Raul Vallerine
As ações emergenciais no sul, são importantes para socorrer quem perdeu tudo, infelizmente, ninguém é capaz de reconstruir uma vida com o valor do auxílio emergencial, e nem repor as inúmeras e imensuráveis perdas.
O Rio Grande do Sul vive uma tragédia histórica, enfrentando os efeitos de chuvas intensas e eventos climáticos que causaram uma enchente sem precedentes.
Todos assistimos pelos meios de comunicação a devastação que as águas têm feito às cidades, ceifando vidas, ferindo e desabrigando milhares, desaparecendo com tantos outros, destruindo e submergindo o que encontra pelo caminho.
Esses números impressionantes e as imagens que mais parecem de desastres provocados por furacões ou tsunamis podem gerar uma falsa ideia de raridade, de azar.
Choveu como nunca, não tinha como estar preparado para isso” é a frase mais usada para justificar calamidades como esta. Mas não é acaso. Já era sabido, já era esperado.
Uma especialista diz: Eu sinto muito dizer isso, vai acontecer de novo. E de novo.
E não só com os gaúchos. A ciência alerta há muito tempo que o aumento da ocorrência de eventos extremos é uma das principais consequências das mudanças climáticas.
A população está ilhada, muitos sem luz e água, sobrevivendo da boa vontade de voluntários incansáveis, com seus barcos a salvar pessoas e animais. A chuva não está dando trégua e a previsão meteorológica é de ainda mais.
Mesmo após a estiagem, haverá necessidade de dias para as águas baixarem e as pessoas poderem voltar para suas casas ou para o que restou delas, e iniciar o processo de reconstrução.
O cenário devastador atinge todos os setores, causando estragos por todo o estado. O rastro de destruição é impressionante e a infraestrutura de transporte foi severamente danificada, dificultando o abastecimento de alimentos e outros produtos vitais para as localidades mais atingidas neste momento.
A quantidade surreal de gás carbônico que se acumula na atmosfera por causa das atividades humanas, e aquece o planeta, altera todo o funcionamento do sistema climático. A Terra estar mais quente significa mais energia na equação. Calor é sinônimo de tragédia.
O “efeito surpresa” não pode ser mais desculpa para a falta de políticas públicas que se antecipem aos eventos climáticos extremos, cada vez mais intensos e, segundo a ciência, com a previsão de acontecerem com mais frequência.
As fortes chuvas que resultaram em dezenas de mortes e milhares de desabrigados e desalojados nesses últimos dias no Rio Grande do Sul são resultado da falta de políticas efetivas de prevenção, adaptação às mudanças climáticas e resposta aos eventos extremos.
Não estamos lidando com um fato novo ou inesperado. O sul do país tem sofrido com os efeitos das passagens de ciclones na região por décadas e nada de concreto tem sido feito.
O Rio Grande do Sul, pela sua localização geográfica, é particularmente sensível aos fenômenos naturais El Niño e La Niña. Daí que é relativamente comum a alternância de secas e chuvas intensas por lá.
Mas o aquecimento global vem piorando isso. Assim como o desmatamento. E, por mais que muito dessa nova realidade se traduza em situações que parecem nos pegar de surpresa, os cientistas já estimavam que seria assim.
As tragédias consecutivas que se acumulam desde o ano passado não se deram por falta de aviso. Reconhecemos que essa catástrofe é reflexo das mudanças climáticas exacerbadas por práticas insustentáveis.
O constante desmatamento, poluição das águas e do ar, são claros sintomas da ação humana que, infelizmente, se intensificam no Brasil e no mundo, deixando as populações mais vulneráveis como as principais vítimas.
Somente através de ações conjuntas e coordenadas poderemos, enquanto nação, prevenir e atenuar futuros desastres, garantindo a segurança e o bem-estar do povo gaúcho e de todos os brasileiros e brasileiras.