O ácido acetilsalicílico, conhecido popularmente por marcas como Aspirina, AAS, bayaspirina, bufferin (Aspirina buferada) e outros, também está presente em inúmeras fórmulas vendidas como “antigripais” e é, talvez, uma das mais antigas entre as maiores descobertas da medicina. Tudo começou com o uso da casca do salgueiro usada contra diversas doenças no Egito antigo, de que há registros no chamado “Papiro de Ebers” (de 1534 a.C.) No papiro, havia referências a substâncias medicinais extraídas da casca do salgueiro que eram usadas contra dores e anti-inflamatório na antiguidade. No princípio do século 19, cientistas iniciaram estudos para a criação de uma medicação sintética baseada nos mesmos princípios do salgueiro (ácido salicílico), o que veio a acontecer em 1850. Os cientistas Friederich Bayer e Johann Wescott modificaram a descoberta, sintetizando o ácido acetilsalicílico e batizando-o “Aspirina”, em 1889, minorando alguns efeitos colaterais da medicação.
Em matéria publicada na “Folha” há algum tempo, o conhecido infectologista Dráuzio Varella discorre sobre a descoberta da Aspirina, com informações baseadas em seus sempre muito bem embasados estudos. Segundo ele, o mundo hoje produz 40 mil toneladas do produto por ano, e já foi objeto de nada menos do que 26 mil ensaios e teses científicas. Usada como antitérmico, analgésico e anti-inflamatório, a Aspirina só teve o maior de seus segredos revelados em 1970, quando descobriram que sua maior propriedade seria impedir a agregação de plaquetas. Por conseguinte, a medicação passou a ser vista como recurso para a redução da formação de coágulos, assim evitando acidentes vasculares cerebrais (o AVC, ou “derrame”) e cardiovasculares (infarto). Ainda segundo Varella, uma quantidade de Aspirina de até 325 mg (pouco mais de três comprimidos) antes de 24 horas após um infarto reduz em 50% o risco de morte ou de um segundo ataque! Quem está com sintomas sugestivos de infarto, ele sugere, deve tomar dois a três comprimidos, enquanto aguarda o auxílio médico – “mal não fará”, disse.
Há coisa de oito anos, fraturei a fíbula (quando estudei, chamava-se perônio), perto do pé – um ossinho poderoso, do qual depende a articulação do tornozelo, e até o equilíbrio do corpo. Essa “fraturazinha” jogou ao chão o lutador Anderson Silva em uma luta, após um golpe do adversário, e mesmo podendo pagar os melhores médicos, hospitais e cirurgiões dos EUA, ainda está inseguro para lutar.
Pois eu fui pessimamente atendido em um hospital particular paulistano, cujos médicos não apenas exageraram no tempo de imobilização. Segundo um ótimo e conhecido ortopedista de Tatuí, não seria caso de cirurgia, como os colegas de São Paulo insinuaram (a clínica cirúrgica particular deles ficava a uma quadra do hospital onde atendem: uma “linha de montagem” de fazer dinheiro). O ortopedista de Tatuí também me informou que, sem querer saber por quem ou onde fui tratado, nesse tipo de fratura, assim que começa a surgir no raios-x a consolidação, deve-se deixar a imobilização para que os movimentos sejam retomados, juntamente com acompanhamento fisioterapêutico. Nada disso foi feito, por falta de orientação, e fiquei com sequelas, sendo a pior, agora sob controle, um edema linfático e venoso, de que só passei a me cuidar depois de consultar outro ótimo especialista de Tatuí, que sugeriu um exame mais complexo. Em abril de 2004 fiz um ultrassom com doppler colorido da parte afetada. “Só para vermos se algum ‘vasinho’ foi afetado”, disse-me ele, sem querer antecipar nada. Foi aí então que descobri que eu tivera um trombo na veia femoral, e ele havia ficado retido em uma válvula do vaso até… dissolver-se!!!
Muito antes disso, meu antigo cardiologista de São Paulo, professor titular da Unifesp, após exames de rotina, sugeriu-me uma Aspirina infantil (100 mg) todas as manhãs. Isso foi há mais de 15 anos, e mantenho o costume até hoje, tomando o cuidado de suspender a Aspirina alguns dias antes de uma cirurgia ou mesmo tratamento dentário – qualquer sangramento sob o uso da medicação dificulta a coagulação.
Pois no meu caso o trombo poderia ter seguido o caminho da veia femoral e subir, causando uma embolia (de “êmbolo”) pulmonar ou outras complicações. O trombo “preso” fora dissolvido graças à Aspirina! Passei a interessar-me pelo assunto, li muitas matérias e artigos, textos científicos como o “Patient” (UK), “Publimed”, “WebMd” e o “Journal of Thrombosis” (todos dos EUA), entre outros.
Agora, ninguém deve se medicar continuadamente com Aspirina – fora simples dores de cabeça e febre baixa – sem orientação médica. Deve haver cuidado especial em pessoas portadoras de diabetes, insuficiência renal e hemofilia, entre outros, fora alguns efeitos e doenças colaterais, como irritações estomacais, a “síndrome de Reye’, reações alérgicas e outros. Não vá cego pela minha opinião, de simples paciente salvo por Aspirina, sem uma consulta ao seu médico especialista. Em tratamento prolongado por cinco anos ou mais, a Aspirina pode salvar e prolongar vidas. Porém, apesar de simples e popular, não deixa de ser uma droga, e portanto somente deve ser usada preventivamente com a devida recomendação de médico especialista. E continuo com minha rotina diária de Aspirina, minha fisioterapia por drenagem para reduzir o edema, meias de compressão e controle médico. Mas o ponto final é que fui salvo pelo uso diário do pequeno e em princípio inofensivo comprimido infantil.