Kaio Monteiro
Davison Pinheiro apresenta o resultado dos estudos produzidos por um grupo de arquitetos que replanejaram projetos de mobilidade urbana
Imagine se a ferrovia que rasga Tatuí fosse transferida para fora da cidade. O local seria transformado numa “ciclovia cultural”, com uma gama de bares, teatro e casas de show. Logo na entrada da cidade, estaria a nova rodoviária, que descongestionaria o intenso trânsito do centro da cidade.
Supondo-se que a estação ferroviária fosse para área atrás da Ceagesp e, no terreno do antigo prédio, funcionasse um grande centro comercial, que teria um amplo estacionamento para abrigar os veículos dos clientes dos bares e do possível teatro.
O município também contaria com ruas no centro mais largas, e com o fluxo de carro melhor planejado. Isso parece soar como algo impossível de ser construído. Mas, um grupo de arquitetos e estudantes reuniu-se para discutir os principais problemas urbanos locais.
O resultado do projeto “Tatuí do Futuro – A Cidade que Queremos” foi apresentado em palestra na quinta-feira, 12, em evento na Câmara Municipal. Além de discutirem, eles apontaram possíveis soluções para os gargalos que a cidade enfrenta.
“Não queremos que Tatuí seja apenas referência como Capital da Música. Cada um aqui trouxe a sua ideia. O planejamento foi realizado com a equipe reunida, pensando a longo prazo”, comentou Beatriz Guedes, integrante do grupo.
“Nós queremos atender todo o tipo de público, como cadeirantes, idosos, por exemplo, porque eles não têm como andar na cidade”, argumentou ela.
Participam desse grupo os arquitetos Aoron Thonsom, Alfredo Cardoso, Ana Laura Camargo, Davíson Pinheiro, Renato Ramos e Veridiana Pettinelli, além dos estudantes de arquitetura Aline Comelli, Beatriz Guedes, Fernanda Miranda, Loruama Ramos, Mariana Fonseca e Beatriz Lanza.
“Nosso objetivo não é partidário e não é financeiro. Nós queremos viver numa cidade legal. O objetivo dos arquitetos voluntários é gerar grande resultado, com grandes ações, e fazer de Tatuí um bom lugar para se morar”, afirmou Pinheiro.
Ele, que coordenou o grupo, explicou que o grande fundamento para melhorar as questões urbanas é ajustar o Plano Diretor da cidade. “O Plano Diretor indica todos os investimentos dos próximos cinco, dez anos. Tatuí teve o primeiro plano nos anos 70”, afirmou.
“O nosso Plano Diretor mais atual é de 2006. Ele foi ótimo porque começamos a planejar. Isso é um primeiro momento. Agora, é o momento de nós chegarmos realmente a uma meta. A Prefeitura deve discutir o próximo Plano Diretor no ano que vem”.
O projeto exposto pelo grupo trata de questões turísticas e de crescimento urbano. O estudo apontou que a cidade encontra-se numa posição “privilegiada”, pois está perto de outros municípios que possuem atrações turísticas, como Boituva (balonismo e salto de paraquedas) e Iperó (Fazenda Ipanema).
Outro fator preponderante que coloca o município na rota de possíveis turistas é o tempo de deslocamento até São Paulo.
“O pessoal que sai da capital, no final de semana, tem um critério de horas que é aceitável. E nós estamos na metade disso. Então, nós temos um potencial gigantesco para ser instância turística”, apontou Pinheiro.
A Prefeitura tem pretensões de tornar a cidade instância turística, devido a seu “DNA musical”. O projeto de lei que determina a classificação está em trâmite na Assembleia Legislativa do Estado.
“Só para vocês saberem, não é fácil ser instância turística, pois envolve várias questões. Brotas ainda não é instância turística. Vai ser agora. Olímpia, que tem o parque aquático, ainda não é. É uma luta que exige muitas coisas, como paisagem urbana, locais para hospedagem, detalhes que irão definir se a cidade é uma instância turística”, explicou Pinheiro.
O estudo realizado pelo grupo de arquitetos também apontou questões a serem exploradas pelo governo municipal. “O trânsito às 17h30, para a cidade. Mas isso não é problema de hoje, envolve questões desde os anos 70. E, para isso, temos soluções”, disse Pinheiro.
Um dos problemas, conforme consta no projeto arquitetônico, é a rodovia Mário Batista Mori (SP-141), que, segundo o coordenador, “corta a cidade em dois lados”.
“Hoje, eu trabalho na Fatec e, quando volto, demoro 30 minutos para andar um trecho de dois quilômetros. É uma estradinha para toda uma multidão passar”.
Desenvolvimento
Pinheiro afirmou que a “parte baixa da cidade” tem potencial muito grande, mas problemas ainda maiores. Um dos planos do projeto feito pelos arquitetos é retirar a linha férrea que passa pelo centro, com verba de programas do governo federal, e fazê-la contornar o município.
