura.com.br).

À época, tratou-se de um gesto pioneiro. O jornal entendeu, antecipadamente, que um município só se projeta além de suas fronteiras quando assume o dever de documentar e apresentar seus próprios valores culturais.

Assim nasceu o Guia Turístico e Gastronômico Tatuí Cidade Ternura – em parceria desde a primeira edição com o Departamento Municipal de Turismo -, o qual, ao longo dos anos, tornou-se referência regional e um instrumento decisivo na construção da imagem da cidade.

Esse material — completo, atualizado, visualmente profissional e amplamente distribuído — contribuiu de forma prática e simbólica para consolidar a noção de que Tatuí tinha, sim, condições de disputar espaço entre destinos relevantes do estado.

É significativo que, quase dez anos depois, o guia siga sendo o instrumento mais completo de divulgação turística local, utilizado pela própria prefeitura em eventos, feiras, recepções oficiais e iniciativas de promoção do município. Ele se tornou parte da identidade visual e institucional de Tatuí, acompanhando a cidade em seu crescimento.

A aprovação recente na Alesp confirma que esse esforço coletivo deu frutos. De acordo com o ranqueamento técnico, Tatuí alcançou a quinta colocação entre 78 estâncias, sendo o primeiro MIT a subir de categoria — posição ainda mais expressiva quando se observa que as quatro cidades à frente já eram estâncias turísticas consolidadas.

O dado revela maturidade administrativa, capacidade de planejamento e evolução na infraestrutura urbana. Desde o MIT, em 2021, o município saltou da 21ª posição no ranking para a liderança entre os postulantes à estância. Isso não ocorre por acaso: é resultado de trabalho técnico consistente.

Os critérios para a elevação são rigorosos e vão muito além dos atrativos turísticos propriamente ditos. Pesam fatores como saúde, saneamento, segurança, mobilidade, acessibilidade, sinalização, governança e capacidade de gestão — áreas em que Tatuí demonstrou avanço significativo.

O Conselho Municipal de Turismo (Comtur), os turismólogos da prefeitura e diversas secretarias atuaram na coleta, sistematização e qualificação de dados, produzindo diagnósticos atualizados e planos de ação alinhados às exigências estaduais.

A aprovação abre portas importantes. Como MIT, Tatuí recebia cerca de R$ 600 mil anuais do Fundo de Turismo. Como estância, passa a poder acessar valores entre R$ 3 milhões e R$ 6 milhões, ampliando significativamente a capacidade de investimento em infraestrutura turística.

Projetos como o novo Mercado Municipal, o Mirante do Bicentenário, a praça Anita Costa, a revitalização da estação ferroviária e outras iniciativas estruturantes ganham viabilidade concreta. O potencial de transformação urbana e econômica é real.

Mas o reconhecimento do presente é, necessariamente, um convite a revisitar o passado recente. Tornar-se estância não é obra de um único governo, nem de um único setor.

Trata-se de uma trajetória coletiva, construída ao longo de anos por quem acreditou no turismo como vetor de desenvolvimento — entre esses, gestores públicos, conselhos municipais, empresários, produtores culturais, educadores, profissionais da área e veículos de comunicação que desempenharam o papel de registrar, promover e difundir os valores da cidade.

Nesse conjunto, a proposta inicial do guia tem sequência sem alteração, a despeito das excelentes conquistas do momento: colaborou para mudar a percepção interna e externa sobre Tatuí, mostrando que seus equipamentos culturais — o Conservatório, o Museu Paulo Setúbal, o Sítio do Carroção, suas praças, igrejas, festivais, feiras, gastronomia e tradições — constituem mais que patrimônio: “formam um destino”.

Agora, ao alcançar a condição de estância turística, Tatuí inaugura um novo ciclo. Mas esse novo ciclo não existe sem a memória do processo que o antecedeu.

Reconhecer o passado é fortalecer o futuro. Valorizar as iniciativas que abriram caminho é reconhecer que o turismo não se constrói de forma improvisada, e sim com planejamento, continuidade e participação social.

Este é, portanto, um momento de celebração — mas também de responsabilidade. O desafio, a partir de agora, é consolidar a posição conquistada, manter a qualidade da gestão e garantir que os investimentos futuros sejam guiados pelo interesse coletivo e compromisso com a identidade cultural de Tatuí.

A cidade chega aos seus 200 anos com um novo título, um novo horizonte e a oportunidade de transformar vocação em desenvolvimento. Tatuí se torna estância turística porque trabalhou para isso.

E porque muitos acreditaram, no tempo certo, que a cidade merecia ser vista, reconhecida e visitada. Que esse marco histórico seja também um convite para se continuar construindo, com seriedade e visão de futuro, o destino que Tatuí escolheu para si.