Arquivo o Progresso
Mário Luís Rodrigues da Costa declarou que ‘sonha com o fato de o partido evoluir sem ser perseguido’
Comunicado datado de 23 de junho pôs fim a um capítulo recente da histórica política local. Por meio do documento, o vice-prefeito Vicente Aparecido Menezes (Vicentão) informou a saída do PT (Partido dos Trabalhadores).
Filiado desde abril de 2007, ele cortou relações com a legenda, praticamente, um mês após veredito do STF (Supremo Tribunal Federal). No dia 27 de maio, foi decidido, por unanimidade, que ocupantes de cargos majoritários não correm o risco de perdê-los caso mudem de partido durante o exercício do mandato.
Classificada como “oportunista” pelo presidente do diretório municipal, Mário Luis Rodrigues da Costa (Martinho) – uma vez que Vicentão não correria o risco de perder o cargo –, a saída teve outro motivo, conforme informado pelo vice-prefeito. Ele sustenta que deixou o PT porque esperava ser “mais respeitado”.
O nó que unia os políticos rompeu-se por conta da assembleia realizada pelo partido no início deste ano. Anunciada em novembro do ano passado, a plenária tinha como objetivo promover votação entre os correligionários para decidir se o partido continuaria na base de apoio do prefeito José Manoel Correa Coelho, Manu (PMDB). O encontro aconteceu em 28 de janeiro.
Na ocasião, a diretoria executiva do PT votou pela permanência na base de governo. À época, os membros não entraram em consenso, sendo necessária a realização de votação.
Dos oito membros com direito a voto, dois manifestaram-se contrários à continuidade de apoio à atual administração: o vereador André Marques (André Norbal) e o vice-presidente do partido, José Norbal Moraes Marques. Ambos, porém, aceitaram a decisão da diretoria executiva.
Por problemas particulares, o vice-prefeito não pôde participar do evento. Desde então, reduziu cada vez mais a comunicação com o diretório, a ponto de não ter, como alegado pelo presidente, comunicado a intenção de deixar o PT.
“Ele já saiu, não alardeou, mas acho que só não tinha feito isso antes porque estava com medo de o mandato ser do partido”, declarou o militante.
Em entrevista, o presidente teceu série de críticas a Vicentão. A principal delas é que o vice-prefeito “se aproveitou de uma decisão infeliz do STF”. “Ele se viu na condição de sair sem ter problemas com o mandato, porque o cargo de secretário, para ele, pouco importa”, falou Marinho.
Ele também acrescentou que o vice-prefeito teria ficado irritado por ter sido contrariado. “Na verdade, ele está mais bravo comigo, pessoalmente”, disse, referindo-se ao fato de que Marinho não atendeu a um pedido feito por Vicentão.
A atitude do ex-membro do partido reverberou entre os correligionários. O petista afirmou que, ao contrário do que esperava (receber críticas), a diretoria tem sido elogiada pela “evasão”. “Vários companheiros e membros da sociedade têm me dito que nós nos livramos de um problema”, declarou.
O presidente justificou que não acatou o pedido de Vicentão, de mudar a data da reunião que decidiria o futuro do partido na cidade, por uma questão simples: Marinho alegou que o ex-membro não fazia parte da diretoria executiva do PT e, como tal, não tinha poder de decisão, ou mesmo, de voto.
“Ele era membro porque tem mandado de vice-prefeito, mas foi subserviente a ex-prefeitos e empresários. Enfim, ao pessoal que tem dinheiro. Agora, quando é a turma dele, quer impor decisão”, declarou.
No episódio da plenária, Marinho disse que o vice-prefeito tornou-se voto vencido. Afirmou que ele não pôde participar da reunião por conta de uma “infelicidade” e que, com ou sem o voto de Vicentão, o resultado não seria alterado. “Ele ia perder do mesmo jeito. Nós continuaríamos na base do governo”, disse.
