Cristiano Mota Reportagem especial
A Escola Técnica “Dr. Gualter Nunes”, a Apae (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais) e até o Conservatório Dramático e Musical “Dr. Carlos de Campos”, de certa forma, não existiriam sem a mão de uma das pessoas mais importantes da história recente de Tatuí: o advogado Simeão José Sobral.
É praticamente impossível olhar para a contemporaneidade sem considerar o trabalho de um de seus mais importantes e longevos filhos, ainda que o registro de nascimento não tenha sido efetivado na “Cidade Ternura”.
Nascido em São Paulo, em 29 de novembro de 1916, Simeão escolheu Tatuí – a cidade dos pais – para deixar um legado que fica para a eternidade. Por 105 anos, fez a diferença na vida de muitos tatuianos, transformando a advocacia, elevando o significado do trabalho social e contribuindo com o desenvolvimento de instituições, do esporte, da saúde, da cultura e da educação.
Em vida, Simeão acumulou títulos de “fazer inveja”. Entre eles, o de advogado mais antigo em atividade em Tatuí; o mais longevo rotariano do mundo em atividade, com 74 anos “dando de si, sem pensar em si”; e o mais antigo assinante do jornal O Progresso de Tatuí.
Com o trabalho em diversas áreas, o advogado mudou “para melhor” práticas que envolvem, por exemplo, as campanhas de erradicação da poliomielite e de vacinação antirrábica.
“Seo Simeão”, como era conhecido, nasceu no início do século 20, na Maternidade de São Paulo, na rua Frei Caneca, filho dos tatuianos Jarbas Sobral e Romilda Latorre Sobral.
Viveu entre dois séculos, tornando-se contemporâneo de personalidades brasileiras importantes em gerações distintas. Entre elas, o comediante, cantor, produtor e compositor Sebastião Bernardes de Souza Prata, conhecido como Grande Otelo; e de políticos e juristas, como Gualter Nunes e Alberto Seabra.
O pai foi avaliador judicial e escrivão de polícia; a mãe, professora primária, formada em Itapetininga. O avô paterno, Simeão Augusto Sobral, um imigrante português, era alto funcionário da Companhia de Fiação e Tecelagem São Martinho.
Concebido em Tatuí, Simeão Sobral foi “no ventre da mãe” para a capital. Os pais tinham medo de o filho “não vingar”. “Como o primeiro parto de minha mãe foi difícil e meu irmão Álvaro morreu aos quatro meses, ficou decidido que, por precaução, ela iria ter o segundo parto em São Paulo, com mais recursos”, contou o advogado em entrevista concedida à equipe de IP (Imagem Pública) do Rotary Club de Tatuí.
O material será utilizado em livro, pensado como homenagem ao advogado, e que recontará a história do Rotary Club.
Na capital, a mãe ficou hospedada na casa de parentes. Depois do parto, passado o temor, a família voltou à terra natal. Com um ano e nove dias de vida, Simeão já andava no “Largo do Rosário”, a atual praça Paulo Setúbal, a “Praça do Barão”.
Em Tatuí, cursou o primário no Grupo Escolar “João Florêncio”, tendo como professores Maria Nogueira, Anita Belomine e José de Castro Freire – este último, temido por todos os alunos. Foi colega de Edmundo Galego, Paulo Ribeiro e Luiz Vieira.
Teve outros dois irmãos, ambos tatuianos: José, que morreu de câncer, aos 32 anos, e Herculano (por parte de pai), que era dentista e morreu aos 60 anos, de hepatite C.
Passou a infância e o início da adolescência em Tatuí, tendo como amigos Aldo Orsi, Quinzinho, Gualtinho, Tiquinho, Grilo e Marques. Com eles, nas horas vagas, jogava pinhão (bolinha de gude), pulava sela e roubava frutas das chácaras. “Era ‘moleque de rua’, mas não era só eu, os outros eram também”.
Chegou a nadar no rio Tatuí antes da poluição, contrariando as ordens do pai. “Diziam que lá tinha jacaré”, contou. Para driblar a restrição, Simeão amarrava um barbante no dedão do pé e deixava o fio pendurado na janela para que os amigos o puxassem. Esse era o sinal para que ele fosse ao encontro do grupo sem que os pais soubessem das escapadelas, que sempre os preocupavam.
