Sebos apostam no preço baixo para recuperar as vendas de livros e gibis





Depois de um início de ano ruim em vendas, os sebos registraram recuperação na comercialização de livros e revistas seminovos e usados. Alternativa para quem quer garantir o prazer da leitura a preço baixo, as lojas voltaram a sentir o movimento crescer desde o mês passado.

Com exemplares custando até menos da metade do preço do que nas livrarias convencionais, as lojas de livros antigos garantiram aumento das vendas, que ainda não se igualaram às dos anos anteriores.

De acordo com João Batista da Cunha, proprietário de um sebo local, as vendas retomaram desde maio, quando alcançaram 60% das registradas no mesmo mês do ano anterior. A chegada das férias traz otimismo ao comerciante, que acredita que as crianças leem mais quando estão em casa.

“Espero igualar as vendas de julho do ano passado, que é o mês de férias e vendo mais. Como a criançada está de férias, eles querem livros e precisam ter alguma atividade”, declarou.

O acervo da loja é formado, principalmente, por 60 mil livros e gibis, 4.000 discos e 2.500 CDs. Com tantos itens, eles são guardados em prateleiras enumeradas, para facilitar a busca. A maior parte das vendas, que giram em torno de 200 a 300 exemplares mensais, é de gibis, o carro-chefe do sebo, livros de ficção e didáticos.

O público do sebo é variado. Pais e mães procuram o local para adquirirem livros didáticos usados, mais baratos que os novos. As crianças procuram por gibis de super-heróis, como Batman e Superman; os adolescentes procuram livros infanto-juvenis de ficção; homens de 30 anos ou mais, adquirem gibis antigos, como os que contam as histórias de faroeste do personagem Tex Willes.

“O público do Tex Willer é formado por colecionadores da internet, acima de 30 anos, porque precisa de um poder aquisitivo já formado”, afirmou.

A procura por quadrinhos antigos de Tex Willer é grande, principalmente pela internet. O exemplar mais caro da loja é justamente o primeiro número da revista em quadrinhos do personagem no Brasil, lançada em 1971. O preço do exemplar é R$ 1.800.

“Tenho outras, como os números seis, oito e nove, que custam R$ 600 cada. Daí, tem o número 19, que é R$ 350 e, depois, tenho o 53, que custa R$ 50. Quanto mais antigo, maior o valor”, explicou.

O comerciante afirmou que, recentemente, começou a revender livros novos, comprados em promoções de grandes sites de vendas. O preço pode chegar ao de um livro seminovo, com a vantagem de que o cliente será o primeiro a ler.

“Alguns livros eu adquiro novos. Pego uma época de promoção, compro em quantidade e coloco na livraria. Mesmo sendo novo, dá para economizar 60% na compra”, declarou.

Quando os clientes não encontram a publicação, Cunha faz a encomenda e garante a entrega em até sete dias. A regra vale para os didáticos, universitários e todos os outros.

“Se o cliente vem na livraria e não encontra o livro, nós fazemos a encomenda. Não compramos e deixamos em estoque porque demora muito para vender e não podemos ficar com estoque parado”, explicou.

O grande acervo, composto por dezenas de milhares de unidades é reposto com compras em outras cidades, como Sorocaba e São Paulo, e em encomendas pela internet.

Os abastecimentos também ocorrem quando pessoas levam diretamente ao sebo livros que não querem mais e desejam vender. Pelo espaço limitado, o vendedor disse que se tornou criterioso na hora de comprar exemplares, focando nas publicações de maior venda, garantindo ganho.

“Tem material que não compramos, só pegamos em caso de troca. Para nós pegarmos, tem que ser um material que venda rapidamente. Às vezes, não conseguimos vender rapidamente, então, complica”.

As trocas de livros e gibis, feitas com os clientes “oxigenam” o estoque e levam novos exemplares às prateleiras. Nos casos dos gibis, duas unidades do cliente são trocadas por uma da loja. A modalidade de venda por troca não gera custos ao comprador, resultando em economia.

“O cliente, se não tiver dinheiro, pode trocar um livro por outro. Só não dá para trocar livro didático por um do ‘Harry Potter’”, explicou.

A maior parte das vendas do sebo é pela internet. O meio é responsável por mais de 60% das saídas. Em alguns meses do ano, a proporção é maior, segundo Cunha. “Funciona assim: o que se vende na livraria, é para manter ela. O que vende pela internet é para lucro”.

Diariamente, o comerciante envia, pelos Correios, encomendas para todos os Estados do país. Na tarde de segunda-feira, 6, enquanto a reportagem estava no local, Cunha separava 12 encomendas.

Livros e gibis eram enviados para o interior de São Paulo, Maranhão, Pernambuco, Pará e Paraná. O cliente mais distante era de Boa Vista, capital de Roraima.

Com um concorrente na cidade, o comerciante afirma que “tem mercado para todo mundo em Tatuí”, pelo fato de que os dois sebos locais são responsáveis por outras dez cidades da região que não dispõem de lojas de livros usados. Uma delas é Itapetininga.

“Não digo concorrentes, digo parceiros. Os clientes vêm de outras cidades para comprar o nosso. Então, somos parceiros, pois tem mercado para todo mundo, de sobra”, disse.

O companheirismo não fica somente nas vendas compartilhadas, explicou. Os comerciantes vendem entre si produtos como CDs usados e livros.

Os livros didáticos e universitários compõem outro filão explorado pelo comerciante, que atende sob encomenda. Os cursos superiores disponíveis na cidade, como o curso de administração e enfermagem, geram compras de livros das áreas no sebo. Nas prateleiras, é possível visualizar livros de medicina, por exemplo.

“Os livros mais específicos têm procura também, principalmente pelo fato da faculdade Santa Bárbara. Muita gente procura livros de administração. Os livros de medicina são procurados por alunos da Escola de Enfermagem”, contou.

O sebo possui, também, algumas antiguidades em exposição, algumas à venda. As mais chamativas são um rádio de 1920 e um barco de madeira, que o comerciante diz ter apreço sentimental pela peça e não vende de jeito nenhum.

Para vender, estão disponíveis um televisor e câmeras fotográficas antigas, máquina de costura e uma balança Filizola de 1940.

Apaixonado por livros desde pequeno, Cunha soube transformar a paixão em negócio. Depois de 31 anos trabalhando em despachantes, o comerciante começou a comercializar gibis pela internet, nos anos 2000.

“Eu ia às cidades vizinhas e sempre comprava e repassava para os meus amigos de internet. Daí, começou essa brincadeira de trocas e vendas que acabou virando negócio”, contou.

Seis anos depois, o empresário resolveu abrir as portas da “loja física”, aliando as vendas on-line às presenciais. “Veio a necessidade de se montar uma livraria, para ter uma pessoa jurídica e facilidade para vender, por causa da credibilidade”.

 

Doação de livros

Livros de biologia, matemática, física e língua portuguesa, entre outras disciplinas, podem ser adquiridos gratuitamente no sebo. Os livros, que raramente geram renda para a loja, são doados aos estudantes que estão se preparando para vestibulares.

A doação ajuda a loja a abrir espaço para o recebimento de novos livros, que têm giro de vendas maiores e demandam espaço nas prateleiras. “Se vier aqui, pedir livros para vestibular, a gente vê o que tem e leva de graça”.

“Para mim, compensa os livros com valor maior do que R$ 10. Se for menos, ele vai tomar o lugar de um livro de R$ 10, daí eu vou perder dinheiro”, explicou.

A reportagem entrou em contato com o outro sebo local, mas não obteve retorno até o fechamento desta edição (terça, 17h).