Segura, Tatuí!

Há quem não acredite nos estatísticos oficiais e, muitas vezes, isto é compreensível, particularmente quando os números – sempre tidos como “frios” – pouco parecem refletir a realidade.

Há pouco, por exemplo, os números da economia nacional indicavam o fim da recessão, quando a realidade seguia a mesma, sem sensação de melhora para a imensa maioria da população – claro, isto antes de o país sair completamente da pista, a partir da greve dos caminhoneiros.

A cautela diante de alguns estudos abarca todas as áreas da sociedade, porém, com atenção redobrada quando os resultados apresentam estatísticas relacionadas a segurança, emprego, inflação, saúde pública e outras áreas nevrálgicas.

Portanto – sem enrolação -, é natural que os números envolvendo Tatuí na área de segurança pública tenham causado certa estranheza, os quais tornaram-se notícia nacional na semana passada.

Mas, a verdade é que não há qualquer falta de zelo, tampouco imperícia, junto ao estudo do “Atlas da Violência: Políticas Públicas e Retratos dos Municípios Brasileiros”, divulgado neste ano, com base em estatísticas de 2016.

Pelo “Atlas”, Tatuí aparece com o melhor resultado da RMS (Região Metropolitana de Sorocaba) e entre as quatro cidades com menores índices de homicídios no país – daí o espanto de alguns.

O estudo, realizado pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), consiste em um mapeamento das mortes violentas nos municípios brasileiros com população superior a 100 mil residentes, a partir dos dados do Sistema de Informação sobre Mortalidade do Ministério da Saúde (SIM/MS).

Conforme a pesquisa, a taxa de homicídios tatuiana foi de 5,9 casos para cada 100 mil habitantes. O ranking nacional levou em conta 309 municípios brasileiros com população acima de 100 mil. No total, o Brasil registrou, em 2016, 62.517 homicídios.

No Atlas divulgado no ano passado, com índices de 2015, Tatuí havia alcançado o terceiro melhor resultado na RMS, ficando na 29ª posição entre as cidades com menores índices desse tipo de crime no Brasil.

Já no estudo mais recente, na região, aparecem como mais violentas as cidades de Votorantim, com 21 homicídios para cada 100 mil habitantes, Sorocaba, com 17, e Itapetininga, também com 17.

No índice geral das cidades, Brusque, em Santa Catarina, é a mais pacífica. A cidade habitada por 125,810 mil pessoas teve 4,8 homicídios para cada 100 mil habitantes.

Na sequência, aparece o município paulista de Atibaia, com 138,449 mil habitantes e índice de 4,8 homicídios para cada 100 mil. Jaraguá do Sul, em Santa Catarina, é a terceira cidade mais pacifica do Brasil, com índice de 5,4 em 167,3 mil habitantes.

Em seguida, vem Tatuí, com 117,823 mil habitantes e 5,9 de índice. Das dez cidades mais pacíficas, seis ficam no Estado de São Paulo: Atibaia, Tatuí, Jaú (6,9), Botucatu (7,1), Indaiatuba (7,2) e Limeira (7,4).

Em 2017, os dois municípios catarinenses estavam bem colocados na pesquisa, que usava dados estatísticos de 2015. Na época, Jaraguá do Sul era considerada a mais pacífica entre as cidades pesquisadas e Brusque, a segunda.

No período, Jaraguá do Sul tinha 163.735 moradores e a taxa de homicídios de 3,1. Já em Brusque, que na época tinha 122.775 habitantes, a taxa era de 4,1.

O Atlas também apresenta outros fatores com relação aos municípios, como índices de pobreza, trabalho, gravidez na adolescência e vulnerabilidade juvenil. Os indicadores se referem ao ano de 2010 e foram calculados com base no Censo Demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Nada surpreendente, contudo, é o fato de que o estudo também aponta que, entre os fatores fundamentais a conterem a violência, está a prevenção social focada nas populações vulneráveis.

“Quando se fala em índice de homicídios, é muito complexo fazer uma análise baseada somente em estatísticas policiais, pois os dados também dizem respeito às condições socioeconômicas das pessoas mais atingidas pela violência”, argumentou o secretário municipal da Segurança Pública, José Roberto Xavier da Silva.

O Atlas deixa essa realidade explicita ao constar que as dez cidades com maiores taxas de assassinatos no Brasil têm nove vezes mais pessoas na extrema pobreza do que as cidades menos violentas.

Segundo o estudo, os dez municípios com mais de 100 mil habitantes e menores taxas de homicídios têm 0,6% de pessoas extremamente pobres, enquanto os dez mais violentos têm 5,5%, em média.

A porcentagem de pessoas sem saneamento básico é de 0,5% nas cidades menos violentas e de 5,9% nas mais violentas. A taxa de desocupação de jovens também é maior nas cidades com mais assassinatos.

Sete dessas dez cidades mais violentas do Brasil estão na Bahia e no Rio de Janeiro. Queimados, na região metropolitana do Rio, foi a recordista, seguida por Eunápolis, na Bahia. Entre as dez, há, ainda, Maracanaú, no Ceará, Altamira, no Pará, e Almirante Tamandaré, no Paraná.

Questionar boa notícia pode ser um passatempo nacional, tal como questionar tudo relativo à vida pública chega a ser obrigação pessoal, mas há motivo para reconhecimento da credibilidade do Atlas, até porque o estudo não teria qualquer razão para ignorar o apuro científica meramente para favorecer uma cidade do interior, que tem tanto peso político quanto qualquer outra na ordem do dia nacional.

E mais: se a situação socioeconômica na cidade não piorou desde 2016 – de quando os dados foram colhidos – e se essa condição reflete tanto na segurança púbica, então, pode-se esperar ainda mais números positivos para 2019.

Porém, óbvio: números só têm significado quando observados pela realidade das pessoas, quando estas, realmente, sentem que estão vivendo melhor – ou, especificamente neste caso, deixando de morrer antes da hora. Que assim seja.