Sem dúvida, foi uma referência em se tratando de atuar no gol. Elegância, sobriedade e, acima de tudo, muito calma, fizeram de Gylmar (y mesmo) um goleiro completo, histórico e querido. É somente observar o espaço que a mídia reservou a ele, com justiça, na informação de sua enfermidade e, depois, falecimento, no final de agosto passado.
Já longe do futebol e ainda ressentido, depois de ter atuado na CBF como uma espécie de conselheiro da seleção nacional, Gylmar, com sua fineza e educação, me contou dois fatos curiosos de sua carreira, isso num encontro em uma determinada agência bancária, na rua Augusta, capital, no final dos anos 1980.
De que ele foi o primeiro goleiro profissional a abolir o uso da joelheira. Em uma excursão da seleção no começo dos anos 1960, aconteceu que o massagista Mário Américo havia esquecido o equipamento no hotel, e, assim mesmo, Gylmar entrou em campo e jogou. Sentiu-se mais livre, disse, e, a partir de então, lançou moda.
Numa outra excursão, agora com o Santos, pela América Latina, em meados dos anos 1960 – muito provavelmente, no dia 15 de janeiro de 1962, uma segunda-feira, quando o Palmeiras venceu o Deportivo Municipal por 2 a 0), o alvinegro e o Palmeiras, coincidentemente, estavam no mesmo hotel em Lima, capital peruana.
Oswaldo Brandão, treinador alviverde, estava num dilema: seu goleiro reserva havia se machucado, e sua saída foi pedir a colaboração de Gylmar para sentar no banco de reservas do Palmeiras, para uma, talvez, emergência.
Acordo feito com a direção santista, lá estava, num jogo noturno, Gylmar, junto aos reservas do alviverde.
São histórias que, talvez, a mídia não saiba ou que ninguém mais divulgou. Somente foi uma curiosidade para a época, mas que aqui ficam, sim, registradas nas bonitas histórias do futebol.
Muitos meninos da minha época gritavam a todo pulmões: “Segura, Gylmar!”, após uma defesa bonita num daqueles jogos nos campinhos da minha vida.
Saudades dele, do Djalma Santos, do De Sordi, enfim, dos que marcaram a minha vida com suas figurinhas tão procuradas e, até hoje, muito bem guardadas como relíquias, sinceramente? Isso não tem preço. Veja Gylmar, agachado e curiosamente com as joelheiras na canela, em uma seleção paulista dos anos 1950.
Em pé: Julinho, Humberto Tozzi, Baltazar, Jair Rosa Pinto e Rodrigues. Agachados: Alfredo Ramos, Djalma Santos, Gylmar, Formiga, Hélvio e Roberto Belangero. Grandes craques, grandes histórias.
NOTA: As fotos são do arquivo pessoal do autor, que data de 50 anos. Ele, como colecionador e historiador do futebol, mantém um acervo não somente de fotos, mas de figurinhas, álbuns, revistas, recortes e dados importantes e registros inéditos e curiosos do futebol, sem nenhuma relação como os sites que proliferam sobre o assunto na rede de computadores da atualidade