Rontan negocia venda a fundo da Europa





A Rontan Eletrometalúrgica deve anunciar, nos próximos dias, a transmissão do controle da empresa para um fundo de investimentos europeu. O grupo estrangeiro terá participação majoritária na companhia. A família Bolzan, proprietária da Rontan, continuará a ter ações da empresa, porém, de forma minoritária.

De acordo com o diretor financeiro da companhia, Clóvis Paulino, a efetivação da venda da companhia está programada para ocorrer na sexta-feira, 30, quando os novos acionistas devem transferir o aporte de capital à empresa.

“Assim que recebermos o sinal, que está programado para o dia 30, vamos anunciar a venda da empresa. Por enquanto, não podemos falar com quem estamos negociando. Só vamos fazer isso quando estiver concretizado”, esclareceu Paulino.

O executivo evitou identificar o nome e a nacionalidade do grupo de investimentos que está negociando a aquisição da empresa. A participação acionária da família Bolzan e do fundo de capitais ainda estão sendo discutidos pelas partes.

Atualmente, a empresa é controlada por João Alberto Bolzan, com 51,82% de participação, e José Carlos Bolzan, com 48,18%, de acordo com dados da Jucesp (Junta Comercial do Estado de São Paulo). Por ser uma “sociedade limitada”, a transferência do controle deve acontecer com a anuência de todos os sócios.

Paulino disse não saber se a injeção de recursos na companhia se dará por aumento de capital ou por compra direta de ações. No primeiro caso, os novos acionistas injetariam “dinheiro novo” na Rontan, “dissolvendo” a participação dos atuais controladores. No caso da compra, as cotas dos acionistas são adquiridas diretamente.

Segundo o executivo, a negociação está avançada. O contrato final de venda, no entanto, só será assinado após o aporte de capital. O valor da aquisição não foi informado.

“Os detalhes da aquisição estão sendo tratados pelas áreas jurídicas da Rontan e do fundo de investimentos. Não temos essas informações e, mesmo que tivéssemos, não poderíamos prestar, pois a compradora pediu sigilo”, declarou.

Após a venda, a empresa deverá continuar a se chamar Rontan. Não há informações se a companhia poderá se tornar uma “S/A” (sociedade anônima).

Firmas desse tipo devem prestar, anualmente, informações financeiras e seguir regras de governança corporativa da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), o que daria maior controle e transparência aos balanços financeiros.

As dívidas da empresa com funcionários e fornecedores ficarão sob a responsabilidade dos novos controladores, adiantou o executivo.

A aquisição permitirá que a Rontan pague os salários atrasados de funcionários e ex-empregados, além de regularizar as contas com fornecedores e empresas terceirizadas que prestam serviços à companhia.

“Estamos comprometidos a pagar os funcionários no dia 30, assim que recebermos o sinal. A situação com os fornecedores será resolvida a partir daí, aos poucos”, contou.

As operações da empresa voltarão à normalidade depois do aporte de capital, de acordo com o diretor. A data da reabertura da fábrica não foi informada, mas poderá ocorrer nas semanas seguintes à aquisição.

A iminente venda da empresa e o pagamento das dívidas com os funcionários foram anunciados durante assembleia geral, na manhã de quarta-feira, 21. A reunião foi convocada pelo Sindmetal (Sindicato dos Metalúrgicos de Tatuí e Região).

De acordo com o sindicato, os 836 metalúrgicos da empresa estão sem receber salário há quatro meses. Os empregados estão em greve desde 6 de junho. Ainda segundo o sindicato, cestas básicas não são entregues há sete meses.

A empresa está inadimplente também na remuneração de férias. A PLR (Participação de Lucros e Resultados), que era para ter sido paga em julho, ainda não havia sido depositada, segundo o diretor do Sindmetal, Cícero Ramos Pereira.

Ele ainda acrescentou que os depósitos do FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço) não são recolhidos há 12 meses.

No momento, o sindicato divulgou que está organizando nova representação para rescisão indireta dos funcionários. O instituto é previsto na CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) e é aplicado nos casos em que o empregador não cumpre obrigações como pagamento de salário, horas extras e FGTS, entre outras.

“Tem gente passando necessidade por essa situação. O sindicato está ajudando, pagando as contas de água, luz, comprando remédio e entregando cestas básicas para algumas dessas pessoas”, disse. “Não temos muito que fazer. Demos crédito à empresa e estamos esperando a Justiça decidir”, concluiu.

Por outro lado, o diretor financeiro da empresa afirmou que, se a quitação das dívidas com os funcionários se concretizar no dia 30, a ação de arresto em desfavor da Rontan deixaria de ter propósito.

“Quando pagarmos as dívidas, a ação movida pelo sindicato deixa de ter sentido. De qualquer forma, é um compromisso dos novos controladores saldar todas as dívidas da empresa e colocá-la para funcionar o quanto antes”, reiterou.

Crise agravou

Uma das principais fornecedoras de viaturas para o governo federal e estaduais, a Rontan foi uma das empresas muito afetadas pelos sucessivos cortes de orçamentos que as administrações públicas vêm promovendo desde 2014.

A crise na empresa, entretanto, agravou-se no final do ano passado, quando a companhia começou a atrasar o pagamento de fornecedores e salários dos funcionários.

Desde então, o número de contratados na Rontan vem caindo. De 1.250 empregados em 2012, atualmente, a companhia calcula ter cerca de 900 na unidade local.

Fundada em 1970, em São Paulo, a empresa se mudou para Tatuí em 1978. Até 2012, a Rontan era responsável por 85% do mercado doméstico de equipamentos de sinalização sonora e luminosa para viaturas, além de representar 70% das vendas na América do Sul e México nesse segmento. A companhia chegou a exportar produtos para os Estados Unidos, Canadá, Ásia e Europa.

O ramo de atuação da empresa inclui a customização de veículos para forças policiais, manufatura de veículos pesados para o Corpo de Bombeiros e para o Exército, sinalização visual e sonora de veículos, instalação e distribuição de rádios de comunicação e de sistemas de comunicação para forças de segurança.

O Grupo Rontan chegou a ter seis filiais: Rontan Telecon (fabricante de rádios comunicadores), Rovcan (“joint-venture” com uma indústria chinesa para fabricação de capacetes), Rontan Betim, Global Service, Rontan Norte-América (instalada em Miami, nos Estados Unidos) e FBA (Fundição Brasileira de Alumínio).

Algumas das empresas foram fechadas ou vendidas, como a FBA, adquirida pela Latasa Reciclagem em setembro do ano passado, por R$ 227 milhões.

No final de 2015, os proprietários da empresa negociaram a venda da Rontan para a concorrente norte-americana GDSI (Global Digital Solution Inc.). A empresa estrangeira chegou a anunciar a compra da Rontan à Comissão de Títulos e Câmbio dos Estados Unidos (SEC, na sigla em inglês).

Apesar do anúncio dos norte-americanos, o negócio não se concretizou. Na época, a GDSI afirmou que iria acionar a comissão americana para fazer valer o contrato.