Mesmo quem é da área de comunicação encontra dificuldade para prever os assuntos que devem render mais repercussão – ou menos. Não raro, há surpresas. Ao longo da semana, uma pauta aparentemente não tão significativa acabou ganhando grande atenção, pelo que valem novas observações.
A reforma da Praça da Santa, mesmo com insistentes a diversas mensagens – por jornal, rádio, mídias sociais – de que possui recurso pelo governo do estado restritamente reservado ao investimento em turismo, ainda rende manifestações em contrário.
Exceto a parcela que, por interesses outros, distantes do bem público, sempre se posiciona criticamente – algo que lhe é de direito, mas nem por isso carecendo de resposta -, aos demais, cabe o reforço ao compromisso de que a originalidade do espaço não será comprometida.
Assim determina o projeto apresentado pela prefeitura e aprovado pelo Conselho Municipal de Turismo. Em que pese o fato de o Conselho Municipal de Defesa do Patrimônio Histórico e Cultural – também extremamente atuante e fundamental ao desenvolvimento da cidade -, não ter votado junto ao projeto, isto não implica em qualquer prejuízo ao segundo passeio público da cidade, justamente porque – reiterando – terá toda a originalidade respeitada.
A participação direta do Comtur aconteceu, simplesmente, porque foi esse órgão que conseguiu o dinheiro para Tatuí. Simples – lembrando que, sem dinheiro, tanto não se reforma praça quanto não se tapa buraco em rua.
Poderia ter sido esse recurso destinado não a tapar buraco – porque não se configura em investimento “direto” em turismo -, mas em placas informativas com temática musical, por exemplo.
Entretanto, a conclusão do conselho foi a de que, antes de atrair mais turistas à cidade, é preciso trabalhar por uma cidade cada vez mais digna de atrair turistas. Uma praça central “feia” indica o contrário. A opção pela reforma, por conseguinte, também correspondeu a raciocínio lógico e simples.
Por sua vez, há o argumento de alguns – sustentado pela incompreensão e falta de senso de (boa) oportunidade – de que turismo é bobagem… Faz barulho, atrapalha o trânsito, aumenta fila no supermercado e, entre outras coisas, quem sabe, ainda ajuda a fazer mais buraco nas ruas…
Frente a esta perspectiva, a título de esclarecimento, é interessante observar artigo da professora Grazielle Ueno Maccoppi, turismóloga, mestre em turismo pela UFPR e coordenadora do curso de gestão de turismo do Centro Universitário Internacional Uninter.
Ela ressalta que, em 2018, o turismo brasileiro cresceu de forma impressionante: seis pontos percentuais, com aumento de cerca de 6% na chegada de turistas internacionais.
“Foi um crescimento maior do que o da economia mundial, que expandiu em 3,7%. Esses dados mostram a importância do turismo como fio condutor da economia no Brasil. Porém, ainda há muito o que fazer”, alerta ela.
“Por exemplo, os brasileiros gastam muito mais em outros países do que os estrangeiros quando visitam o Brasil. De acordo com dados do Ministério do Turismo, em 2018, os estrangeiros deixaram perto de US$ 5,9 bilhões em nosso país, enquanto os brasileiros gastaram US$ 18 bilhões no exterior em um período menor – de junho a dezembro do mesmo ano. Em apenas seis meses, gastamos três vezes mais do que recebemos.
Tendo isso em vista, a isenção de vistos para estrangeiros, implantada pelo governo federal no dia 18 de março, não é suficiente para impulsionar o mercado turístico brasileiro. Olhar para fora é importante, mas olhar para dentro, para a infraestrutura interna que temos para receber os estrangeiros, é indispensável.
Para ilustrar, entre os inúmeros fatores que impulsionam o turismo no mundo, as passagens aéreas acessíveis é um dos mais importantes. Para isso, é preciso ter estabilidade no preço do combustível, o que o Brasil ainda não alcançou.
Outra medida importante seria o investimento em pesquisas científicas. O Brasil possui uma quantidade enorme de atrativos turísticos, mas dispõe de poucos dados sobre a forma com a qual os estrangeiros visitam esses lugares, escolhem seus destinos e gastam seu dinheiro. Logo, ter mais informações permitiria traçar estratégias inteligentes para atender a demanda turística.
Por fim, é preciso preparar e qualificar a oferta de atividades turísticas. Para isso, as pesquisas se fazem mais uma vez essenciais, para aferir os pontos fortes e fracos do Brasil, para aferir onde é preciso mais investimento. Com essas medidas, teríamos melhoras em todos os aspectos: infraestrutura, qualificação do atendimento, mais tecnologias e mais informações para os turistas.
Em conclusão, o olhar interno para estruturar o turismo de forma sustentável e acessível deve ser prioridade para o avanço da atividade no país. O crescimento do turismo nos últimos anos confirma que o setor é hoje um dos mais poderosos impulsionadores do crescimento econômico e do desenvolvimento mundial. É nossa responsabilidade gerenciá-lo de maneira sustentável e traduzir essa expansão em benefícios reais para todas as comunidades locais, criando oportunidades de emprego e empreendedorismo.”
Claro que a especialista observa o assunto de maneira nacional, mas é evidente que tudo vale para Tatuí. Com incentivo, estudos, projetos e muito trabalho, há tudo a ganhar e nada a perder.
De resto, é só não se afetar com os que sempre ladram e permitir que as caravanas turísticas passem, beneficiando a Capital da Música, a Cidade Ternura, como um todo.