Tatuí­ pode ser ‘Capital do Mountain Bike’





Cidade Ternura, Capital da Música, dos Doces Caseiros e, se depender dos ciclistas locais, a cidade ganhará, em breve, um novo título: “Capital do Mountain Bike”.

A prática do ciclismo sofreu significativo aumento no município neste ano. Desde janeiro, cinco novos grupos, reunindo em média cem ciclistas cada, foram organizados oficialmente. Somados aos que já atuavam na cidade, a modalidade esportiva vive uma “febre” e mobiliza, diariamente, cerca de 700 pessoas.

Na prática, os “pedais” – gíria utilizada por eles para denominar os passeios – ocorrem diariamente em diversos pontos. O mais tradicional dos grupos locais, os “Irmãos de Trilha”, foi fundado há quase três anos e conta com 407 ciclistas cadastrados, de Tatuí, Sorocaba, Boituva e Tietê, com idades que variam dos 5 aos 82 anos.

O grupo, que acaba de ser oficializado como associação (a Acit, Associação de Ciclismo Irmãos de Trilha), começou com seis amigos que se reuniam nos finais de semana.

Aos poucos, novos integrantes aderiram ao grupo, uniformes foram criados, regras estabelecidas e, hoje, os “Irmãos de Trilha” funciona como empresa, contando com missão, visão e valores próprios, principalmente a partir de iniciativa de um dos fundadores, Luciano Perdigão.

“Temos grupos masculinos, femininos, de crianças e idosos. Temos a nossa filosofia de vida, e acreditamos na prática esportiva como elo de socialização, transformação pessoal e social. Tanto que, mensalmente, realizamos ações sociais para arrecadação de alimentos que são doados a entidades ou famílias necessitadas, ou doação de sangue, por exemplo”, conta o vice-presidente, Edson de Souza.

Considerando o contato criado nos pedais como uma irmandade, o grupo se considera democrático. “Não há nenhuma distinção. Queremos incentivar as pessoas a participarem de nossos pedais, tornando-as adeptas do ciclismo, com o objetivo de diminuir o fluxo de veículos na cidade, favorecendo a qualidade de vida”, cita-se no regimento do grupo, que chega, inclusive, a contar com seus próprios “dez mandamentos” – voltados ao bom-senso e respeito ao próximo, principalmente.

A partir da iniciativa do grupo, trilhas passaram a ser mapeadas na cidade. Informalmente, são 23 catalogadas. A mais tradicional e favorita delas, batizada de “Invernadinha”, tem cerca de 25 quilômetros, a média dos “pedais” realizados pelos grupos, que chegam a reunir cem ciclistas em cada passeio.

“Essas 23 trilhas vão de 20 a 167 quilômetros, todas dentro da cidade ou em divisas com outros municípios, como Laranjal Paulista e Alambari. Em todas, buscamos pontos de apoio e, claro, cenários como cachoeiras e mirantes”, diz Souza, o maior entusiasta do possível novo título da cidade.

“Tatuí vai ser a ‘Capital do Mountain Bike’, com toda certeza. Vemos, a cada dia, mais e mais pessoas saindo do comodismo, praticando esportes e se reunindo”, diz ele.

Para participar do grupo, destaca Souza, há algumas regras a serem seguidas. Além de ter uma bicicleta, é preciso investir em capacete, luvas, garrafa d´água, lanterna e luzes traseiras.

A mesma mobilização do “Irmãos de Trilha” é repetida em outros grupos formalmente organizados na cidade, caso do “Pedal Livre” e do “Só Pedal”, por exemplo.

“Comecei a praticar esportes no início deste ano, quando ganhei uma bicicleta de presente de aniversário de meu marido. Desde abril, quando fundamos o ‘Pedal Livre’, até hoje, são 98 integrantes cadastrados”, conta Carina Leme de Campos Smanioto.

“Temos como lema ‘democracia e lazer’, e funcionamos como uma empresa, contando com sete administradores e realizando pedais de segunda a domingo”, diz ela.

O grupo organiza passeios temáticos, como o “Pedal com Café”, que inclui, em trilha de cerca de 45 quilômetros, uma parada no bairro Santuário, onde uma equipe organiza um café colonial aos ciclistas, a valor simbólico.

“Às sextas, fazemos o ‘Pedal Bar’, cuja parada ao final é num bar da cidade. Todas as ações visam a qualidade de vida e amizade. E o grupo cresce assim como a modalidade esportiva. Hoje, ciclismo é uma febre”, destaca ela.

