Setor de serviços puxou geração de empregos; comércio e indústria fecharam postos
O mercado de trabalho em Tatuí teve reação em fevereiro e fechou o primeiro bimestre com saldo positivo. Foram criadas 120 novas vagas de trabalho nos dois primeiros meses do ano.
O setor que mais contribuiu com o resultado “no azul” foi o de serviços. O índice só não foi melhor porque o comércio e a indústria continuaram a apresentar fechamento de postos.
No mês de fevereiro, foram criados 161 vagas de trabalho, de acordo com o Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), do Ministério do Trabalho e Previdência Social. O levantamento leva em conta o número de “baixas” e contratos de emprego em carteira.
O setor de serviços, que gerou apenas um novo posto de trabalho em janeiro, reagiu e liderou o número de contratações, com 197 no primeiro bimestre.
A indústria de transformação, que amargara resultados ruins no ano passado, arrefeceu no número de demissões, porém, fechou 44 vagas. O comércio foi a atividade econômica com o maior número de demissões, somando 59.
Outras atividades econômicas tiveram menor impacto nas estatísticas do primeiro bimestre. O setor de serviços industriais de utilidade pública teve saldo positivo de uma vaga, a administração pública gerou 13 vagas e a agropecuária, nove.
De acordo com o chefe regional do órgão federal, Antonio Carlos de Morais, o balanço do Caged mostra que a indústria tatuiana já “atingiu o fundo do poço” em matéria de enxugamento de vagas de trabalho.
“A tendência é que mantenha com número baixo de funcionários até voltar a atividade econômica. A indústria demora mais para reagir em cenário favorável do que outros setores, como o de serviços, que é mais imediato”, analisou.
As indústrias têm a característica de exigirem mais qualificação profissional para os postos de trabalho, o que nem sempre é encontrado no mercado local. Trabalhadores com maior formação tendem a buscar vagas em cidades onde há melhores opções de colocação profissional.
“A área de serviços, por outro lado, é bem sensível. Quando tem queda na demanda, ela reage com demissões, mas, quando o cenário volta a ficar favorável, as contratações são mais rápidas”, ponderou.
Para Morais, o reaquecimento do setor de serviços pode mostrar um ânimo maior do empresariado de outras atividades econômicas, como indústria, comércio e construção civil. O aumento da demanda nessa área em particular pode mostrar a volta da aceleração da economia.
“O setor de serviços teve um grande salto. Isso indica aumento na demanda de outros setores, que podem voltar a contratar no futuro”, explicou.
A construção civil teve resultado positivo no saldo de contratações em janeiro, com nove novas vagas, e resultado negativo em fevereiro, com seis postos fechados.
Apesar da oscilação, Morais acredita que o setor voltará a se aquecer economicamente neste ano, com a volta de operações em canteiros de obras na cidade.
“Alguns empreendimentos que estavam parados estão voltando a reativar. É um setor importante para a economia, pois eles consomem insumo no comércio e gastam no setor de serviços, além de gerar grande quantidade de empregos”, ressaltou.
Para o mês de março, o chefe da agência do Ministério do Trabalho acredita que o saldo deva ser positivo na geração de empregos. A quantidade de homologações caiu entre 20% e 25% no mês, indicando que as empresas já concluíram as dispensas de mão de obra.
“Isoladamente, Tatuí teve resultado melhor do que as outras cidades atendidas pela agência. Capela do Alto, por exemplo, teve grande número de demissões na Cutrale, pelo término da safra de laranja”, informou.
O Caged, entretanto, não reflete 100% da população economicamente ativa. Mesmo desempregados, os trabalhadores “são criativos” e tendem a arrumar algum “bico” para geração de renda sem carteira assinada.
“É muito difícil o trabalhador ficar o tempo todo parado. Ele vende pipoca, faz bicos na construção civil, consegue algum tipo de renda para colocar dentro de casa e até abre o próprio negócio. Esse tipo de atividade econômica informal o Caged não consegue contabilizar”, explicou.
Salários mais baixos
Conforme o responsável pela agência regional, a rotatividade da mão de obra pode fazer com que os salários de algumas funções fiquem menores, “achatando” os vencimentos em direção ao piso acordado entre sindicatos e empresas.
O salário médio de auxiliares de escritórios, por exemplo, caiu de R$ 1.162,77, em 2015, para R$ 958,93, em fevereiro deste ano. Empregados na função de oleiro tiveram reposição inflacionária em 2016 e, neste ano, estão sendo admitidos com salários abaixo do índice IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), do IBGE.
“A tendência é que funções que as empresas mantinham com salário acima da média as empresas troquem a mão de obra e admitam trabalhadores com salários inferiores. É uma tendência de mercado”, ressaltou.
Os salários são regidos por convenções coletivas assinadas por sindicatos patronais e de empregados. Conforme Morais, a maioria das empresas costumava pagar salários acima do acordo para manterem os funcionários. A tendência se inverteu com a crise.
“É importante ressaltar que as empresas não podem pagar menos do que o assinado na convenção. É difícil acontecer isso, até mesmo porque não compensa financeiramente e pode gerar questionamentos na Justiça do Trabalho. As multas são altas”, alertou.