Sozinho em pleno domingo
caminhando pelo imenso corredor
eu espiava pelas portas abertas
figuras humanas ali hospedadas
em suas camas hospitalares…
Todos velhinhos e velhinhas
boquiabertos cochilando cabelos nevados
a maioria sozinhos esquecidos ali
na quietude impenetrável da “Clínica de Repouso”
Todos longe dos lares onde viveram
trabalharam sonharam amaram
e criaram os filhos
E agora muitos ainda lúcidos
se encolhem nos braços da saudade
tentando inutilmente segurar
lágrimas furtivas escorrendo
calmamente no caminho das rugas…
Lá fora o sol os ruídos e os pássaros em algazarra
Aqui dentro a sombra a senectude
o silêncio profundo e o meu espanto