Tatuí­ se torna ‘polo distribuidor’ de trigo

 

Nos últimos anos, Tatuí se tornou um dos principais polos distribuidores de trigo do Estado de São Paulo. O responsável por isso é a Ceagesp (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo). A unidade local processa, anualmente, mais de 200 mil toneladas do grão em suas instalações.

A proximidade com a capital paulista, com centros produtores da região sul do Estado de São Paulo e com o norte do Paraná faz com que os armazéns locais sejam tidos como referências para moinhos instalados na região e até na própria cidade de São Paulo, segundo o gerente do armazém local, Roberto Nakashima.

“Nós acabamos centralizando as operações de trigo na região, apesar de pouco produzirmos essa cultura por aqui. Os próprios moinhos de São Paulo, quando compram trigo, têm os preços da capital e os de Tatuí”, afirmou o gerente.

No Estado, o cereal tem maior presença nas regiões do Vale do Paranapanema. Produtores de cidades como Itararé, Itaberá e Campina do Monte Alegre escoam as produções da gramínea para o entreposto local. Os carregamentos vêm de caminhão para Tatuí. Por ano, são cerca de 6.300 veículos de carga que carregam e descarregam o cereal na Ceagesp.

“Antigamente, tínhamos uma operação mais forte, com vagões (de trem), que praticamente não existe no Brasil mais. Hoje, a grande parte da movimentação é por meio de caminhões”, explicou.

A capacidade estática do armazém local é de cem mil toneladas de grãos. Cerca de 80% do volume são guardados em dois graneleiros e o restante, em um silo horizontal.

Além de trigo, os depósitos guardam soja e milho, porém, em menor medida. Somados, os dois cereais totalizam movimentação de 15 mil toneladas anuais.

A unidade local é especializada na armazenagem de cereais. Na chegada, os grãos são avaliados. Teores de umidade e impurezas são checados momentos antes do transbordo. Dependendo da situação do produto, ele é remetido a um local de armazenamento diferente e passa por processos como limpeza e secagem.

O controle de pragas é realizado pelo expurgo. Os cereais são submetidos a um tratamento com gás fosfina, que serve para erradicar até ovos de insetos. O método faz com que os produtos mantenham a qualidade por mais tempo.

“O trigo pode ter muitas pragas. Então, é necessário esse tipo de tratamento. Nós fazemos o controle logo na entrada do produto, para evitar a contaminação nos nossos depósitos”, explicou.

Os grãos são transportados aos depósitos por meio de esteiras e elevadores de canecas. A unidade local da Ceagesp tem mais de 600 metros de esteiras que passam por túneis acima e abaixo dos graneleiros e silos.

A temperatura dos depósitos é monitorada constantemente. Quando um foco de calor é encontrado dentro do depósito, sopradores instalados embaixo dos silos são ativados.

“Quando a temperatura sobe, a gente sabe que pode ter algum tipo de impureza no local ou, então, algum foco de inseto dentro do silo. Caso seja o segundo caso, temos que esvaziar o local e realizar o expurgo. Mas, isso nunca ocorreu com a gente aqui”, declarou.

Segundo Nakashima, a confiabilidade do armazém público faz com que grandes empresas – entre elas, uma multinacional – usem os serviços de depósito de trigo de Tatuí. A parceria entre a Bunge Alimentos e a Ceagesp iniciou-se quando o moinho ainda era da filial brasileira da Cargill.

Além da multinacional holandesa, valem-se dos serviços locais a Moinho Anaconda e a Correcta Alimentos, ambas instaladas na capital paulista.

“Os nossos silos sempre estão cheios. No caso dos moinhos, eles armazenam aqui e vão retirando à medida que vão usando, até chegar uma nova safra. Tanto quem produz quanto quem compra manda o trigo para Tatuí”, afirmou.

Além de oferecer os serviços de armazenagem, a Ceagesp acaba dando orientações aos produtores rurais da região. O incentivo começou com a Câmara Setorial do Trigo, um fórum criado pelo Ministério da Agricultura que agrupa toda a cadeia produtiva da gramínea, desde o produtor rural até os maiores consumidores de farinha do país.

O trabalho da Câmara Setorial tem surtido efeitos, segundo Nakashima. Há cinco anos, 80% do trigo armazenado em Tatuí eram de origem paranaense.

Atualmente, o trigo paulista ocupa quase 50% dos silos e graneleiros, mostrando que a qualidade do produto local aumentou e ganhou a confiança dos moinhos.

“Conseguimos alavancar a cultura do trigo paulista, mas ainda tem um pouco mais do trigo paranaense ocupando os nossos estoques. O produto do Estado vizinho ainda ganha em qualidade, pois o clima lá é mais frio do que aqui”, explicou.

A qualidade do trigo é avaliada, entre outros fatores, pela brancura. A clareza do produto é determinada pela temperatura. A gramínea é uma cultura de inverno e tem melhor qualidade da produção com temperaturas abaixo de 25° C, durante todo o ciclo de crescimento.

Por conta da temperatura, a brancura do trigo paulista é menos intensa que a do paranaense. Para produzir farinhas mais claras, os moinhos misturam o produto local ao do Estado vizinho.

“Os ventos frios do sul do Paraná fazem com que a composição química do grão do trigo mude e ele fique mais branco. O consumidor prefere abrir o pãozinho e ver que, dentro dele, está totalmente branco. Caso contrário, tende a refugar o produto”, argumentou.

O crescimento do mercado paulista de trigo deu-se pela redução do número de cultivares plantados no Estado. Antes, eram mais de 50 tipos; atualmente, não passam de cinco. O número restrito de variedades facilita a escolha de produtos pelos moinhos e dinamiza o mercado, conforme o gerente.

“Os moinhos passaram a informar os produtores sobre as opções de cultivares que eles compram. As produtoras de sementes também estão afunilando. Antes, o mercado produtor estava mais preocupado com a quantidade e hoje está mais atento ao que os clientes querem e ao que os consumidores finais preferem”, apontou.

De acordo com Nakashima, o gerenciamento dos estoques da Ceagesp facilita o negócio entre produtores e moinhos. Quando a produção é estocada pelo próprio agricultor, a venda é mais demorada.

Isso acontece porque as indústrias pedem cargas de amostragens para determinar a qualidade do trigo e, depois, fecharem negócio. Como o produto estocado no armazém público já passou por classificação logo na chegada, a única discussão é em torno do preço.

“Quando o trigo está aqui dentro, os compradores dos moinhos simplesmente perguntam como está o produto e mandam carregar. Isso impacta no custo de frete, que é menor e tem o benefício comercial para os dois lados. Isso mostra a confiabilidade da Ceagesp”, concluiu.