Residiu na rua José Bonifácio, no trecho onde fica o Itaú (antigo Unibanco). E, na adolescência, para passar o tempo com os amigos, buscava aventuras em prédios como o do antigo teatrão, que ficava na atual Praça de Alimentação.
Em uma das ocasiões, foi flagrado pela avó materna, Jovita Azevedo Latorre, a Vitinha, que desmaiou de susto ao vê-lo no andar superior do imóvel.
“Foi aí que meu pai me empregou na casa de apostas do seu Antunes, pai do Santinho (destacado jogador do XI de Agosto) e do Tirso (jogador do São Martinho)”, lembrou.
Ao ver a situação do menino, um parente da família, o advogado Abel Vilares, que estava de passagem por Tatuí, resolveu intervir. Vilares procurou o padrinho de Simeão, Alfredo de Almeida Rezende, para ajudá-lo.
Rezende era um renomado advogado em São Paulo e homem de recursos. Por intermédio do padrinho, Simeão começou a frequentar um dos mais tradicionais colégios de São Paulo, o Liceu Coração de Jesus, como aluno interno.
“Estudei por seis anos, com muito bom aproveitamento, nesse excelente colégio dos padres salesianos. Os padres eram exigentes e obrigavam os alunos a estudar. Eu não era muito bom aluno em matemática, e quem me inspirou foi o professor Antonio Lellis Villas Boas, pois, com ele, passei a gostar da matéria”, contou.
No Liceu, foi colega do comediante Grande Otelo. “Onde ele estivesse, era só gargalhada”.
Por ser um colégio cristão, o Liceu tinha alguns ritos. Sempre que uma autoridade eclesiástica visitava a unidade de ensino, por exemplo, os padres costumavam ladeá-la, acompanhando-a por onde quer que passasse.
“Uma vez, o Grande Otelo começou a rir, num desses ‘cerimoniais’ e, quando o responsável pelos alunos foi tomar satisfação, ele disse que a batina do bispo estava rasgada. Não era verdade, era 1º de abril”, lembrou Simeão.
Para dar o troco no aluno insubordinado, o padre esperou o dia da leitura da nota de comportamento para dizer que Grande Otelo estava expulso do colégio. “Foi uma choradeira geral. No final, o padre disse que era 1º de abril”, contou.
No Liceu, Simeão repetia o comportamento extrovertido que tinha em Tatuí. Protagonizou episódios que deixaram os professores “de cabelo em pé”, como em uma vez que andou pelo parapeito do primeiro andar. “Saí pela janela e fui andando e rezando para encontrar outra janela aberta. E tinha!”, recordou.
Apesar do espírito aventureiro, Simeão quase tornou-se padre. Católico devoto de Santa Terezinha, ele espelhou-se na fé da mãe. Chegou a coroinha, frequentando e auxiliando missas do padre italiano José Castagno.
Quando terminou os estudos no colégio, ingressou no curso de direito. Antes disso, no entanto, quase virou engenheiro. Entretanto, como a graduação era oferecida em período integral, não conseguiu frequentá-la.
“Apesar de viver na casa de meu padrinho, em São Paulo, não podia me ocupar em tempo integral com os estudos, precisava trabalhar para estudar”, explicou.
Decidiu pelo direito depois de encontrar Wilson José Penteado Minervino, um ex-colega de ginásio. Em 1937, Simeão foi aprovado em curso pré-jurídico, com duração de dois anos e em meio período, conciliando o estudo com o trabalho.
Por meio do padrinho, conseguiu emprego no Albergue Noturno de São Paulo, exercendo a função de escrevente. Ele começou na atividade em 18 de agosto de 1937, ganhando 370 réis mensais.
O salário logo foi reduzido para 200 réis, pois ele trabalhava das 19h às 20h, permanecendo até 28 de fevereiro de 1943. O albergue era dirigido pelo primo, Fernando de Oliveira.
Na sequência, prestou concurso e ingressou no antigo INPS (Instituto Nacional de Previdência Social), sendo aprovado para o cargo de fiscal. Em 1939, fez novo concurso, então para o curso de direito, com duração de cinco anos.
“Fui aprovado na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, também conhecida como Faculdade de Direito do Largo de São Francisco”, contou.
Formou-se na turma de 1943, recebendo o título em 14 de janeiro de 1944. Desde o dia 1º de dezembro de 1944, esteve inscrito na OAB-SP, com o número 4.842.
