Durante a sessão da Câmara Municipal da noite de segunda-feira, 5, foi lido ofício protocolado pela Rontan Eletro Metalúrgica na qual a empresa afirma que pode deixar Tatuí caso a Eurolaf Veículos Especiais se instale no município.
O ofício 0014/2019, assinado pelo presidente João Alberto Bolzan e pelo vice-presidente José Carlos Bolzan, foi protocolado no Legislativo e na prefeitura.
O documento pede “a não aprovação da instalação de uma empresa concorrente direta da Rontan, pois não gerará novos empregos e nem riquezas, mas um retrocesso acentuado na economia local com a divisão e consequente redução geral de empregos, impossibilitando o crescimento e continuidade da Rontan em Tatuí”.
Conforme o ofício, “a Eurolaf está com as atividades paralisadas em São José dos Pinhais (PR). Ela, inicialmente, geraria 80 empregos com produtos idênticos aos da Rontan e cegonhas (carrocerias para transporte de veículos), o que nunca fizeram no estado do Paraná”.
De acordo com o documento, “a Eurolaf foi cortada de todas as montadoras e não está conseguindo produzir em São José dos Pinhais com qualidade ou atendendo os prazos de entrega”.
O objetivo da empresa, conforme o ofício, “é aliciar mão de obra específica, que somente a Rontan possui, para retornar ao mercado”. O documento registra, ainda, que a concorrente “dividiria os postos de trabalho, ao invés de gerar novos empregos, aliciando funcionários altamente treinados há mais de 20 anos na Rontan”.
Conforme o item 19 do ofício, “se a instalação da Eurolaf se concretizar, a Rontan irá se retirar a um município próximo, talvez Itu, onde já possui uma área para execução da fabricação dos produtos e vendendo todo complexo da Rontan para um investidor já interessado que viria no momento oportuno”.
Após um período difícil, a partir de 2016, no qual entrou em recuperação judicial, a Rontan retomou as atividades em setembro de 2017 e, atualmente, tem em seu quadro cerca de 300 funcionários e linhas de montagem em funcionamento, principalmente de veículos leves e sinalização.
Até o fim do mês de abril do próximo ano, segundo o documento, a previsão da empresa é de contar com mais 400 funcionários, e até dezembro de 2020, atingir mil empregos diretos, além de cem postos de trabalho em Betim (MG).
Estão nos planos da Rontan, conforme anunciado pela empresa, a retomada de outros segmentos, como os de veículos pesados, veículos de combate a incêndio, coletes balísticos e a distribuição de rádios e sistema de telecomunicações da Motorola Inc e Motorola do Brasil.
Através do documento, a empresa projeta faturamento de R$ 300 milhões em 2019, ressaltando que faturava cerca de R$ 500 milhões por ano, entre 2010 a 2015.
Há mais de 40 anos instalada no município, a Rontan afirma que “proporcionou um grande desenvolvimento a Tatuí, através de impostos recolhidos e com o consumo de 20% de energia elétrica local, contribuindo sensivelmente para o crescimento econômico e social”.
“Praticamente toda população e comércio local, está torcendo pelo retorno total da Rontan com a contribuição significativa à Tatuí e região”, conforme o ofício protocolado.
O documento solicita à Casa de Leis uma moção de reprovação às instalações da Eurolaf ou um pronunciamento da Rontan aos vereadores, durante audiência em plenário.
A O Progresso, o presidente da Câmara Municipal, Antônio Marcos de Abreu (PL), afirmou ter ficado preocupado com a ameaça de a Rontan deixar o município. Ele ressaltou, no entanto, ser favorável à vinda de mais empresas a Tatuí.
O ofício foi protocolado no dia 16 de julho, data na qual a Câmara já estava em recesso parlamentar e, por conta disso, foi lido na sessão desta semana.
Abreu revelou ter entrado em contato com o vice-presidente da Rontan, pelo qual foi convidado a conhecer a empresa e o trabalho desenvolvido por ela. A visita aconteceu na quinta-feira da semana passada, 1º.
“Fui à Rontan e verifiquei tudo o que a empresa está fazendo. Eles me mostraram a recuperação judicial, a projeção de faturamento e uma lista de funcionários que saíram para serem contratados pela Eurolaf”, expôs.
“Não queremos que a Rontan vá embora da cidade, assim como não somos contra a vinda de nenhuma empresa. É muito importante virem, desde que venham legalmente”, completou Abreu.
O presidente da Câmara foi o autor do requerimento 1.634/19, pedindo informações sobre quais empresas, em 2019, realizaram pleitos de solicitações de incentivos fiscais e benefícios constantes na lei “Pró-Tatuí”.
O requerimento foi abordado pelo vereador Eduardo Dade Sallum (PT). O parlamentar declarou ser “um absurdo uma empresa solicitar uma moção de repúdio contra a instalação de outra” e ainda pediu que a classe política “lave as mãos”.
“Se houver mais empresas, ótimo. Se alguém vai perder funcionários para outra empresa, que dobrem os salários”, declarou Sallum.
A reportagem de O Progresso entrou em contato com a Eurolaf. Contudo, na manhã de quarta-feira, 7, o departamento jurídico da empresa informou que a Eurolaf não se pronunciaria sobre o assunto.