Situação epidemiológica do sarampo no Brasil

O sarampo é uma doença infecciosa exantemática aguda, transmissível e extremamente contagiosa, podendo evoluir, com complicações e óbitos, particularmente em crianças desnutridas e menores de um ano de idade.

Nos últimos anos, casos de sarampo têm sido reportados em várias partes do mundo e, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), os países dos continentes europeu e africano registraram o maior número de casos.

Em 2016, o Brasil recebeu o certificado de eliminação da circulação do vírus do sarampo pela OMS, e a região das Américas foi declarada livre do sarampo. Antes da certificação, os últimos casos de sarampo no Brasil foram registrados no ano de 2015, em surtos ocorridos nos estados do Ceará (211 casos), São Paulo (2) e Roraima (1), associados ao surto do Ceará.

Em 2018, o Brasil enfrentou a reintrodução do vírus do sarampo, com a ocorrência de surtos em 11 estados, um total de 10.326 casos confirmados, assim distribuídos: Amazonas (9.803), Roraima (361), Pará (79), Rio Grande do Sul (46), Rio de Janeiro (20), Sergipe (4), Pernambuco (4), São Paulo (3), Bahia (3), Rondônia (2) e Distrito Federal (1).

Oito Estados (Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, São Paulo, Rondônia, Pernambuco, Sergipe, Bahia e Distrito Federal) encerraram o surto em 2018 e, de janeiro a março de 2019, apenas dois estados apresentaram casos confirmados da doença: Amazonas (5) e Pará (23). Agora, o Brasil corre o risco de perder esse certificado, pelo aumento dos casos confirmados.

Em relação à caracterização viral, foi identificado o genótipo D8, idêntico ao que está circulando na Venezuela, em todos os estados, com casos confirmados de sarampo, com exceção de dois casos: um do Rio Grande do Sul, que viajou para a Europa e importou o genótipo B3, e outro caso de São Paulo, com genótipo D8, com história de viagem ao Líbano, sem qualquer relação com os surtos da Venezuela e Brasil.

De acordo com a curva epidêmica dos casos confirmados de sarampo do Brasil, por Semana Epidemiológica (SE) da data de início do exantema, podemos observar um aumento no número de casos a partir do mês de junho, uma maior concentração nos meses de julho e agosto e o início da redução a partir do mês de setembro.

No dia 6 de março de 2019, foi confirmado, por critério laboratorial, pela Secretaria Estadual de Saúde do Pará (SES/PA), casos de sarampo em três crianças, menores de dez anos, que apresentaram exantema após o dia 19 de fevereiro de 2019.

Considerando que o surto no estado do Pará está relacionado com o surto de Roraima e Amazonas (iniciados em fevereiro de 2018), o Brasil passa a manter a transmissão do vírus do sarampo por um período maior que 12 meses, o que poderá resultar na perda da certificação para o país e para toda a região das Américas.

Surto em navio

No dia 15 de fevereiro de 2019, o Ministério da Saúde foi notificado sobre a ocorrência de sete casos suspeitos de rubéola em tripulantes de um navio de cruzeiro que estava na costa brasileira desde 2018.

A suspeita de rubéola foi descartada e os casos confirmados para sarampo. Até o dia 8 de março de 2019, foram notificados 34 casos suspeitos de sarampo, dos quais 20 foram confirmados, todos por critério laboratorial.

Com relação à caracterização viral, o genótipo identificado nos casos do surto de sarampo do navio Sea View foi o D8, que apresentou diferenças genômicas em relação ao vírus D8, identificados nos surtos do Brasil em 2018.

Assim, as amostras desse surto não estão associadas ao vírus circulante nos surtos do Amazonas, Roraima e Pará, e nem aos casos esporádicos D8 que ocorreram no país em 2018.

Imunização

As ações de vacinação têm sido intensificadas nos locais de ocorrência dos casos para interromper a cadeia de transmissão do sarampo desde a identificação dos casos da doença.

No entanto, na rotina de vacinação, nos estados nos quais o surto está em atividade, a cobertura vacinal da primeira e segunda doses (D1 e D2) de tríplice viral está abaixo da meta de 95%.

As baixas coberturas no sistema de informação podem estar relacionadas ao não registro ou atraso no registro dos boletins no SIPNI de doses aplicadas, a erros de digitação dos boletins de doses aplicadas, não transmissão dos dados registrados para a base de dados nacional, não processamento pelo Datasus dos dados transmitidos, por incompatibilidade de versões do SIPNI e, ainda, ao processo de movimentação populacional entre municípios.

Portanto, alertamos os pais que levem a caderneta de vacinação de seus filhos para o seu pediatra orientar se deve tomar a vacina tríplice viral (sarampo+caxumba+rubéola) ou a tetra viral (sarampo+caxumba+rubéola+varicela). Essas vacinas (importadas) estão disponíveis também nas clínicas particulares de vacinação.

Fonte: informe boletim nº 37 – 19/03/19 – Secretaria de Vigilância em Saúde

* Médico pediatra especialista em pediatria pela AMB (Associação Médica Brasileira) e Sociedade Brasileira de Pediatria e membro da SBim (Sociedade Brasileira de Imunizações) e diretor clínico da Alergoclin Cevac – Centro de Vacinação Humana.