Em agosto de 1944, Simeão teve pleurisia (uma inflamação dos tecidos que revestem os pulmões e a caixa toráxica), deixando o cargo de fiscal do INPS. Retornou a Tatuí em outubro de 1944, por recomendação médica. O profissional que o atendeu disse a ele que o ar de Tatuí “iria fazer muito bem para os pulmões”.
De volta à cidade, Simeão hospedou-se no Hotel Afonso, vivendo com o auxílio do INPS. Recebia 200 e poucos réis por mês. Na sala de espera do hotel, quando lia a edição de 1925 de “Fórmulas de Escrituras”, uma doação do padrinho, foi interpelado pelo então juiz de direito da comarca de Tatuí, Olavo Ribeiro de Souza.
“Ele percebeu que eu lia magistratura e perguntou se eu trabalhava em cartório. Para surpresa dele, respondi que era advogado. Ficamos amigos, e ele me estimulou a advogar, o que fiz de 1945 a 1997, nas áreas cível, criminal e trabalhista”, revelou.
Já estabelecido, conheceu Rosa Palumbo. Os dois se cruzaram pela primeira vez na Praça da Matriz, onde ocorriam as “cirandas”. Na época, os homens caminhavam circulando num sentido e as mulheres, no outro. “Nesse cruzamento, conheci a Rosa”, disse.
Rosa era tatuiana, professora no “João Florêncio” e filha de Caetano Palumbo e Maria do Rosário Palumbo. O casal namorou até 12 de junho de 1946, quando se casou.
Rosa faleceu por problemas cardíacos em 10 de novembro de 1996. A união durou 50 anos e resultou em dois filhos: Romilda Maria Sobral, que vive em Ribeirão Preto, e Álvaro José Sobral, que mora em Tatuí.
Aqui, Simeão fundou o Clube do Vinho – apesar de preferir cerveja –, e o Clube da Poesia Paulo Setúbal da Asseta (Associação de Ensino de Tatuí). Embora não se considerasse poeta, o advogado escreveu um conto infantil sobre o cachorrinho Fumo. “Um vira-lata, que, sem eu perceber, acompanhou o meu carro do bairro da Enxovia até minha casa, no centro de Tatuí”, revelou.
Simeão manifestou a veia artística durante toda a vida. A filha, Romilda, conta que os sons que mais lembram a infância dela são os do violão e da máquina de escrever. O pai sempre cantou, tocou violão e compôs, principalmente paródias.
“Desde menino, ele sempre gostou de esportes. Era nadador exímio e participou de muitos campeonatos de natação. Curtia muito jogar futebol”, destaca. Também jogou tênis e, embora não tivesse “jeito”, disputava peladas de futebol.
Desportista nato, Simeão torceu para o São Paulo Futebol Clube, em nível estadual, e para o XI de Agosto, no municipal. A relação com o clube tatuiano começou aos 12 anos de idade, incluindo passagens importantes já na vida adulta.
Presidiu a associação atlética por três vezes (em 1951, de 1965 a 1971 e de 1992 a 1994). Na gestão dele, com o auxílio de uma comissão, foi construído o ginásio de esportes “Dr. Simeão José Sobral”, inaugurado em 31 de dezembro de 1970.
Com o ginásio e a piscina, o clube “abriu-se” de vez ao esporte. Na época, o ginásio transformou o XI de Agosto no principal ponto de eventos da cidade. O espaço sediou competições e eventos importantes. Um dos mais icônicos é o tradicional baile Vermelho e Preto.
Em paralelo à advocacia, mas ainda no esporte, Simeão presidiu a Junta Disciplinar Esportiva da Liga Tatuiana de Futebol. Esteve à frente do órgão de 1957 a 1958. Já a partir de 1971 e até 1979, atuou na Faculdade de Educação Física, instalada nas dependências do XI de Agosto, dirigindo a instituição e lecionando a disciplina denominada “problemas brasileiros”.
Na advocacia, representou a Fábrica São Martinho e outras grandes empresas. Também defendeu empresários e fazendeiros, como os herdeiros de Júlio Prestes de Albuquerque, o último presidente brasileiro da República Velha.
Na educação, encabeçou o movimento pela fundação da escola de enfermagem e da Apae. Nesta última, ao lado de Nelson Marcondes do Amaral, responsável pelo anteprojeto do teatro “Procópio Ferreira”, do Conservatório.
