Em 2017, a cobertura vacinal no Brasil diminuiu bem, e isso é motivo de grande preocupação, pois podem ressurgir doenças graves já consideradas erradicadas, como, por exemplo, a poliomielite e o sarampo. No último ano, a cobertura vacinal contra a poliomielite, que deveria ser de 95%, ficou em apenas 77%.
Segundo a Drª. Isabella Ballalai, presidente da SbIm – Sociedade Brasileira de Imunizações, há um grande risco de retornar a aparecer casos de pólio, se “deixarmos a porta aberta”, isto é, se não houver uma boa cobertura vacinal em todo o país, ou seja, teremos que chegar o mais próximo do índice ideal de 95%”.
De todas as dez imunizações recomendadas a crianças de até um ano, indicadas no SUS, pelo PNI (Programa Nacional de Imunizações), só atingiu a meta ideal a vacina BCG ID, que protege contra a tuberculose e a meningite tuberculosa, que é feita logo após os primeiros dias de vida, geralmente ainda dentro das maternidades.
A meta anual de cobertura vacinal no Brasil é de 95%, mas, pela primeira vez em 16 anos, esse patamar não foi atingido em 2017. Isso acontecendo, abre-se caminho para que doenças graves e contagiosas, consideradas já erradicadas, retornem ou tenham aumento em incidência, e, consequentemente, o aumento da mortalidade, pois, antes, o sarampo ocupava a terceira principal causa de morte no país, perdendo apenas para a BCP e a Geca.
Outra coisa importante o diagnóstico, como no caso do sarampo, por exemplo, em que médicos formados mais recentemente jamais viram um caso de sarampo como era frequente nos anos 80 e 90. Assim, corre-se o risco de haver “falha” nos procedimentos diagnósticos e nas condutas diante desses casos. O sarampo é uma doença de notificação obrigatória para a Vigilância Epidemiológica, para se providenciar o “bloqueio” para a infecção não se alastrar.
Os casos de coqueluche (“tosse comprida”) também tiveram crescimento de 2016 para 2017, sendo que o registro era de queda da incidência desde o ano de 2010. Outra doença que preocupa é a difteria (“crupe”). Não há casos confirmados no país, porém, já existem relatos da enfermidade em Roraima.
Quanto ao sarampo, que também está retornando ao país, pela invasão de venezuelanos refugiados, no extremo noroeste do país, onde já há vários casos, com tendência a se alastrar. Há 1.879 casos suspeitos do sarampo investigados no país.
A cobertura vacinal contra o sarampo em 2017 foi de 83,9% na primeira dose (tríplice viral – sarampo, caxumba e rubéola), feita com um ano, e de 71,5% na segunda dose (tetra viral – sarampo, caxumba, rubéola e varicela), feita com 15 ou 18 meses.
Em 2017, não foi registrado nenhum caso de sarampo, sendo que, até junho de 2018, já foram registrados 472 casos. O sarampo erradicado no Brasil desde 2016, quando recebeu o certificado da OMS, agora é considerado epidemia novamente. Três crianças morreram de sarampo em Roraima e no Amazonas.
A prevenção para esta temível doença, que é considerada uma das mais contagiosas do mundo, está na vacinação (tríplice viral e tetra viral). Não só as crianças, mas os adultos também devem se vacinar, caso não tenham recebido as duas doses na infância. Se houver dúvida, é melhor vacinar-se novamente.
No dia 26 de julho, representantes das Sociedades Brasileiras de Pediatria (SBP), de Imunizações (SbIm) e Infectologia (SBI), em parceria com o Rotary Internacional e sob o apoio do Programa Nacional de Imunizações do Ministério da Saúde (PNI), assinaram conjuntamente um manifesto que alerta para o risco de reintrodução da poliomielite e do sarampo no Brasil.
Na oportunidade, as entidades conclamam os profissionais de saúde, a sociedade civil organizada e toda a população a participarem da campanha de vacinação, que terá início.
No manifesto, as instituições parceiras alertam que as baixas coberturas vacinais dos últimos anos colocam em risco todo o esforço do PNI, considerado uma grande conquista do Sistema Único de Saúde (SUS).
“Não podemos deixar que falhas na cobertura vacinal tragam de volta doenças graves, como o sarampo e a pólio, que já haviam sido erradicadas no país”, destacou o dr. Clóvis Constantino, presidente da SBP.
“O fato de a doença ter sido erradicada não significa que não seja necessário vacinar. É importante alertar que a erradicação não significa que a doença não exista mais e/ou não possa voltar”, frisou. Dr. Clovis acredita que o incentivo dos pediatras e demais profissionais da saúde é fundamental para estimular os pacientes sobre a importância da cobertura vacinal.
Além da assinatura conjunta do manifesto, o evento contou com palestras de especialistas.
Fonte: jornal O Globo e notícias da Sociedade Brasileira de Pediatria
* Médico com TEP em pediatria pela SBP e AMB e diretor clínico do Cevac – Centro de Vacinação de Tatuí