‘Salvadores’: os heróis de uniformes brancos

Imagem ilustrativa (Anna Shvets / Pexels)

Entra no quarto uma mulher, toda paramentada e cuja única parte visível do rosto são os olhos – também conhecidos, não por acaso, como “janelas da alma”. E que alma!

Não precisa mais que o olhar para evidenciar tanto a apreensão diante do desafio de salvar vidas quanto transmitir conforto e otimismo a todos os seus arfantes “hóspedes”, devidamente acomodados entre a enfermaria e a UTI.

Essa pessoa fenomenal é uma entre milhares e milhares de profissionais de saúde na chamada “linha de frente” do combate à Covid-19.

Em um hospital de Tatuí, ela vem, com todo o cuidado e delicadeza, para a aplicação de mais uma vacina, momento em que comenta com uma colega, sem qualquer mostra de indisposição, estar já há dez dias seguidos de plantão, sem descanso.

Aí, talvez para minimizar mais uma agulhada na barriga, sorri e comenta com o paciente que ele está melhorando, que já está com uma “cara bem melhor!”. “Graças a Deus”, emenda, acrescentando que está com saudade dos filhos, os quais tem visto tão pouco nestes dias.

A dor da picada até desaparece, dando lugar à tão preciosa quanto escassa empatia: o hóspede se sente no lugar dessa profissional – e de tantos outros – que precisa sacrificar-se e à sua família porque, simplesmente, não há alternativa: ela precisa ajudar a salvar vidas!

Qualquer hóspede não contaminado pela desumanidade – essa outra epidemia a atacar o Brasil de Norte a Sul – entende muito bem a situação dessa enfermeira, até porque, quando preso por agulhas de todos os lados a uma cama de hospital, o que mais se quer é estar com a família, poder “voltar pra casa”.

A despeito do custo pessoal (e da máscara que não permite ver-lhe o rosto), percebe-se claramente o sorriso por baixo da necessária proteção facial. Ela trabalha com prazer, nitidamente satisfeita por contribuir com o bem-estar de seus visitantes involuntários. Despede-se de maneira simpática e corre para atender outros hóspedes.

A postura da enfermeira é animadora, motivadora. Vem à mente a certeza de que, logo, tanto ela quanto o inquilino combalido estarão em casa, com seus familiares.

Contudo, a esperança ganha ainda mais vitalidade, pois, em seguida à visita da enfermeira, entra uma técnica, falante, simpaticíssima, querendo saber, com toda a sinceridade, se o hóspede está bem, se precisa de alguma coisa.

O acamado pensa, equivocadamente, que essa outra profissional, pela energia, está descansada, tranquila, que é uma dessas raras pessoas a não ter azar na vida – daí tanto carinho e alegria. Mas, não…

Ela conta – sem rancor ou mínima postura de vítima – ter sofrido violência doméstica no primeiro casamento, somente tendo se livrado das agressões com a morte do ex-marido.

“Só isso”? Não! Quando nota as agulhas espetadas no hóspede, observa que aquilo incomoda mesmo. “Quando fiquei internada por mais ou menos um mês, em razão da retirada de um órgão por câncer, também não foi nada bom”, comenta, de maneira tranquila, também sorrindo por baixo da máscara.

Nesse instante, o inquilino involuntário até se sente mal por lamentar a estadia no hospital. “Como pode essa mulher, depois de tantos desafios, estar aí, aparentemente, tão feliz e tão preocupada em levar conforto para os outros”, pensa o paciente.

Sorte é que a profissional usa a vida pessoal justamente na busca desse conforto alheio, participando histórias dela. Assim, o hóspede fica sabendo que, “graças a Deus”, ela casou-se novamente – desta vez com uma boa pessoa e o apoio dos filhos.

“Nossa, que bom ouvir isso”, pensa o acamado, durante mais uma agulhada, que dessa vez nem dói porque a sensação de privilégio de estar sendo cuidado por pessoa tão adorável é muito maior.

Descansada, contudo, ela também não está. É outra que, por falta de colegas, segue em plantão por dias a fio – embora “sem perder a ternura. Jamais”.

De fato, esses profissionais abnegados não têm mesmo opção, exatamente por não haver profissionais suficientes para atender à dramática demanda de doentes – em Tatuí, no país e no mundo!

Por vezes, discursos desinformados (e, assim, “desinformantes”), quando não mal-intencionados, buscam convencer que o problema enfrentando pelos hospitais é somente a falta de oxigênio e respiradores para mais leitos de UTI. Uma besteira, nada além disso.

Verdade é que podem ser adquiridos, por exemplo, um respirador para cada cidadão tatuiano que, mesmo assim, o drama no atendimento hospitalar seguiria o mesmo.

Isto porque os aparelhos – tal como todos os demais procedimentos necessários ao atendimento dos pacientes – precisam de profissionais capacitados: médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem e o pessoal de apoio na alimentação, na higienização na segurança, no transporte.

Ou seja, conta (muito) mais o fator humano que o número de leitos – o que, obviamente, tem custo, não sendo correto, tampouco justo, medir os gastos em razão da pandemia somente em aquisição de respiradores.

Por tudo isso, é de se reconhecer e parabenizar a iniciativa da confecção de um monumento em homenagem aos profissionais da Saúde na linha de frente do combate à Covid-19 em Tatuí.

Produzida pelo artista plástico Cláudio Camargo, do Espaço Cultural “Cláudio Esculturas”, a obra terá 1,5 metro de altura e está sendo confeccionada em gesso.

Para elaboração da escultura, o artista apresentou um projeto que acabou habilitado pelo edital de cultura 01/2020, recebendo recursos da lei federal 14.017/2020, a Lei Aldir Blanc, por meio de decreto municipal de julho de 2020.

Quando concluída, a obra será doada ao município. Na sequência, haverá um estudo sobre o local ideal para a instalação, porque é produzida para ficar exposta em área interna.

“A intenção é agradar e trazer um pouco de felicidade a estes agentes da Saúde, que são nossos heróis guiados pelas mãos divinas!”, ressalta o artista.

Por sua vez, o jornal O Progresso, na pessoa dessas duas queridas profissionais do Hospital da Unimed Tatuí e em nome de todos os hóspedes involuntários, também busca prestar uma homenagem, embora singela, aos profissionais da Saúde que atuam no município – os quais devem ser reconhecidos como os maiores patriotas e os verdadeiros heróis do país – e do mundo! A todos, nossos sinceros e profundos agradecimentos!