Exerceu a vida pública como vereador, sendo suplente na primeira e segunda legislaturas, de 1º de janeiro de 1948 a 31 de dezembro de 1955, e vereador na quarta legislatura (de 1º de janeiro de 1960 a 31 de dezembro de 1963). Pela contribuição ao município, recebeu, da Câmara Municipal, o título de “Cidadão Tatuiano”. A homenagem veio por meio da resolução 17, de 1985.
Uma das contribuições mais citadas veio em 1947, com a criação do Rotary Club de Tatuí. Simeão foi sócio-fundador, tornando-se presidente em três biênios (de 1949 a 1950, de 2000 a 2001 e de 2016 a 2017, quando completou cem anos de vida). No clube, criou o Boletim Informativo, com a finalidade de divulgar os trabalhos desenvolvidos pelo Rotary aos sócios e à sociedade civil.
A história do Rotary Club de Tatuí se funde à de Simeão. A ideia do clube surgiu em 1940 “e qualquer coisa”. Nessa década, embora a sugestão estivesse presente nas discussões, a cidade ainda não reunia condições para sediá-lo. “A sociedade não estava preparada para receber o clube”, contou o fundador.
A semente começou a ser plantada, porém, pelo promotor público Francisco de Camargo Penteado, o Chico Penteado. Em Catanduva, Chico Penteado recebeu do titular do Cartório de Registro o convite para compor o clube.
Na época, o promotor recusou por razões de crença. Ele era católico praticante e pensava que os princípios do clube conflitavam com o catolicismo. Chico Penteado só mudou de ideia depois de consultar um bispo diocesano.
O promotor, então, ingressou no clube de Catanduva. “O padrinho dele era casado com uma tatuiana”, contou Simeão. Ao ser promovido para Tatuí, Chico Penteado resolveu trazer a ideia para cá. “Então, tudo indica que foi a mulher do padrinho dele que influiu na criação do Rotary aqui em Tatuí”, concluiu.
Para introduzir a ideia, Penteado realizou uma quermesse em benefício da Igreja Católica. O evento foi considerado um sucesso, o que motivou o ingresso de companheiros no novo movimento. Entre eles, Mário Azevedo, que era dono de uma fábrica em Sorocaba. O primeiro “time” foi composto por 22 rotarianos.
Contudo, o processo de convencimento demorou. A principal dificuldade – além da financeira – era persuadir personalidades importantes a compreender o que o Rotary fazia. “Muita gente não entendia”, recordou Simeão.
Para explicar o princípio rotário, Penteado reuniu um grupo de amigos no bar Del Fiol. “Tudo que fez parte da história de Tatuí aconteceu lá”, frisou o fundador.
As reuniões tinham entre seis e dez pessoas “das mais graduadas da sociedade”. “Um saía, outro entrava. Alguns não se interessavam, outros se interessavam. Mas o que espantava um pouco era o dinheiro, porque o Rotary era financiado por dólar. E, aqui, o nosso merréizinho era fraco”, explicou Simeão.
Mesmo assim, 22 pessoas “compraram a ideia”. Dos fundadores, Simeão tornou-se o último sobrevivente. O clube foi registrado em 29 de agosto de 1947, estando com 74 anos. Simeão ocupou o cargo de primeiro-secretário no ano de fundação. “Não entendia nada, mas tive sucesso”, brincou.
Com o advogado à frente, o Rotary de Tatuí conseguiu bater o primeiro recorde. Tornou-se o clube com o melhor desempenho entre os do Distrito 118.
No Rotary, Simeão participou de treinamentos em vários estados brasileiros e ensinou o princípio rotário a incontáveis pessoas. “É o tal ideal de servir”, sintetizou.
No clube, trabalhou para transformar não só a vida dos sócios, mas a dos tatuianos. O primeiro serviço que o Rotary prestou para a cidade foi a implantação de uma cerca de proteção aos alunos que estudavam no Jardim da Infância.
“Aliás, esse foi um grande serviço. Os professores tinham um trabalho enorme de segurar a criançada na hora do recreio, porque elas ficavam praticamente na rua. Então, nós podíamos imaginar como era complicado”, relatou Simeão.
Passados alguns anos, o clube voltou o olhar para as crianças carentes. Um dos sócios, Silvio Azevedo (Paulo Silvio Azevedo), fabricou e doou 1.500 brinquedos para crianças da creche escolar.