O presidente declarou que apenas três membros queriam romper com a administração municipal. Além do vice-prefeito, o vice-presidente do diretório local e o vereador Marques tinham a intenção de deixar de fazer dobradinha com o PMDB em Tatuí. Um quarto membro seria o vereador José Márcio Franson.
“Naquele momento, o Franson estava só indignado com o Manu por questões políticas. Então, não ia dar. Ele, realmente, tentou que eu mudasse a data da reunião, mas não tínhamos mais como adiar”, alegou Marinho.
Segundo o presidente, a diretoria remarcou o dia da plenária pelo menos duas vezes. Para o presidente do PT, mesmo à revelia, Vicentão acabou sendo beneficiado com a opção do partido.
“Se nós tivéssemos rompido, ele não estaria no governo. Ele até me disse que o convite feito pelo prefeito para retornar foi pessoal e não tinha nada a ver com o partido, mas é a opinião dele”, disse.
A perda de um membro de representatividade não é lamentada pelo petista. Marinho alegou que se sentiu “aliviado com o desligamento do vice-prefeito, em função do histórico político dele”, referindo-se a trocas de siglas durante a carreira de Vicentão (que incluíram PDT, PSDB, PPS e PT).
Também disse haver “inconsistência” entre o discurso feito pelo vice-prefeito e a prática. Marinho alegou que Vicentão “chegou a rasgar elogios para o PT e ter afirmado que nunca mais pensava em trocar de legenda”. “Ele disse que queria encerrar a carreira no PT. Falou isso em vários discursos”.
A 15 meses das eleições municipais, o presidente do diretório municipal do PT comentou ter “preocupações maiores que a baixa”. Marinho disse estar tranquilo e “bem mais sossegado”. Declarou que o momento é incerto para a legenda porque ela está sob “tiroteio da mídia”.
Em Tatuí, analisou que o PT está fortalecido, por conta da aliança com o PMDB. Marinho destacou que o partido conseguiu eleger três representantes na Câmara Municipal, mais o vice-prefeito, que continua na base governamental.
Quando a situação é ampliada para o Estado e ao país, ele considera ser preciso cautela. O presidente criticou as divulgações de denúncias de corrupção pela imprensa, envolvendo somente membros do PT.
Afirmou sentir-se decepcionado com situações dentro do partido, mas que sonha com o fato de a legenda “evoluir sem ser perseguida pela imprensa”.
Marinho afirmou que o PT local não pretende adotar nenhuma medida contra a decisão – já sacramentada – do vice-prefeito em seguir sem o partido.
Disse, também, que, com o desligamento, não houve nenhuma alteração. “A única coisa que muda é que nós não vamos ter ele no grupo”, acrescentou.
No município, os petistas continuam como aliados da administração municipal. Para 2016, o presidente afirmou que o partido ainda não definiu os planos.
Entretanto, existe a possibilidade de uma candidatura própria ao “Palácio das Mangueiras”. “Ainda é muito cedo, precisamos amadurecer melhor a ideia de termos, ou não, companheiros candidatos no ano que vem”, comentou.
A saída do vice-prefeito do partido pode não ser a única. No dia 9 deste mês, o vereador Franson divulgou nota na qual afirmou que estava “procurando uma nova legenda”. Até o fechamento desta edição (sexta-feira, 17h), o presidente informou que não recebera comunicado oficial.
O parlamentar alegou que não poderia continuar no partido porque o PT “segue em apoio ao prefeito”. Franson voltou a declarar que Manu é “inimigo dos animais em Tatuí”, depois de ter reatado relações com o prefeito por diversas vezes.
A razão do desentendimento entre o parlamentar e o prefeito – e, recentemente, entre ele e o PT – é a não implantação do projeto “Postos Veterinários”. A iniciativa é compromisso de campanha do parlamentar.
“O Franson ainda não se desligou. Eu pedi para conversar com ele, para saber o que havia. Nesse caso, não sei o que dizer, porque o vereador é um pouco confuso com relação a várias questões, apesar de superinteligente”, concluiu Marinho.