Andréa Ladislau*
A construção de relacionamentos sólidos e saudáveis tem sido um grande desafio nos tempos atuais. Isso decorre das novas dinâmicas dos relacionamentos modernos que se configuram por conexões líquidas e frágeis, onde os casais, muitas vezes, se deixam levar pela imaturidade diante dos desafios da relação e recorrem para soluções rápidas, sem fundamentação no diálogo ou no entendimento de suas emoções.
E em meio a esse cenário, após o fim do relacionamento, estão sujeitos a sofrer com a Síndrome do Tarzan.
E o que seria essa síndrome e qual a relação com a saúde mental? Ela é, na verdade, um fenômeno muito comum por se caracterizar pelo momento em que, para curar a dor de uma separação, a pessoa, sem processar o término anterior, ou mesmo sem viver e ressignificar o luto do rompimento, se joga no mundo, querendo sair o tempo todo, conhecer pessoas, viajar, com o objetivo de não pensar na dor, na angústia e no medo da solidão.
Esse tipo de comportamento faz uma alusão ao famoso personagem Tarzan, que se locomove pelos ares, pendurado por cipós. Ou seja, ele nunca solta um cipó sem segurar outro. A prática de iniciar um relacionamento assim que termina outro, pode ser refletida por essa síndrome que atinge, normalmente, pessoas inseguras e dependentes.
Trazendo para o campo comportamental/emocional, ela pode ser explicada pela dificuldade de quem sofre com a Síndrome de Tarzan, em lidar com suas fragilidades e o vazio emocional deixado pelo de seus relacionamentos.
Está sempre envolta em um efeito anestésico que a impede de dar um tempo para si mesma, para refletir sobre as causas que levaram ao fim e qual a sua responsabilidade na separação. Não se permite buscar a cura emocional e vai contribuir para seu autoconhecimento e fortalecer suas emoções para receber uma nova pessoa em sua vida.
A Síndrome de Tarzan traz como consequências a fragilidade no processamento dos términos, uma vez que a pessoa prefere “pular” de relação em relação, repetindo um padrão disfuncional que era um impacto negativo na saúde mental, associando ansiedade, depressão e baixa autoestima.
Tudo isso ocorre porque os sentimentos de angústia e medo contribuem para o sofrimento emocional e a busca por relacionamentos superficiais. Além disso, a necessidade de validação é o que fala mais alto e provoca o ciclo vicioso que alimenta a síndrome e o vazio emocional deixado pela ruptura.
A tendência é repetir erros, arrastar correntes da relação anterior, fazer comparações entre os parceiros e se deixar manipular, pois se a pessoa não está bem consigo, como irá ficar bem com outra pessoa? Como conseguirá enxergar seus limites e colocar regras em uma nova relação, de forma a não se ferir e não se anular diante do outro?
Enfim, para não cair na armadilha da Síndrome de Tarzan, o ideal é compreender a importância da independência emocional que ajudará a refletir sobre os erros e a enfrentar o luto pelo rompimento.
Desta forma, será possível evitar ciclos de relações tóxicas e destrutivas. Encarar o fato de que não se tem necessidade de “pular” de relação em relação, como faz o personagem que dá nome à síndrome, ao saltar entre os cipós.
Para viver relacionamentos saudáveis é preciso se permitir, relacionar-se consigo, compreender suas dores, suas falhas e seus medos, através do autoconhecimento, antes de mergulhar em um novo encontro.
* Psicanalista