Outro grupo também formalmente organizado na cidade é o “Só Pedal”, sob coordenação de Lineu Silva. Fundado em fevereiro, ele organiza trilhas para iniciantes e ciclistas de nível avançado.

São 98 ciclistas organizados, que trafegam atentos às leis de trânsito. “Comecei a praticar esportes para melhorar minha saúde, em novembro do ano passado. Em fevereiro, fundamos o grupo, pois pedalar com amigos é muito melhor que pedalar sozinho”, diz Silva.

“Hoje, minha saúde melhorou muito, trabalho com mais disposição e ainda passeio com os amigos”, diz ele, que já registrou 450 quilômetros numa semana.
A modalidade esportiva é tão apaixonante que chega a mobilizar famílias inteiras. Caso de Rodrigo Camargo, que trocou o skate pela bicicleta e, atualmente, realiza os “pedais” ao lado da esposa e da filha. “O ciclismo é democrático, aglutina todo mundo, independente da condição física, social ou econômica”, afirma ele.

A organização dos grupos locais perpassa por cuidados de segurança e atenção no trânsito. Além disso, os administradores dos grupos preocupam-se em oferecer informação “de qualidade”.

Tanto que o grupo “Bike Bode” organizou, na quarta-feira, 14, palestra sobre primeiros-socorros, exclusiva a ciclistas. A palestra foi realizada no Corpo de Bombeiros de Tatuí


‘Regras respeitadas’

Os praticantes de ciclismo devem estar atentos às regras de trânsito e segurança. O alerta é do consultor de trânsito Francisco Fernandes, Quincas. Para ele, integrar um grupo já organizado é a melhor iniciativa de quem deseja iniciar na prática esportiva.

“A ação dos grupos de ciclismo é louvável. Os líderes são pessoas conscientizadas das normas de trânsito e sabem como trafegar em segurança”, diz ele.

“As normas de trânsito valem para os ciclistas. Eles devem estar conscientes de que trafegam com um veículo e interferem no ir e vir das pessoas. Por isso, é indicado que quem deseja iniciar procure um dos vários grupos organizados na cidade, pois estes estão conscientes e permitem maior segurança”, destaca.

Entre os cuidados necessários, além das indicações básicas de não trafegar na contramão, por exemplo, Quincas indica o uso de indumentária adequada, principalmente no período da noite.

“É importante ter luzes de segurança, roupa adequada e capacete, pelo menos. O ciclista que pedala à noite precisa ser visto pelos motoristas, sobretudo em pontos de grande movimento”.

O consultor também indica evitar, quando possível, a área central nos horários de pico, entre 6h45 e 7h30, das 11h até as 12h30 e das 17h até as 18h30.


Conselho e projeto

O mapeamento de trilhas de mountain bike na cidade está sendo organizado formalmente a partir da iniciativa de ciclistas e por meio de ação do Comtur (Conselho Municipal de Turismo).

No dia 6, o projeto de sinalização foi formalmente apresentado na reunião do grupo e aprovado diante do prefeito José Manoel Correa Coelho, Manu, ele próprio adepto do ciclismo.

O material deverá ser entregue ao Departamento Municipal de Cultura e Turismo e, a partir dele, sinalizações deverão ser implantadas pela administração municipal.
“Vislumbramos o cicloturismo com a oficialização das trilhas, sinalização e divulgação dos trechos, todas indicando o nível de dificuldade, quilometragem e pontos de apoio oficiais – o que, na prática, já existe”.

“Acreditamos que podemos movimentar o turismo dentro das trilhas e incentivar o comércio nesses pontos. Havendo bons serviços, essas trilhas se tornarão ainda mais conhecidas e podemos, num outro momento, também envolver outras cidades da região”, iniciou Wagner Graz-ziano, presidente do Comtur.

“Numa primeira, realizaríamos o Passeio Ciclístico das Estações, no qual, no primeiro domingo de cada estação, incentivaríamos a prática de cinco a seis quilômetros”.

“A longo prazo, teríamos infraestrutura ciclística e turística preparadas para receber ainda mais praticantes do esporte, organizando outros passeios temáticos”, diz ele.

A próxima etapa do projeto será um levantamento oficial do número de ciclistas no município. “Temos pelo menos sete grupos oficiais e, por meio deles, rotas já mapeadas”, diz ele.

Sobre adicionar mais um título à cidade de Tatuí, Grazziano é categórico: “Se quisermos, seremos. Basta querer”, destaca.