Da reportagem
Neste mês dedicado à prevenção ao suicídio e intitulado “Setembro Amarelo”, diversas ações para combater o problema são realizadas em todo o país. A campanha, promovida nacionalmente desde 2014 pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), em parceria com o Conselho Federal de Medicina (CFM), tem como tema neste ano “A vida é a melhor escolha”.
De acordo com a diretora da Raps (Rede de Atenção Psicossocial), Cíntia Scaglioni, o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio é celebrado em 10 de setembro, porém, a campanha acontece ao longo de todo o mês.
No município, as ações são realizadas pela prefeitura, por meio da Raps, vinculada à Secretaria de Saúde, com apoio da Rede Interssetorial e da Atenção Básica em Saúde.
“O principal objetivo do Setembro Amarelo é trazer visibilidade para o tema e conscientizar a população para a prevenção de suicídios, sendo a melhor forma através de diálogos e discussões que abordem o problema”, explicou Cíntia.
Segundo a coordenadora, focando no tema “A vida é a melhor escolha, você não está sozinho”, a equipe está realizando diversas ações, entre elas: palestras nas unidades básicas de saúde (UBSs) e nas escolas de ensinos fundamental e médio, além de reuniões nos Centros de Referência de Assistência Social (Cras’s).
Na quarta-feira, 21, às 9h, no Centro de Artes e Esportes Unificados “Fotógrafo Victor Hugo da Costa Pires” (CEU das Artes), haverá evento sobre a importância da dança e da atividade física no enfrentamento à ansiedade e à depressão, com apresentação da equipe do Centro de Valorização da Vida (CVV) e do coral do Caps (Centro de Atenção Psicossocial – Álcool e Drogas).
Sobre os dados referentes ao Brasil, Cintia destaca que são registrados cerca de 12 mil suicídios todos os anos. “Cerca de 96,8% dos casos estavam relacionados a transtornos mentais. Em primeiro lugar, está a depressão, seguida do transtorno bipolar e do abuso de substâncias”, pontuou.
De acordo com dados da OMS (Organização Mundial de Saúde), a cada 40 segundos, uma pessoa comete suicídio no mundo. “Ele está entre as três principais causas de morte em indivíduos com idade entre 15 e 29 anos, 79% dos casos ocorrem em países de baixa e média renda e as mulheres tentam mais suicídio que os homens”, frisou.
Sobre Tatuí, segundo as informações fornecidas pela Vigilância Epidemiológica e pela Polícia Civil, no período de outubro de 2021 até o momento (meados de setembro), foram registrados 23 casos efetivos e 67 tentativas de suicídio.
Sobre a pandemia de Covid-19, a coordenadora afirmou que, com as mudanças ocasionadas pela doença, como o distanciamento social, do trabalho, fechamento de escolas, perda de contato com familiares e amigos, muitas pessoas passaram a sentir medo, ansiedade e tristeza.
“Observamos que, neste período, os casos de ansiedade e depressão aumentaram em 25% no mundo. Vemos os reflexos até hoje, e é necessário muito trabalho de diversas áreas, como da saúde e educação, para que essa situação diminua”, mencionou Cintia.
Sobre a prevenção, a coordenadora argumentou que este fator requer esforço colaborativo da família, amigos, colegas de trabalho, membros da sociedade civil, educadores e líderes religiosos. Ainda, destacou a importância dos profissionais da saúde, ao promoverem “estratégias integrativas que englobem o trabalho no nível individual, de sistemas e da comunidade”.
“O apoio profissional pode ser muito importante para superar uma fase difícil ou receber o diagnóstico correto para um tratamento efetivo. Por mais complicada que seja a situação, há sempre uma saída”, acrescentou Cintia.
Para ela, o papel de psicólogos e psiquiatras pode ajudar. “O psicólogo poderá auxiliar você a lidar com as angústias e desenvolver ferramentas para superá-las, enquanto o psiquiatra pode indicar o tratamento medicamentoso para combater os sintomas depressivos”, explanou a coordenadora.
Cíntia alertou para sinais que podem ser identificados, mesmo sendo difíceis de se observar, em algumas situações, como mudanças bruscas de comportamento, abandono de atividades profissionais e de lazer, doação de coisas às quais havia apego e alternâncias repentinas de humor.
“São sinais importantes, e, muitas vezes, quem convive com a pessoa não percebe. Portanto, não há culpados ou responsáveis por não terem tido essa percepção”, complementou.
A coordenadora recomendou que, caso se perceba que uma pessoa está sob o risco de cometer algo relativo ao suicídio, se converse com ela e faça com que perceba que pode “contar com alguém”.
“Nesse momento, é fundamental que não faça julgamentos. Lembre-se sempre de que é impossível sentir a dor do outro, e o que pode ser banal para você pode não ser para aquela pessoa”, expôs.
Para Cintia, é necessário ser paciente e ter parcimônia ao abordar uma pessoa com risco de suicídio para conversar e demonstrar que “tem tempo disponível para ouvir tudo que ela pessoa tenha a dizer”.
“Incentivar ela a procurar ajuda profissional é fundamental. E, caso tenha uma boa relação de confiança, se ofereça para ir com ela a uma consulta. Ofereça suporte emocional”, salientou.
“Caso perceba que o perigo de suicídio é iminente, não deixe a pessoa sozinha e tente entrar em contato com o serviço de saúde especializado e com pessoas de confiança dela”, recomendou Cintia.
“Quem estiver passando por momentos difíceis e de crise, não se sinta sozinho, busque ajuda. Mesmo com os desafios da vida, viver é a melhor escolha! Cuidar da sua saúde mental é tão importante quanto cuidar da sua saúde física”, concluiu a coordenadora.
Em Tatuí, pode-se procurar atendimento no Caps-AD (Centro de Atenção Psicossocial – Álcool e Drogas), à rua Benedito Pereira Machado, 450, vila Paulina, através do telefone (15) 3251-4370, e no Caps-II, situado na avenida Zilah de Aquino, 1310, bairro Valinho, pelo telefone (15) 3205-1135;
Se preferir, pode entrar em contato com os psicólogos da unidade de saúde mais próxima. Em caso de emergência, na unidade de pronto atendimento de Tatuí (UPA), que funciona 24 horas, situada na rua Quim Quevedo, 56, Jardim Junqueira. O telefone é o (15) 3305-1032.
Além disso, existem os atendimentos por meio do Centro de Valorização da Vida (CVV), pelo telefone 188 ou pelo chat, no site www.cvv.org.br.