Ele era inspetor federal de ensino e, nos fundos da residência, na rua Coronel Aureliano de Camargo (onde atualmente está uma das dependências da Unimed), mantinha uma marcenaria.
Por mais de dez anos, Simeão trabalhou por meio do clube na vacinação antirrábica. Ele e a equipe cediam materiais e vacinadores, que se revezavam.
O clube estendeu os trabalhos para a área social, com a colaboração do advogado, para jovens e entidades. Promoveu, por muitos anos, o baile das debutantes.
“O evento era rendoso e o dinheiro arrecadado era cedido para as entidades do município”, contou. Entre as instituições contempladas, esteve a Apae. “Por muitos anos, não digo que sustentamos, mas demos uma garantia de uma certa importância para que as instituições continuassem a atender”, disse Simeão.
O evento chegou a contar com participação de artistas importantes da época, com o ator global Tony Ramos. Simeão tornou-se, por vários anos, padrinho das debutantes.
A ajuda do clube estendeu-se para a área da saúde. Na década de 60, a Santa Casa de Misericórdia enfrentava dificuldades em contratar enfermeiros e profissionais habilitados.
Foi então que uma comissão, formada por Rafael Orsi Filho e Milton Stape, entre outros, resolveu criar uma escola de enfermagem. “Fundaram, mas não tinham onde instalar”, contou Simeão.
A questão foi resolvida por Firmo Antonio Del Fiol, que atuava no Rotary Club “Cidade Ternura”.
De forma similar, o Rotary foi decisivo para a instalação da Apae. A associação foi fundada por Amaral, que chegou a ser “presidente de São Paulo”.
O político, na verdade, presidiu o órgão que tomava conta das finanças do estado, substituindo o prefeito da capital. “Ele tinha um filho excepcional e o Wanderley Bocchi, também. E eles se uniram no Rotary”, relembrou.
Bocchi cedeu o terreno onde foi construída a atual unidade; o Rotary, entrou com recursos para complementar a compra de um barracão que pertencia a Dionísio de Abreu, ex-prefeito de Tatuí.
“Nós resolvemos comprar o barracão, mas a gaita não era suficiente. Então, outro rotariano, chamado Jairo Teles, um lavrador, rico, entrou com a outra metade”, contou o advogado.
Teles teve o dinheiro ressarcido pelo clube. O Rotary ainda contribuiu com a reforma do espaço.
Já estabelecido e reconhecido pelos feitos, Simeão reencontrou a felicidade ao lado de Maria Elizabete Amadei Vieira de Camargo, conhecida como Bete Amadei.
Professora e viúva havia 18 anos, Bete se uniu a Simeão em 2002. A história dos deles, no entanto, é antiga. Começou ainda na infância. Bete conheceu o advogado quando criança. O pai dela tinha um comércio no quarteirão da casa de Simeão.
Já adulta, a professora reencontrou o advogado depois de ter se casado. Na época, ela vivia em Cesário Lange, tendo visto Simeão novamente a pedido do marido.
O esposo queria uma entrevista com o advogado – a quem admirava – para um trabalho sobre política, para a graduação de sociologia que ele cursava.
Quando ficou viúva, aos 40 anos, Bete voltou a Tatuí para morar com os pais, reencontrando Simeão pela terceira vez.
Na cidade, ela começou a frequentar o Baile da Terceira Idade, e, em um dia de eleição da “Miss 3ª Idade”, Simeão, já viúvo, aproximou-se da professora, num primeiro momento, pensando que fosse a mãe dela. A partir daí, começaram a se encontrar para dançar.
Juntos, o casal foi referenciado. É considerado “o mais inovador” do Rotary Club. Estabeleceram, com a parceria, ações que resultaram na “Casa da Amizade”, na instituição de vários prêmios, projetos e na obtenção de reconhecimentos.
A despedida ao advogado aconteceu na sede do Rotary Club, na manhã de quinta-feira, 24, um dia após a confirmação do falecimento. Simeão morreu por volta das 12h de quarta-feira, 23, de causas naturais. Foi enterrado no cemitério Cristo Rei.
Deixou, além do exemplo de vida impecável, uma história que não cabe –
e não deve ficar restrita – a uma página de jornal, do qual ele tanto estimava. Merece, nem que por gratidão, ser eternizada em espaços públicos.