“Várias cidades, como São José do Rio Preto e Bauru, estão fazendo isso. Para o município, é ótimo, pois eliminaremos o problema de acidente ”.
“Além do trem, essa linha tem uma vantagem porque ela não tem nível, é reta. Após a retirada do trilho, o previsto é que a área seria doada para o município pela União. Vamos ganhar um acesso à cidade, plano, interligando o município de ponta a ponta”, anunciou Pinheiro.
No entanto, uma das linhas seria mantida, com o intuito de montar um “ramal turístico”. No local que seria retirado os trilhos, a proposta é de construção de uma “ciclovia cultural”.
Pinheiro afirma que o local da estação desativada receberia investimento privado para a construção de um centro comercial e estacionamento.
“Então, o futuro cultural da cidade, como museu e teatros, estarão ligados a essa ciclovia, que culminaria no ramal ferroviário. Pode vim de trem turístico, de ônibus, de bicicleta. E você ainda poderia passear pela ciclovia plana, coisa que ninguém tem”, argumento Pinheiro. “Tudo seria ‘lincado’ à ciclovia cultural”.
Outra proposta é construir uma nova rodoviária no início do trecho urbano da rodovia Senador Laurindo Dias Minhoto. Além disso, o projeto sugere que a Prefeitura construa uma nova estação ferroviária num terreno atrás da Ceagesp.
Na ciclovia, também seria possível construir um “desfilódromo”, de acordo com Pinheiro. “Nos barrancos, precisariam fazer contenção, e construiríamos uma arquibancada para que, em desfiles oficiais, não seria preciso fechar a rua 11 de Agosto”, comentou.
O trabalho do grupo prevê aumento de saídas nas rodovias que ligam Tatuí aos municípios da região, integrando também os bairros mais afastados do centro. Consta no projeto que a marginal do Manduca poderia se tornar grande via de ligação .
Uma solução para as calçadas apertadas do centro, afirma Pinheiro, seria transformar algumas vias em mão única e alongar um dos lados, prioritariamente os locais sem postes. “O espaço nosso é limitado. A calçada que tem o poste nós esquecemos. Já foi. Na outra, nós melhoramos”.
De acordo com o coordenador do projeto, muitas dessas propostas são de custo zero. “Não é que vamos gastar uma fortuna com tudo isso. É preciso ter um planejamento em longo prazo para seguirmos esses eixos. Então, isso aqui, naturalmente, vai acontecer”.
O projeto estabelece também que “superquadras” sejam construídas, além de lixeiras de cimento, para evitar depredações, e um museu no aeroclube de Tatuí.
O “superquadras” seria formado por conjuntos habitacionais, ou casas construídas a partir de espaços amplos, arborizados, com opções públicas de esporte e lazer, sem a necessidade de grandes deslocamentos para acesso às escolas.
Parque, represa e campus
Uma das metas propostas pelos arquitetos é criar, na região onde encontra o campo de provas da Ford, um campus universitário, um parque às margens da represa daquela região e a criação de uma APA (área de preservação ambiental).
“Perto da Ford, tem um barranco que não vale quase nada. E tem algumas pessoas que tentam trazer o campus universitário para cá”, disse Pinheiro.
O coordenador do grupo afirmou que um dos princípios do campus universitário é que seja próximo de alguma rodovia, para que as populações de municípios vizinhos tenham acesso.
“Esse terreno é ideal. Uma universidade como a Unesp, por exemplo, torna-se um grande Ibirapuera. E será construída com recursos do governo estadual”.
O campus universitário estaria ligado ao parque da represa, e esse complexo, ligado à ciclovia, informou Pinheiro. “O local é basicamente de floresta. Nossa proposta é criar uma APA, pois teremos uma paisagem que ninguém tem, com uma represa de fundo”.
Prefeitura
A secretária da Fazenda, Finanças e Planejamento, Lilian Maria Grando Camargo, compareceu à cerimônia de apresentação do projeto. Ela classificou o trabalho dos arquitetos como “superinteressante pela linha futurista, pensada na mobilidade urbana”.
“Nós vamos passar para o setor do planejamento. Só temos a agradecer a espontaneidade e o empenho de pensar dessa forma”, disse. “É difícil saber se será aprovado. As alterações necessitam de um trâmite muito longo, é difícil de fazer uma previsão”, analisou.
Lilian contou que a Prefeitura já pensa em fazer a revisão do Plano Diretor da cidade. “Ainda é um embrião, pois é necessária dedicação exclusiva do setor. Ainda temos obras que requerem uma atenção, porque precisamos concluir”.
Para a secretária da pasta de planejamento, a parceria que os arquitetos propõem com o governo municipal é “perfeita”. Ela citou que, neste ano, já houve a participação da população nas conferências da cidade e nas audiências pública do Plano Plurianual.
“A população precisa participar da vida pública como fizeram esses profissionais. Ao invés de criticarem, eles vieram com propostas. Mesmo se nós não fizermos tudo, poderão surgir soluções modificadas, ou simplificadas importantes para a sociedade”.