Propriedades da zona rural da cidade, localizadas em vias sem nome e que não possuem numeração, estão prestes a ganhar uma referência. A Guarda Civil Municipal anunciou a primeira fase da criação do chamado “CEP rural”.
Trata-se de um modelo semelhante ao dos Correios, que utiliza o código de endereçamento postal para orientar a distribuição de objetos. O modelo proposto pela corporação municipal não tem a finalidade de permitir despacho de correspondências. Ele visa facilitar o atendimento de viaturas na zona rural.
O projeto foi iniciado em janeiro deste ano, com o propósito de aumentar a segurança dos donos de sítios, chácaras e fazendas localizadas em áreas distantes do centro. Ele também permite que os guardas deslocados para prestar atendimento ou a realização de patrulha de rotina reduzam o tempo de resposta.
O diretor municipal da Segurança, Francisco Carlos Severino, explicou que o comando da corporação teve a ideia de desenvolver o sistema dado o tamanho da área a ser coberta pelo policiamento. Apesar de a corporação já disponibilizar uma equipe especializada para os bairros, a chamada “Patrulha Rural”, que está acostumada a percorrer as regiões específicas, ele destacou que alguns dos guardas podem ter dificuldades em se localizar nas áreas.
“Temos uma malha rural extensa e que é coberta por visitas periódicas com viatura específica, mas a intenção é permitir que todos os guardas, mesmo os que não conhecem os trajetos, possam atender ocorrências nos locais”, argumentou.
A equipe da Patrulha Rural visita as propriedades em um Fiat Palio Weekend, modelo Adventure. A viatura é considerada apropriada para percorrer os terrenos por ser “um pouco mais alta”. “É uma viatura preparada para os desafios. No entanto, ela é ocupada por uma equipe específica”, contou.
Severino informou que os guardas que compõem o efetivo rural já conhecem os caminhos das propriedades. Entretanto, o mesmo pode não ocorrer com quem não vai costumeiramente aos bairros mais distantes. Por este motivo, o diretor informou que a GCM precisava de um mecanismo diferenciado.
“Até para darmos um suporte em uma ocasião eventual, um apoio ou algo neste sentido. Tendo em vista que já tínhamos esta vontade, e existe um projeto piloto em Assis, que é o GPS rural, nós iniciamos o nosso trabalho”, descreveu.
A partir da ideia de Assis, chamada de GPS Rural e viabilizada pelo Conseg (Conselho Comunitário de Segurança) Rural daquele município, os guardas locais começaram a desenvolver um sistema próprio. “Nossa equipe está adaptando o conceito deles para a realidade de Tatuí”, comentou.
Em desenvolvimento desde o começo do ano, o projeto da GCM é feito inteiramente pelo “corpo de TI (técnicos em informática)”. São profissionais do quadro efetivo da corporação municipal.
O grupo é composto por quatro GCMs que se revezam na tarefa de desenvolver o projeto, testá-lo e buscar soluções para eventuais questões a serem resolvidas.
A equipe conta, ainda, com um GCM com formação em engenharia do meio ambiente. Joaquim Carlos Diniz acompanha o desenvolvimento do sistema e atua no mapeamento da zona rural desde o início do ano. “Hoje, praticamente, a zona rural inteira já está mapeada e dividida em setores”, contou.
O mapeamento é realizado por meio de ferramentas totalmente gratuitas e, portanto, a custo zero para o município. A base de dados são imagens disponibilizadas pela Google, que não apresentam dificuldades de atualização.
Conforme Diniz, os mapas são montados a partir do recurso “Google Earth”. “Tenho acesso ao pacote profissional que já está atualizado e oferece mais ferramentas”, disse.
A maioria das imagens que compõem o primeiro software do sistema da GCM é de 2016. O GCM informou, no entanto, que algumas delas já estão atualizadas. Ele citou, ainda, que as imagens possibilitam uma “boa aproximação”.
O programa desenvolvido pelos guardas ainda não tem nome, mas mescla dados do sistema Mapeia São Paulo, uma iniciativa do governo do Estado. Ele consiste na disponibilização de dados de base cartográfica oficial, de forma a apoiar os processos de gestão do território paulista.
Segundo o GCM, algumas das referências geográficas foram obtidas pelo Mapeia. As demais, como o mapa via internet, é obtido via sistema de mapas da Google. O conjunto dos recursos permite que a Guarda consiga traçar uma rota e, com base nela, denominar as propriedades para facilitar a localização.
“Em cima dessas propriedades, nós criamos os marcadores, e, para cada marcador, é possível atribuir uma identificação por georreferenciamento”, explicou o GCM.
A Guarda já faz uso dos recursos, uma vez que as viaturas da corporação possuem GPS. O objetivo é permitir que, durante o despacho das ocorrências, os guardas recebam nas próprias viaturas as coordenadas dos locais a percorrer. O mesmo pode acontecer quando o caso for de patrulhamento de rotina.
Para que a integração funcione “100%”, o diretor municipal da Segurança informou que será necessária nova demarcação das propriedades. No momento, os guardas conseguem traçar rotas mais curtas e seguras para visitar a zona rural. Entretanto, não há um registro no sistema sobre os proprietários.
Este segundo momento depende da criação de um catálogo no qual a equipe deve inserir dados atuais dos imóveis. No total, 92 propriedades estão pontuadas no sistema. Todas elas terão as coordenadas geográficas confirmadas, medida que deverá ser possível com parceria entre a GCM e os proprietários.
De acordo com o diretor, a corporação quer o apoio das entidades para convencer os proprietários a aderirem ao projeto. Para tanto, o comando da GCM estuda a realização de reuniões com representantes de sindicatos, Secretaria Municipal de Agricultura e Meio Ambiente e Cati (Casa da Agricultura).
“A nossa ideia é que a gente possa trazer esses moradores da zona rural para cadastrá-los e, posteriormente, darmos uma numeração. Então, cada residência vai ter uma espécie de ‘CEP Rural’, com identificação”, esclareceu Severino.
Com isto, cada vez que uma viatura for solicitada, os guardas receberão, além da localização precisa, os dados dos imóveis. A intenção é que a GCM compartilhe as informações com a Polícia Militar, o Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) e o Corpo de Bombeiros.
Mesmo não estando completo (não contendo os dados dos imóveis), o sistema da GCM já está sendo utilizado. No momento, os guardas têm acesso à localização por GPS, tendo possibilidade de traçar as rotas em tempo real.
Além da agilidade, o programa, que está recebendo ajustes, representará ao comando uma nova ferramenta de gerenciamento. Conforme Severino, a GCM poderá utilizar o software para fins de estatística e programação de operações.
“O sistema já está em fase de testes e surtindo resultados. Por meio deste programa, nós conseguimos direcionar o trabalho preventivo da GCM, onde detectamos que há um aumento do ilícito de roubos e furtos”, ressaltou.
Por serem mais precisas, o diretor disse que as análises geram ações de mais qualidade. “Estamos conseguindo diminuir o gasto que tínhamos com o deslocamento das viaturas, além de controlar a criminalidade”, complementou.
Também de acordo com ele, o programa permitirá, ainda, novas ações. “Ele é um projeto de longo prazo. Estamos engatinhando, mas acreditamos que este modelo vai trazer um resultado muito significativo com o tempo”, enfatizou.
Uma das possibilidades é que o trabalho de georreferenciamento beneficie os proprietários em outros aspectos. Diniz antecipou que o sistema, depois de concluído, pode ser utilizado pelos donos quando da aquisição de bens ou itens de consumo.
“Como a propriedade vai ser georreferenciada, o dono pode dar o número ou as coordenadas, por meio de aplicativo, para lojas de materiais de construção, por exemplo. Quem trabalha no comércio vai ter dados que permitirão um atendimento efetivo e com a segurança de saber o local da entrega”, concluiu.